Os golfinhos somos nós! (1)


Por Celso Martins.

A mídia nacional tem batido numa tecla: a licença ambiental do Estaleiro OSX pode ser negada por causa dos golfinhos. As fontes têm sido o empresário Eike Batista e seu preposto Paulo Monteiro, enfatizando ambos os estudos da CERTI visando a proteção dos golfinhos residentes na APA de Anhatomirim. O impasse é apresentado como o nó a ser desatado, o empecilho a ser removido, a grande pedra no sapato do empreendimento.

A insistência cheira a armadilha, engodo, tentativa de desviar o foco do problema e atrair “ambientalistas” que defendam os golfinhos para colocá-los contra aqueles que acreditam em quatro mil empregos.

O grande problema do Estaleiro OSX em Biguaçu/Baía Norte de Florianópolis é o dano irreversível às atividades de pesca e maricultura, sobretudo pela dragagem do canal de quase 14 quilômetros de extensão e nove metros de profundidade ao longo de quase um ano. E a posterior manutenção, no mínimo anual, do leito a ser aberto. O alerta das restrições à pesca e as ameaças à maricultura estão no EIA-RIMA do empreendimento, começando pela turbidez da água devido a dragagem do canal e podendo chegar à liberação do arsênio nas águas.

Os cerca de 2.500 pescadores existentes na Baía Norte de Florianópolis, responsáveis pela captura anual de aproximadamente 500 toneladas de peixes e camarões, vão ter suas atividades diretamente afetadas. As comunidades em que se concentram as colônias pesqueiras serão desestruturadas social e economicamente, acabando em definitivo com a qualidade de vida existente na região. Tudo isso terá reflexos profundos na atividade turística e afetará negativamente toda a cidade.

Nada disso ou muito pouco está presente no EIA do Estaleiro OSX, como podemos observar na “Nota técnica: Impactos potenciais do Estaleiro sobre a pesca artesanal”, assinada pelo oceanógrafo Rodrigo Pereira Medeiros e a bióloga Carina Catiana Foppa.

http://baiasdeflorianopolis.blogspot.com/2010/09/parecer-aponta-fragilidades-do-eia-rima.html

As falhas e omissões no referido EIA também são apontadas no

“Parecer independente” de um grupo de professores e pesquisadores brasileiros encabeçado pelo doutorando Leopoldo Cavaleri Gerhardinger, oceanógrafo da ECOMAR (Associação de Estudos Costeiros e Marinhos.

http://baiasdeflorianopolis.blogspot.com/2010/09/cientistas-apontam-falhas-e-omissoes-no.html

É isso que nos coloca em oposição ao Estaleiro OSX, defendido com unhas e dentes por esquerda, centro e direita, do PT ao DEM, do PP ao PMDB, PC do B e que tais, interessados no financiamento dos gastos com a campanha e temerosos de perder votos. A única exceção é o professor Valmir Martins, candidato do PSOL: ele bem que tentou introduzir o tema na campanha eleitoral, mas foi recebido pelo silêncio cúmplice dos demais candidatos ao Governo do Estado.

Os golfinhos que mais nos preocupam não são os cetáceos. Estamos sensibilizados com os golfinhos que caminham sobre duas pernas e possuem uma cabeça sobre o tronco. E que sonham, pescam, se inspiram, navegam, mergulham, elaboram canções, produzem ostras e mariscos, sentem o cheiro do mar e não querem ver tudo isso acabado, pois os golfinhos somos nós!

Os botos da discórdia. “Em Santa Catarina, os golfinhos viraram atração turística por, entre outras coisas, atrapalhar os planos do bilionário carioca Eike Batista”. Por Júlia Gouveia.

Os botos contra Eike Batista. “Um grupo de golfinhos pode impedir a construção de um estaleiro de R$ 3 bilhões em Santa Catarina. Dá para conciliar desenvolvimento e preservação?” Por Marina Franco.

Ele não contava com os golfinhos. “O empresário Eike Batista descobriu que é (bem) mais difícil convencer ambientalistas a aprovar a construção de seu estaleiro do que atrair investidores para o projeto”. Por Roberta Paduan, editora da revista Exame.

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