Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Os marginais da música. Assim são conhecidos/as esses e essas que trabalham, compõe, escrevem a partir de uma viela que, como o próprio nome aponta, não faz parte da indústria milionária da cultura de mercado. Ser artista sem obedecer essa lógica é bem difícil. Sempre foi na verdade, mas acontece que com os cortes que o governo federal fez na área da cultura e que atingiu diversas realidades, ser artista tornou-se uma resistência sem tamanho.
Sem fazer uma linha muito comprida, no início de dezembro de 2019 tivemos um anúncio via Twitter do presidente da república, Jair Bolsonaro, falando na exclusão de artistas e outros profissionais do cadastro nacional do Microempreendedor Individual (MEI). Importante dizer que pelo MEI é que os artistas (que já não são muito valorizados e acabam recebendo menos), ficam isentos dos tributos federais por exemplo, além de outros benefícios que tornam o exercício do trabalho um pouco menos injusto. Em dezembro aconteceram várias manifestações contra esse tema e artistas brasileiros se posicionaram diante dessa medida do governo que acabou (como de costume), voltando atrás, no entanto, ainda não se divulgou a agenda de distribuição dos recursos.
Desde fevereiro quando no Brasil passou a se dar mais atenção a uma questão de saúde pública mundial, do novo coronavírus, o covid-19 (às vezes confundo e escrevo convid-17, um amigo na verdade vive falando e eu absorvi o termo), vários trabalhadores e trabalhadoras informais ficaram sem ter como trabalhar. A Organização Mundial da Saúde estabeleceu algumas normas a serem seguidas na prevenção e combate a essa epidemia, para que se evite a contaminação acelerada, do contrário, não teríamos capacidade médica e de infraestrutura para tratar tanta gente ao mesmo tempo.
Depois de um anúncio falso do presidente nesta semana, onde mencionou ter sancionado o decreto autorizando o pagamento – que varia de R$ 600 a R$ 1,2 mil – a trabalhadores informais e autônomos, nova pressão popular foi feita para que ele sancionasse de vez o auxílio para estas pessoas que estão no aguardo do recebimento deste valor que, na prática, não é “esmola” e nem “ajuda do governo”, mas sim, é um “direito”, afinal de contas, quando se completaram as primeiras duas semanas de isolamento, empresários do Brasil todo especialmente em Santa Catarina, passaram a pressionar e ameaçar governadores para que liberassem as atividades, ao mesmo tempo em que o mundo pede isolamento e cuidado, pois não se trata de uma “gripezinha” como disse o presidente em seu discurso. É aí que, novamente, o capitalismo mostra sua face. Quem produz as riquezas? Quem os empresários querem na linha de frente do trabalho?
Mas vamos lá, tudo isso para dizer que os tempos estão muito difíceis e os artistas, assim como outros/as trabalhadores/as precisam da sua solidariedade. E hoje especialmente, deixo um texto do trovador Pedro Pinheiro, de São Miguel do Oeste/SC. Em seu trabalho, estão as canções de um Sul do Brasil que percorrem uma linha distanciada do ufanismo e revisita os povos indígenas, os escravos, caboclos, negros/as, os/as que construíram desde estradas e sofreram com o genocídio, como se conhece pela guerra do Contestado.
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“Olá queridas amigas e queridos amigos!
Estamos vivendo alguns dias de incertezas e, enquanto a quarentena nos obriga a ficar em casa, percebemos a grande importância das artes e dos artistas, que têm feito nossa vida um pouco mais fácil, seja com suas canções, filmes, poemas, lives, e por aí vai.
Com o tempo passando e o cancelamento de aulas e cantorias, ficamos sem trabalho. É nesse sentido que viemos até vocês oferecer um pouco no nosso canto e arte. Lançamos em 2019 nosso primeiro disco, que nos levou a percorrer boa parte do estado e que agora estamos dispondo à todas e todos vocês. São 12 canções, em sua maioria autorais, gravadas ao som de violões e voz, que expressão sentimentos, ideias e estudos da vida do ser humano.
Estamos entregando o trabalho no valor de R$ 20,00 e sua contribuição além de incentivar o contínuo trabalho deste que vos escreve, também contribui para a manutenção da vida e das necessidades bem básicas que dela fazem parte.
Seguimos! Se desejar contribuir, estaremos fazendo a entrega do mesmo.
Abraços
Pedro Pinheiro“.
Contato: (49) 991070734.
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Claudia Weinman é jornalista, vice-presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
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