Os 9 rascunhos de Tom Jobim, que faria 90 anos hoje

Por Tatiana Dias. 

O maestro, compositor e pianista Tom Jobim completaria 90 anos nesta quarta-feira (25). Nascido em 1927 no Rio de Janeiro, Jobim é um dos maiores nomes da música popular brasileira – ele foi um dos responsáveis pela criação da bossa nova e é compositor de algumas das maiores canções brasileiras de todos os tempos – “Garota de Ipanema” é apenas o exemplo mais óbvio. Jobim morreu em 8 de dezembro de 1994, aos 67 anos.

“A música de Tom Jobim continua ocupando certo espaço no imaginário simbólico do Brasil”, escreveu o pesquisador Fábio Guilherme Poletto, que investigou a influência do maestro na música brasileira, em sua tese de doutorado em História pela USP.

A relevância de Jobim, no entanto, ultrapassa o domínio musical. Hoje no Brasil há pelo menos 115 ruas, praças e avenidas que levam o nome no músico. “Tom Jobim” é, também, o nome do aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. “Tom Jobim transformou-se em um monumento da cultura brasileira”, escreveu Poletto.

Ao longo da segunda metade do século 20, a recepção da obra de Tom Jobim pelo público e pela crítica passou por diversas fases. Nesse mesmo período, também sofreu transformações. Jobim consolidou parte de sua carreira fora do Brasil, viveu um rompimento com a MPB na época da ditadura militar e voltou ao país se consolidando como um dos principais nomes da música nacional – e um dos poucos que combinava, em sua vida e obra, a erudição com elementos extremamente populares.

A partir de 9 rascunhos do compositor, o Nexo apresenta o contexto em que a obra foi escrita e como ela se transformou em patrimônio cultural brasileiro.

As anotações de Jobim

CHEGA DE SAUDADE

Foto: Instituto Antonio Carlos Jobim/Reprodução

'Chega de saudade', de 1959

 

‘CHEGA DE SAUDADE’, DE 1959

A canção, composta por Tom Jobim em parceria com Vinícius de Moraes, dá nome ao disco que é considerado o fundador da bossa nova: “Chega de saudade”, de João Gilberto, lançado em 1959. Foi essa obra que apresentou os componentes estéticos e temáticos do estilo musical.

‘SAMBA DO AVIÃO’

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'Samba do avião', de 1962

‘SAMBA DO AVIÃO’, DE 1962

O caráter contemplativo da canção – com letra e música de Jobim  – tem uma explicação: o compositor  costumava caminhar de Ipanema ao aeroporto Santos Dumont, no Rio, segundo sua viúva, Helena Jobim. A canção foi gravada pela primeira vez pelo grupo Os Cariocas, em 1962.

‘GAROTA DE IPANEMA’

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'Garota de Ipanema', de 1962

‘GAROTA DE IPANEMA’, DE 1962

A canção, composta originalmente em português, levou Jobim à fama nos EUA. Regravada no clássico disco Getz e Gilberto, com o saxofonista americano Stan Getz e João Gilberto, a música foi um estrondoso sucesso entre os americanos – algo incomum para uma  obra de jazz e, mais importante, estrangeira. O sucesso abriu as portas para Jobim e outros bossanovistas brasileiros começarem a carreira fora do país.

‘DESAFINADO’

FOTO: REPRODUÇÃO/INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM

'Desafinado', de 1959

‘DESAFINADO’, DE 1959

A canção, composta em parceria com Newton Mendonça e também popularizada por João Gilberto, deu nome ao primeiro disco de Jobim lançado nos EUA: “The Composer of Desafinado Plays”, lançado em 1963 pelo clássico selo Verve. O disco consolidou a carreira de Jobim e canções como “Garota de Ipanema”, “Insensatez”, “Água de beber” e a própria “Desafinado” como standards de música instrumental.

‘CORCOVADO’

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'Corcovado', de 1959

‘CORCOVADO’, DE 1959

Em 1967, o convite de Frank Sinatra para a gravação de um disco deu a dimensão do imenso sucesso comercial e de crítica que a obra de Jobim havia alcançado nos EUA. O disco “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim” foi o ápice da internacionalização do maestro brasileiro. Em território nacional, no entanto, o cenário era outro.

SABIÁ

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'Sabiá' foi apresentada no III FIC em 1968

‘SABIÁ’ FOI APRESENTADA NO III FIC EM 1968

“Sabiá”, composta com Chico Buarque é a música que simbolizou a ruptura na música popular brasileira nos anos 1960. Em um contexto de repressão política, a música brasileira se tornou, aos poucos, um campo de resistência e oposição ao regime. O movimento tropicalista sintetizava, em forma e conteúdo, a ruptura com antigos padrões e a ousadia frente ao regime militar. A bossa nova, por outro lado, passou a ser vista como conservadora e alienada. “Sabiá” foi a canção escolhida por Jobim para representá-lo no 3º Festival Internacional da Canção, em 1968. Embora tenha uma letra que tenha referências ao exílio (“vou voltar/sei que ainda vou voltar”), a canção foi recepcionada de forma extremamente negativa pelo público, que preferiu o engajamento explícito de “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. “Sabiá”, no entanto, ganhou – e a vaia, histórica, se tornou o símbolo dessa divisão.

‘ÁGUAS DE MARÇO’

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'Águas de março', de 1972

‘ÁGUAS DE MARÇO’, DE 1972

Em 1972, Jobim lançou “Águas de março”. A música é vista pelo historiador Poletto como como uma redenção de Jobim com o público brasileiro. A canção foi um enorme sucesso e consolidou o compositor como um dos maiores nomes da música brasileira.

‘MATITA PERÊ’

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'Matita perê', lançada em 1972

‘MATITA PERÊ’, LANÇADA EM 1972

“Matita perê”, lançada em disco homônimo em 1973, foi  sucesso absoluto de crítica e público. Na sonoridade e na letra, ela faz referência ao sertão e elementos brasileiros. O disco, bastante experimental e ousado, foi um marco na carreira e ajudou a consolidar Jobim no panteão da música brasileira

‘O BOTO’

FOTO: INSTITUTO ANTONIO CARLOS JOBIM/REPRODUÇÃO

'O boto', de 1976

‘O BOTO’, DE 1976

“O boto” é a primeira faixa do disco “Urubu”. O disco, gravado nos EUA, mantém a estética e a temática de “Matita perê”, incorporando elementos eruditos à canção popular, com referências bastante brasileiras. “O boto”, por exemplo, começa com um berimbau. Em “Matita perê” e “Urubu”, o compositor buscou reforçar  sua identidade como músico e letrista – fazendo, inclusive, referências literárias a Guimarães Rosa.

Fonte: Nexo. 

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