Os 10 melhores filmes de Woody Allen (9)

No mês em que se comemora o 80.º aniversário do cineasta, selecionámos dez títulos incontornáveis da sua filmografia. Uma carreira ímpar no cinema moderno, que já soma mais de quatro décadas.

Woody Allen já fez de tudo: entre dramas e comédias, mostrou ser um especialista nato em filmar as relações humanas. Ao longo das décadas, conseguiu afirmar-se como um dos nomes mais relevantes e originais do cinema contemporâneo, criando um estilo próprio de contar histórias e de filmar as emoções e as ambiguidades da vida quotidiana.

Nesta seleção encontram-se alguns dos filmes mais emblemáticos de Woody Allen. Outros títulos icónicos ficaram de fora desta dezena – aqui, os critérios fundamentais da escolha não passaram pela popularidade, mas sim por uma certa originalidade e consistência que encontramos, apenas, numa porção de títulos de Woody Allen. Por outras palavras, podemos dizer que esta seleção contém histórias que resistem a mais do que um visionamento, e que são a prova dos múltiplos talentos do cineasta.

9. – As Faces de Harry (1997)
Um dos filmes mais esquecidos de Woody Allen, mas que é também um dos mais originais e… provocadores, de toda a sua carreira. Tal como em Balas sobre a Broadway, é aqui abordada a relação entre o artista e a sua obra, mas com outra perspetiva, mais fantasista e filosófica. Allen é Harry Block (apelido que homenageia o protagonista de O Sétimo Selo, um dos filmes preferidos do realizador), um escritor perseguido pelas suas personagens e pelas referências reais que o ajudaram a construí-las.
As Faces de Harry é uma sátira intrincada à mente criativa, aos exorcismos que um autor remete nas suas obras, e à forma como é difícil de escapar desses “filhos de papel” após terem sido criados. É um dos filmes mais imprevisíveis de Woody Allen porque, além de ser mais negro e adulto do que o habitual, embarca por caminhos surpreendentes e extremamente divertidos, numa narrativa em que o real e a imaginação se confundem com grande eficácia.
Talvez seja o filme que melhor exemplifique o que Woody Allen pensa sobre o seu próprio processo criativo e sobre as histórias dos seus filmes. As personagens são o espelho do autor, só que “um bocadinho disfarçadas”, tal como Block refere, em certo ponto da trama – e não é isso que Allen tem feito ao longo das décadas, das mais variadas maneiras? Vale a pena ainda mencionar a quantidade de cameos que se sucedem ao longo deste filme, com várias estrelas famosíssimas de Hollywood que representam personagens e situações imaginadas por Block, e que em muito se assemelham à realidade da vida do protagonista, com uma ou outra exceção – uma das sequências mais divertidas é a do realizador “desfocado”, interpretado por Robin Williams, uma pequena brincadeira visual que resulta num sketch hilariante.

10. – Balas sobre a Broadway (1994)
Tendo como pano de fundo a Nova Iorque dos anos 20, Woody Allen arquitectou uma comédia rocambolesca, em que a máfia e os bastidores do teatro são também introduzidos. Com algo de humor negro e, também, momentos dramáticos singulares, Balas sobre a Broadway segue a história do dramaturgo David (John Cusack), que fará tudo para que a sua nova peça seja um êxito na Broadway (contrariando o triste destino de obras anteriores). Esse sucesso só será possível graças ao seu novo mecenas que, por coincidência, é também um dos grandes líderes da máfia nova-iorquina, que obriga David a dar um dos papéis à sua namorada (Jennifer Tilly). Ela acha que tem um “enorme” talento para revelar – o protagonista cedo perceberá a verdade -, e para participar na peça, terá de ser acompanhada pelo guarda-costas Cheech (Chazz Palminteri). Mais tarde, numa inteligente reviravolta narrativa, Cheech ajudará David a melhorar a peça, tornando-se o co-autor da mesma.
John Cusack encarna a persona alleniana, num filme repleto de figuras com características semelhantes: são personagens neuróticas, arrogantes, inseguras e, em muitas ocasiões, completamente imprevisíveis. Balas Sobre a Broadway segue o percurso moral mais convencional de muitos filmes de Woody Allen (a infidelidade, as discussões filosóficas, os pormenores mais subtis das relações humanas), mas tem muito mais do que isso. Para além de uma história construída de forma exemplar (com alguns dos melhores diálogos escritos por Allen), que satiriza alguns estereótipos da sociedade americana da época (e que inverte a função de outros), o filme conta com brilhantes prestações de um magnífico elenco, e também, com um olhar único, e melancólico, sobre a relação entre o artista e a sua criação.

Fonte: Máquina de Escrever.

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