Mais de 60 pessoas de 35 organizações originárias de 15 países se reuniram entre os dias 29 e 31 de outubro no Seminário Internacional “Alimento, Água e Energia não são mercadorias”, em Bilbao, no País Vasco, estado espanhol.
A atividade, organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e pela Mundubat, buscou reunir diversos movimentos e organizações que defendem os direitos dos povos atingidos pelo capitalismo atual, materializado nas grandes empresas transnacionais.
No dia 30, foi realizado um Tribunal de Rua que denunciou diversas violações de direitos humanos às comunidades atingidas pelas obras energéticas da Iberdrola, seguida de um escracho em frente à sede da empresa.
Mais conhecida como Neoenergia ou Norte Energia no Brasil, a Iberdrola é uma grande corporação do setor elétrico, e atualmente participa dos consórcios da Usina Hidrelétrica de Baixo Iguaçu, localizada no Paraná, e da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, localizada no Pará.
Ao final do encontro, as organizações redigiram uma carta que servirá de base para as próximas ações, na qual é ressaltada a urgência de se criar novas formas de solidariedade internacional como forma de resistência a esse modelo.
Confira a carta:
Carta de Bilbao: Alimento, Água e Energia não são mercadorias!
Nós, organizações de 15 países reunidos em Bilbao entre os dias 29 a 31 de Outubro afirmamos:
Vivemos em uma sociedade capitalista, patriarcal, com grande poder financeiro, que tem se enriquecido a partir da exploração dos recursos naturais e dos povos, ameaçando a vida da humanidade. Mais do que uma crise esta é uma fase de reorganização do capitalismo, onde a natureza e a vida são vistos como mercadorias com que as grandes empresas podem especular com total impunidade. O resultado é o avanço da acumulação de riqueza por algumas empresas transnacionais, tais como, associadas a mineração, energia, água e alimentos; em que leva à imposição da violação da soberania e os direitos dos povos.
Nenhuma região do mundo está livre da ação do capitalismo que atua através de transnacionais e mercados financeiros em todo o mundo, tanto no hemisfério Sul como no Norte.
Esse modelo levou a um retrocesso nos direitos sociais e políticos conquistado por lutas populares históricas, atentando a democracia e retomando práticas como o racismo e o militarismo.
As iniciativas de resistência e rebelião são semeadas de Sul para Norte. Muitos são os povos que se organizam para enfrentar este sistema de exploração e defender seus territórios, embora as transnacionais se impõem brutalmente através de métodos repressivos praticados com impunidade e com o consentimento dos estados, governos e organismos internacionais em todas as partes do mundo.
Nossa total solidariedade aos companheiros mortos pela práticas predatórias do capital em todo o mundo. Em particular, queremos homenagear o companheiro Carlão e seis companheiros mineiros de Leon, todos mortos esta semana devido as precárias condições de trabalho da classe operária, e também homenagear os defensores dos direitos humanos assassinados durante 2013 na América Latina: Noah Vasquez, Veracruz, México, Nelson Giraldo, da Colômbia e os jovens de Ituango Coban, na Guatemala.
Afirmações Os recursos naturais não são commodities. Rechaçamos qualquer forma de mercantilização e as especulações dos recursos naturais.
Não podemos deixar impune a ação do capital. A luta deve se mover em todas as áreas e em todos os cantos do mundo. É necessário consolidar as novas formas de solidariedade internacional entre os excluídos deste sistema em uma luta unitária. Nossa tarefa é organizar as trabalhadoras e os trabalhadores, os atingidos e atingidas pelos projetos impostos, bem como consumidores do campo e da cidade em todos os níveis: local, nacional e internacional.
Alimento, água e energia não são mercadorias !
Bilbao , 31 de outubro de 2013.
Fonte: MAB.