OpenDemocracy: Documentos vazados mostram que Bolsonaro tem planos devastadores para a Amazônia

Foto: Pixabay

Por Manuella Libardi.

Documentos vazados mostram que o governo de Jair Bolsonaro pretende usar o discurso de ódio do presidente brasileiro para isolar as minorias que vivem na região amazônica. Slides de PowerPoint, que o Democracia Aberta teve acesso, também revelam planos para implementar projetos predatórios que poderiam ter um impacto ambiental devastador.
O governo Bolsonaro tem como uma de suas prioridades habitar a região amazônica para prevenir a realização de projetos multilaterais de proteção à floresta, especificamente o projeto denominado “Triplo A”.

“Integrar a Calha Norte do rio Amazonas ao restante do território nacional, para se contrapor às pressões internacionais pela implantação do projeto denominado Triplo A. Para isso, projetar a construção da hidrelétrica do rio Trombetas e da ponte de Óbidos sobre o rio Amazonas, bem como a implementação da rodovia BR 163 até a fronteira do Suriname”, diz um slide da apresentação.

ENTRE AS TÁTICAS CITADAS NO DOCUMENTO ESTÁ A DE REDEFINIR OS PARADIGMAS DO INDIGENISMO, QUILOMBOLISMO E AMBIENTALISMO ATRAVÉS DAS LENTES DO LIBERALISMO E CONSERVADORISMO

Um dos slides da apresentação. | democraciaAbierta

A reunião aconteceu em fevereiro deste ano quando os ministros Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) foram a Tiriós (PA) para discutir com líderes locais a construção de uma ponte sobre o Rio Amazonas na cidade de Óbidos, uma hidrelétrica em Oriximiná e a extensão da BR-163 até a fronteira do Suriname.

Durante a reunião, os ministros expuseram uma apresentação PowerPoint detalhando as obras anunciadas pelo governo Bolsonaro para a região que não deixam lugar a interpretações. Na projeção – que foi vazada ao democraciaAbierta – fica claro que a habitação da região amazônica é importante para que projetos de preservação não possam ser desenvolvidos.

O slide é claro. A estratégia, antes de começar a depredação, vai acontecer através do discurso. O discurso de ódio de Bolsonaro já está dando sinais de que o plano está funcionando. A Amazônia está em chamas. Está em chamas faz três semanas e nem mesmo quem mora no Brasil sabia. Graças aos esforços de comunidades locais com o auxílio das redes sociais, a realidade está finalmente viralizando.

A reação dos internautas não é sensacionalismo. O Brasil teve 72 mil focos de incêndio só neste ano, metade dos quais acontecem na Amazônia. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que seus dados de satélite mostraram um aumento de 84% em relação ao mesmo período de 2018.

Atacar organização não governamentais faz parte da estratégia do governo Bolsonaro para a Amazônia. Segundo mostra outro slide da apresentação, o governo afirma que existe atualmente uma campanha globalista que “relativiza a Soberania Nacional na Bacia Amazônica”, usando uma combinação de pressão internacional assim como “opressão psicológica” tanto externa como interna que usa como armas ONGs ambientalistas e indigenistas, além da mídia, para fazer pressões diplomáticas e econômicas. Essa campanha mobiliza minorias indígenas e quilombolas para agirem com o apoio de instituições públicas a nível federal, estadual e municipal. O resultado dessa campanha restringe “a liberdade de ação do governo”.

ESSAS SÃO, SEGUNDO O SLIDE, “AS NOVAS ESPERANÇAS PARA A PÁTRIA, BRASIL ACIMA DE TUDO!”

Então não é de surpreender que a resposta de Bolsonaro em relação aos incêndios venho em forma de ataque às ONGs. Na quarta-feira (21), Bolsonaro disse acreditar que organizações não governamentais poderiam estar por trás dos incêndios como uma tática de gerar atenção negativa para o seu governo.

Bolsonaro não citou nomes de ONGs e, quando questionado se há evidência para as alegações, disse que não há registros escritos sobre as suspeitas. Segundo o presidente, as ONGs podem estar retaliando contra os cortes de verba de seu governo. O seu governo cortou 40% dos repasses internacionais que eram destinados às organizações, ele afirmou na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre a onda de incêndios na região.

“Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, afirmou Bolsonaro.

Portanto, parte da estratégia do governo de burlar essa “campanha globalista” é depreciar a importância e a voz das minorias que vivem na região, e transforma-las em inimigos. Entre as táticas citadas no documento está a de redefinir os paradigmas do indigenismo, quilombolismo e ambientalismo através das lentes do liberalismo e conservadorismo com base nas teorias realistas. Essas são, segundo o slide, “as novas esperanças para a Pátria, Brasil Acima de Tudo!”

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