No último domingo (17), a AGU (Advocacia Geral da União) encaminhou ao STF (Supremo Tribunal Federal) documentos que revelam que o governo Bolsonaro soube com antecedência do iminente colapso no sistema de saúde em Manaus (AM) e não agiu com a devida celeridade para evitar a grave crise que levou pacientes à morte nos últimos dias.
O próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu em entrevista nesta segunda-feira (18) que foi avisado da falta de oxigênio no estado, no dia 8 de janeiro, pela empresa fornecedora do gás White Martins, que chegou a sugerir o nome de uma segunda fornecedora.
Contudo, conforme demonstra o documento obtido pela Agência Pública, a crise em Manaus já era de conhecimento do Ministério da Saúde desde a última semana de dezembro de 2020.
Já nos dias 3 e 4 de janeiro, reuniões do secretariado trataram dessa possibilidade de colapso e fizeram um diagnóstico que previa o colapso do sistema em 10 dias, devido à falta de medicamentos, equipamentos, entre outros fatores.
Nos dias 11, 12 e 13, Pazuello esteve em Manaus. No dia 14, a crise explodiu com pacientes de Covid-19 morrendo por asfixia pela falta de oxigênio.
“Tratamento precoce”
Entretanto, enquanto já faltavam leitos e equipamento na capital amazonense, uma das principais atividades da comitiva do ministro foi fazer uma “ronda” nas Unidades Básicas de Saúde para difundir o “tratamento precoce” a pacientes com Covid-19.
Segundo ofício enviado à Prefeitura de Manaus, no dia 11, divulgado pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, o Ministério da Saúde pediu autorização para visitar as UBSs. “Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação”, diz trecho do ofício.
Em sua nota informativa 17/2020, que contém “orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”, o governo federal sugere um combinado de cloroquina ou hidroxicloroquina com azitromicina para pacientes com sintomas leves, moderados e graves.
As medicações que têm sido defendidas pelo governo federal, como cloroquina e ivermectina, não têm eficácia comprovada no tratamento do coronavírus. Por outro lado, cilindros de oxigênio quando começaram a ser enviados para Manaus eram em quantidades muito inferiores à demanda.
Cada vez mais acuado com a má gestão e completa falta de ação no combate à pandemia no país, na entrevista coletiva desta segunda, Pazuello mostrou-se irritado com as perguntas de jornalistas, tentando se justificar. Chegou ao ponto de mentir e dizer que ele ou o governo nunca indicaram a cloroquina no tratamento da Covid.
Ainda no documento enviado ao STF, a AGU informou que diante da escassez de oxigênio, o governo brasileiro buscou a ajuda de três outros países, coincidentemente governados por políticos de direita e extrema direita: Estados Unidos, Israel e Chile. Porém, não obteve sucesso. Manaus acabou tendo de contar com a ajuda da Venezuela que enviou um carregamento com 107 mil metros cúbicos.
Pazuello tem 15 dias para explicar à PGR (Procuradoria-Geral da República) por que houve omissão diante da constatação prévia do problema.
Enquanto isso, os relatos de mortes por asfixia em municípios no Amazonas e também no Pará continuam. Nesta terça, a prefeitura da cidade de Coari (AM) informou a morte de 7 pessoas por falta de oxigênio.
Em defesa da vida, é preciso botar para fora Bolsonaro, Mourão, Pazuello e toda a corja desta governo de ultradireita!
Leia mais:
A falta de oxigênio revela, mais uma vez, as faces perversas de um governo. Por Roberto Liebgott.