Oligarquias beneficiadas pela indústria da seca tentam capitalizar transposição

 

Por Eduardo Maretti.

Deputados, senadores e líderes políticos nordestinos que estão se “apropriando” das obras da transposição do Rio São Francisco protagonizam uma ironia histórica. “Eles representam as oligarquias que tradicionalmente reproduziram sua dominação política no Nordeste através da indústria da seca, das frentes de trabalho, e trabalharam sempre com a ideia de combater a seca, e não resolver a seca”, observa o  deputado federal Afonso Florence (PT-BA), ao comentar a declaração de sexta-feira (10) do presidente Michel Temer sobre a “paternidade” da transposição das águas do Velho Chico.

“Não quero a paternidade dessa obra. Ninguém pode tê-la. Ela é do povo brasileiro e nordestino, porque foram vocês que pagaram os impostos que nos permitiram fazer essa obra”, disse Temer em Campina Grande (PB). A peregrinação de políticos pelo Nordeste em torno das inaugurações é intensa, com divulgação nas redes sociais. Filho do ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima, o senador Cássio Cunha Lima (do PSDB, também ex-governador), por exemplo, é um dos que mais divulgam a transposição. Ele postou no dia 6, no Twitter: “Sábado será inaugurado Eixo Leste da transposição. Louvado seja Deus”.

Para a historiadora Maria Victoria Benevides, trata-se, por parte do presidente, de uma  “apropriação totalmente falsa, porque não há nada do Temer nessa obra”. Segundo ela, o presidente “mais uma vez cometeu um deslize de oratória”. “É até ridículo que ele fale em paternidade de obra. Ele sempre disse que no governo anterior ele mesmo se sentia um elemento decorativo. Então ele não foi nem pai nem padrasto, e agora querer se aproveitar da obra com intuitos de propaganda pessoal, além de politicamente indefensável, é realmente ridículo. O mesmo vale para o paulista Alckmin e quaisquer outros que apareçam por lá”, diz.

Há duas semanas, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), visitou o Reservatório de Copiti, em Pernambuco, onde se realizam obras da transposição. “Alckmin não investiu nos sistemas da Sabesp e vai inaugurar a transposição do São Francisco”, ironiza Afonso Florence.

De acordo a professora, é preciso observar dois aspectos ao analisar a questão. A primeira: “me parece razoável dizer que não existe paternidade para obras de grande impacto público nas quais se investiu grande volume de recursos também públicos, obras que normalmente atravessam governos”. A segunda: “O que não é admissível e é bastante detestável na política é a apropriação em função de interesses eleitorais. Quando se fazem placas comemorativas geralmente colocam o nome daquele que estava na direção da instituição na época da inauguração e que às vezes não fez nada”.

Florence mencionou as gafes de Temer em discurso do Dia Internacional da Mulher. “Toda vez que Michel Temer entra na pauta das obras e programas do governo Lula e Dilma, ou temas sociais, ele se atrapalha e diz besteira”, diz. No dia 8, o presidente discursou: “Com a queda da inflação, dos juros, significa que também, além de cuidar dos afazeres domésticos, (a mulher) terá um caminho cada vez mais longo para o emprego”.

“As famílias, as comunidades e cidades beneficiadas com a transposição e o povo pobre do Nordeste sabem que foi o governo Lula que iniciou o projeto, com Dilma ministra da Casa Civil, e (o ex-ministro e governador da Bahia) Jaques Wagner foi na região dialogar com os movimentos sociais. Agora, a obra fica pronta e ele (Temer) quer capitalizar”, afirma o deputado.

Fonte: RBA

Imagem tomada de: UOL Notícias

 

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