“- Olha o que está acontecendo Naná!” Por Viegas Fernandes da Costa

Por Viegas Fernandes da Costa.

Queria ter escrito antes, Naná, mas a semana foi difícil. Não sei se conseguiste acompanhar os acontecimentos do último domingo cá no Brasil, mas prenderam Nhonhô. Tenho notícias que ele está numa cela da Papuda, com outros tantos. A camiseta amarela da CBF substituída pelo uniforme branco dos presidiários. A última imagem que temos dele é da sua bunda, Nhonhô de cócoras sobre uma bancada fazendo coco sobre o tapete do palácio do Supremo Tribunal Federal. Logo Nhonhô, tão pudico e que sempre me criticou por praticar o naturismo! Me diz, Naná, que tipo de pessoa consegue fazer coco no meio de uma multidão e com a bunda arreganhada para todo Brasil?

Primo Dedé já disse que não move uma palha, falta de aviso não foi. A polícia recolheu o telefone celular de Nhonhô e eu fico aqui imaginando a crise de abstinência, não só dele, mas de todos aqueles terroristas viciados em fake news, sem Whatsapp nem Telegram para preencher o vazio existencial das suas vidas. Mas é isso, Naná, não adianta, Nhonhô literalmente fez cagada e agora o caldo entornou, claro, para o lado mais fraco da corda.

Ouvi dizer que no acampamento dos terroristas montado na sombra do quartel militar em Brasília tinha até esposa de general, mas a polícia do Exército teria dado um jeito de tirar os peixes graúdos das barracas na calada da madrugada, deixando o cardume de sardinhas para pagar o pato. Não duvido. Quem prende esposa de general neste país que esfaqueia quadro de Di Cavalcanti? Porque quase ia esquecendo de te contar, Naná, mas a turba de vândalos não poupou nem as obras de arte que são o patrimônio cultural da nossa nação.

Logo me lembrei daquela exposição organizada em Munique pelo Goebbels em 1937, de “arte degenerada”, como chamaram os nazistas. Se os terroristas tivessem conseguido derrubar o governo nas invasões vândalas do domingo, não tardaria para vermos nossos Di Cavalcanti, Adriana Varejão, Victor Brecheret e outros tantos representantes daquilo que produzimos de mais instigante e moderno nas nossas artes expostos à pilhagem e ao escárnio da cafonagem ignara e fascista desta gente infeliz e cheia de ódio que se fantasia de patriota.

Aliás, Naná, lembra que te falei da camiseta da seleção brasileira de futebol na última carta? Pois é, dizem que os cartolas vão discutir com a Nike sobre o futuro do uniforme. Acho necessário mudar, já te disse. Não mudamos antes? Mudamos! Nosso uniforme era branco até a derrota para o Uruguai na copa de 1950. Se uma simples derrota em campo nos levou à decisão tão drástica, como não mudar agora depois que a camiseta da CBF virou farda de terrorista? Mas faço uma ressalva Naná, na carta anterior aventei que poderia ser a camiseta azul, mas no dia da invasão Nhonhô resolveu trocar a amarelinha pela azulzinha para cagar no STF. Que contraste, Naná, que contraste a camiseta azul com a bunda branca e pornográfica de Nhonhô! Escatologia de fazer salivar qualquer adepto da coprofilia. Quero não! Amarela ou azul, deixo de torcer! Mas o que me deixou com a pulga atrás da orelha mesmo foi esse papo de consultar a Nike. A Nike? A camiseta não é nossa? Não é do povo brasileiro?

Eu sei, Naná, eu sei. A gente precisa largar mão de ser tão bobo.
Eu queria te contar outras coisas, da lagoa, dos planejamentos para a próxima semana, mas o almoço já tá quase pronto e preciso resolver minha vida agora. Mas logo te escrevo de novo. E assim que puderes, manda notícia. Tenho curiosidade de saber como é viver uma vida tranquila.

Teu amigo,
Viegas Fernandes da Costa.

Desterro, 15 de janeiro de 2023.

Viegas Fernandes da Costa é docente e escritor.

 

 

 

 

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