Oficina sobre Favela: Uma oportunidade para os ‘diferentes’ encontrarem-se

Por claudia Weinman, para Desacato. Info.

Favela. Periferia ou Comunidade Profética. O termo produziu contradição e diálogo, durante a oficina sobre Periferia, realizada pelo coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR), junto com a Educadora Sirlei Gaspareto, no 12º Encontro Estadual de CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), neste final de semana, em Chapecó-SC.

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Oficina sobre “Periferia”

Na comunidade São Pedro, de Chapecó, formada há mais de 30 anos, segundo os moradores após um despejo feito pela Família Bertaso, possuidora de bens e propriedades, os moradores foram ‘jogados’ para a periferia da cidade, local, de onde surgiu uma nova forma de organização da vida. “As irmãs Franciscanas souberam e vieram ajudar as pessoas a construir do jeito que dava as casas. Tinha pessoas doentes e elas ajudavam a cuidar”, contou a moradora Metilde Catarina da Silva, 66 anos, aposentada.

Para ela e para a vizinha Joana Fernandes, 72 anos, aposentada, uma oficina sobre Periferia, retratando aspectos da constituição desse espaço é importante para esclarecer segundo elas, que na comunidade, às pessoas organizam-se para celebrar, para fazer música e dialogar, enfrentando as dificuldades e problemas sociais que existem. “Eu gosto do lugar onde eu vivo, criei meus nove filhos aqui, nenhum virou bandido. Nunca deixei de falar que eu moro na comunidade de São Pedro, nunca tive vergonha daqui”, ressaltou Joana.

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A Cultura e a Comunidade São Pedro- Chapecó-SC.

“É importante conhecer outras realidades, outras culturas”

A Comunidade São Pedro de Chapecó, acolheu pessoas de diferentes estados do Brasil. Foi oferecido abrigo, comida e especialmente, a oportunidade de os diferentes encontrarem-se. “Aqui tem cultura diferente, a linguagem muda e esse encontro para mim é um aprendizado que vou levar”, disse Benedito Botelho de Souza, 52 anos, natural do Pará, mas que atualmente vive em São José, Florianópolis, realizando um trabalho de organização junto às Juventudes.

Benedito disse que na regional Norte II, onde ele realizou um trabalho junto aos povos indígenas e ribeirinhos, compreendendo regiões do Pará e do Amapá, a realidade periférica também é de muita falta de políticas públicas, infraestrutura, saneamento, atenção às comunidades. “Esses povos levam para a cidade, nas feiras, muitos alimentos para o povo consumir e são tratados com discriminação. Em São José, Florianópolis, também percebo essa realidade”, disse ele.

Benedito não entende e não aceita a existência de tamanha desigualdade social no Brasil. “Lá no Pará, as crianças vão pra escola de chinelinho, oferecem o que tem de melhor para você. Se você for visitar eles, é capaz de dormirem no chão pra te dar lugar. Por isso gosto de participar desses encontros, falar dessas realidades e levar algo de bom para fazer meu trabalho agora em Florianópolis, partilhando essas experiências”, destacou.

Favela- Da planta ao estereótipo

No domingo, dia 22 de Maio, os participantes da Oficina sobre Periferia, apresentaram-se no grande grupo formado por lideranças de vários estados Brasileiros, em Chapecó. Mas antes dessa apresentação utilizando-se a técnica da pichação com Estêncil, os participantes da oficina dialogaram sobre os conceitos de Periferia, Favela e Comunidade Profética, de acordo com a realidade de cada pessoa.

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Participantes da Oficina apresentando aspectos como a cultura da Favela, durante o encontro das CEB’s.

Falar em “Favela” muitas vezes, gera um certo incômodo para os próprios moradores da…Favela. Isso porque, o desenvolvimento Capitalista, baseado na exploração da mais-valia, sobre os parâmetros de uma sociedade dividida em Classes e vale ressaltar, com posicionamentos preconceituosos e racistas, fez com que a palavra Favela significasse algo ruim, desagradável, negativo. No entanto, a origem da Palavra Favela, segundo os meninos da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), de São Miguel do Oeste, Pedro Pinheiro e Wesley de Souza Padilha, revela uma outra acepção.

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PJMP e PJR contribuindo com a apresentação da Oficina sobre Periferia. 

Pedro e Wesley, explicaram que o termo Favela tem origem na Guerra de Canudos. Da Planta, denominada Favela, surgia o lugar para encontros e diálogos. Sertanejos, trabalhadores\as, pobres e humilhados\as por latifundiários, liderados por Antônio Conselheiro, fazem rememorar o chamado “Morro da Favela”, no interior da Bahia, local de enfrentamento e que novamente, traz a simbologia da planta “Favela”.

O termo Favela, também passou a ser conhecido como sinônimo de pequenos agrupamentos de pessoas, que sem condições de uma vida digna, agrupavam-se nas encostas de morros e em pequenos barracos, que próximos, formavam pequenas e grandes comunidades. Pedro e Wesley explicam ainda, que o termo “Periferia” pode significar um bairro, um território afastado da cidade e não necessariamente, remete à pequenos agrupamentos de famílias sem condições de uma vida digna.

“Tenho orgulho de ser favela. Me reconheço como favela” – Disseram os jovens Paulo Fortes, Eliezer A. de Oliveira e a jovem Fabiula Fergutz. Para essa juventude que vive em áreas afastadas do centro de São Miguel do Oeste, falar o termo Favela, é fazer o resgate histórico da palavra e da resistência. Para outras pessoas, que participaram da oficina, falar o termo Favela ainda é uma dificuldade, diante de todo estereótipo criado ao longo da história, como lugar onde criam-se bandidos, local de perigo. “É importante fazer esse diálogo, perceber que precisamos avançar em nossa organização para romper com os preconceitos e a hostilidade como são tratados\as os\as moradores\as das Favelas”, finalizou Pedro.

 

 

 

 

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