Ode à mãe trabalhadora. Por Lívia Albuquerque

Imagen: Expreso Press.

Poema de Lívia Albuquerque.

A mão-de-obra à venda reduzida
Mera troca remuneratória
Sem dar qualidade à vida
Mantendo sobrevivência exploratória

É pouco, é pouco, é pouco
Lei formal já não serve nada
Mesmo após conquistada
Por meio de sangue e grito rouco

Classe média quando analisa a realidade
Com o olhar dos patrões
Mantém fidelidade
E no máximo encontra soluções
Para suas próprias convulsões

É pouco, é pouco, é nada
Remunera o trabalho doméstico!
Não faltará nada à mulher
Louça, comida, limpeza, cosmético
Pouco importa não trabalhar com o que quer

Como fica a criança que cuida da outra?
A prostituta?
A mãe do setor informal?
E a mãe da criança excluída
Do caduco sistema educacional?
Quem se beneficiaria

De um novo instrumento legal?

É pouco, é nada, é nada
Rede de apoio é apelo pessoal
Porém não pode ser política
Ou movimento estatal

Que reforma dará conta
Da realidade material
A mãe de 13 anos
A avó, de 31, no pré-natal
Cinco filhos e um neto
Pois não existe aborto legal

Mulheres não podem se reduzir a procriar
Para massa de superexplorados aumentar
É necessário humanizar
E não apenas parto para quem pode pagar

A mãe trabalhadora quer descansar
E não ser a única a se responsabilizar
Não há educação, saúde ou proteção
Responsabilidade coletiva é ilusão
Em um cenário sem revolução
Seguirá estupro, morte e exploração

À vulnerabilidade feminina
Soma-se a maior de todas
A da criança
O que já era difícil desde menina
Faz a mulher só entrar na dança

É fato, e não julgamento moral
A precariedade do ser social
Induzindo à falsa noção
De que criança é problema
E não solução

Toda noite olha o filho dormindo
E chora, no canto, baixinho
O tempo não para de escorrer
O que é que eu vou fazer?

Falam em não romantizar esse amor
Mas para o sistema de dor e horror
Que esmaga em rolo compressor
Não há questionamento de profundo teor

Toda e qualquer relação interpessoal
Submersa nas amarras do capital
Sem consciência crítica social
Já é possível prever o final

É nada, é nada, é nada
Não sobra tempo para a vida
Subdesenvolvimento de todo o ser
O que mantém a fagulha acesa
É ver o filho crescer

 

 

 

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