Obras brasileiras chegam às livrarias de todo o mundo incentivadas pelo Programa de Apoio à Tradução e à Publicação

Itamar Vieira Junior, Andréa del Fuego e Jeferson Tenório estão entre os autores que terão novas traduções lançadas no exterior graças à iniciativa da Biblioteca Nacional em parceria com MinC e MRE

Foto: Freepik

Neste mês, os franceses ganharam uma edição traduzida do livro “Canção para Ninar Menino Grande”, da escritora Conceição Evaristo (Chanson pour bercer de grands garçons, Éditions des Femmes). Também em junho, entrou em pré-venda no site da italiana Fazi Editore “L’Amore è un Fiume”, título em italiano para o best-seller “Tudo É Rio”, de Carla Madeira.

Em maio, duas obras de Ailton Krenak, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” e “A Vida Não É Útil”, chegaram às livrarias da Suécia em um só volume, sob o título Om Drömmen, om Forden (Edition Diadorim Arts).

O que há em comum entre esses lançamentos é que eles se tornaram possíveis graças ao Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), entidade integrante do Sistema MinC, que conta com a cooperação da Secretaria de Formação, Livro e Leitura (Sefli) do Ministério da Cultura (MinC) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

“O Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, da Fundação Biblioteca Nacional, é um dos mais bem-sucedidos no âmbito da internacionalização da literatura brasileira. Sua abrangência cobre os quatro cantos da Terra, como se desenhasse um projeto pós-babélico de projeção em nossos autores. O programa funciona também como uma poderosa antena do Brasil no mundo, promovendo a cultura da diversidade, da empatia e da paz”, afirma o presidente da FBN, Marco Lucchesi.

Patrimônio literário

Instituído em 1991 pela Política de Internacionalização do Livro (Decisão Executiva nº 200, de 16 de setembro de 2011), a iniciativa busca divulgar o patrimônio literário nacional mediante a concessão de apoio financeiro. O Programa recebe verbas do MRE e da FBN através da Lei Anual Orçamentária (LOA) e do Fundo Nacional de Cultura (FNC).

O objetivo é divulgar a literatura nacional no exterior mediante concessão de apoio financeiro para projetos internacionais de tradução e publicação de obras de autores brasileiros já publicadas em português no Brasil.

O secretário de Formação, Livro e Leitura do MinC, Fabiano Piúba, celebra o êxito do projeto: “Compreendemos a literatura como tradução da diversidade, e precisamos traduzir essa diversidade para que outros leitores, de outras línguas também possam ter acesso. Ficamos muito animados já com o resultado do edital lançado em 2023 e o interesse de editoras e tradutores do mundo inteiro”.

“O Programa de Apoio à Tradução de Autores Brasileiros no Exterior é uma das principais plataformas de internacionalização de nossa literatura e é um orgulho para o Instituto Guimarães Rosa poder participar tão ativamente dessa iniciativa, ao lado de uma instituição parceira como a Fundação Biblioteca Nacional”, afirma o diretor do Instituto Guimarães Rosa (IGR), unidade do MRE responsável pela diplomacia cultural brasileira, Marco Antonio Nakata.

Edital

Desde a criação do Programa, há 32 anos, mais de 1.200 obras brasileiras foram publicadas em 45 idiomas, como inglês, italiano, francês, russo e espanhol. No edital mais recente, lançado no ano passado, 103 editoras foram contempladas, com projetos de tradução de 95 títulos. As edições traduzidas dos livros de Ailton Krenak, Conceição Evaristo e Carla Madeira são as primeiras a se concretizarem, mas muitas outras virão nos próximos meses.

Por intermédio do edital 2022-2023 do Programa de Apoio à Tradução, “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, sairá no Egito (Logha Publisshing); “Oração para Desaparecer”, de Socorro Acioli, na França (SASU Tropismes); “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, e “A Pediatra”, de Andréa del Fuego, ganharão edições na Eslováquia (ambas pela Portugalský Institút); e “Estorvo”, de Chico Buarque, chegará à Suécia (Lusima Books).

Depoimentos dos autores

Para Itamar Vieira Júnior, a iniciativa tem gerado bons resultados: “O Programa é de extrema relevância, e sua instituição há alguns anos tem permitido a colheita de bons frutos. Há cada vez mais autores brasileiros traduzidos no exterior e a nossa literatura passa a ocupar páginas importantes de prêmios e periódicos voltados à literatura. Sem esse apoio, seríamos menos conhecidos e dificilmente circularíamos fora do Brasil.”

Andréa del Fuego, autora de “Os Malakias”, “As Miniaturas” e “A Pediatra”, publicadas na Alemanha, Suécia, Argentina, Itália, França, Israel, Romênia e Kuwait, ressalta a acolhida no exterior: “Nós somos muito pouco lidos em diversos países, no estrangeiro, mas, nos últimos anos, e a Fundação Biblioteca Nacional tem um papel fundamental nisso, há uma difusão muito maior dessa literatura brasileira em diversos países, fazendo esse intercâmbio cultural, que é exatamente o destino dos livros”.

Jeferson Tenório comenta: “É uma maneira de quebrar o estereótipo que existe em relação ao Brasil. A literatura aproxima as culturas”. Ele também destaca a recepção de “O Avesso da Pele” no exterior: “No México houve uma grande empatia, enquanto na Suécia causou surpresa por conta da questão do racismo que acontece no Brasil abordada na obra”.

Tradução e impacto

A lista contemplada pelo edital não inclui somente obras recentes ou de autores presentes na mídia. Há também projetos para tradução de novos escritores e de livros de Mário de Andrade e Monteiro Lobato na China, de Clarice Lispector na Lituânia, de Lygia Fagundes Telles na Rússia e de Autran Dourado na Grécia.

“Galáxias”, de Haroldo de Campos, já saiu em espanhol (pela Libros de la Resistencia), e Machado de Assis, que virou assunto na internet depois que “Memórias Póstumas de Brás Cubas” encantou a leitora-influenciadora norte-americana Courtney Henning Novak, terá seis títulos publicados na Zâmbia.

Andréa del Fuego valoriza o processo de tradução: “Quase todos os processos de tradução têm uma conversa com a tradutora ou o tradutor, e esse é um dos momentos mais ricos na experiência de um escritor, ao menos na minha visão. O tradutor é um leitor como jamais o escritor será do seu próprio livro”.

Jeferson Tenório concorda: “Traduzir um livro em outra língua e fazê-lo nascer em outro idioma”.

#DesacatoPontodeCultura

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