Por Nara Lacerda.
O desmatamento na Amazônia este ano atingiu 11.088 km2, maior área registrada nos últimos 12 anos. Houve crescimento de 9,5% em relação a 2019. Os dados foram medidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão federal que monitora a devastação nos biomas brasileiros por meio de satélites.
Com o crescimento de 2020, a devastação no segundo ano do governo de Jair Bolsonaro alcança índice 70% maior do que a média registrada entre 2009 a 2018. Para cumprir a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), o país precisaria ter um teto de desmatamento em 3.925 km2 este ano. O total registrado é 180% superior.
Análise do Observatório do Clima indica que o cenário atual é fruto de um conjunto de fatores que envolve enfraquecimento da fiscalização, desmonte de órgãos ambientais e corte de investimento em preservação. Em nota, a entidade lista a paralisação da cobrança de multas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o congelamento do Fundo Amazônia, a perseguição a agentes, entre outras ações do Governo Federal que travam a proteção ao bioma.
“Omissão criminosa em não gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais, difamação a quem produz conhecimento técnico e científico e uma tentativa improvisada de militarizar a floresta. Tudo isso foi visto nos últimos 22 meses”, diz o texto. A entidade faz um alerta: “O Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia.”
Há ainda a percepção de que os números cumprem “um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazônia. É o preço da “passagem da boiada”. Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, conclui: “Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que deu errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo”.
“Esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil. Estamos perdendo acordos comerciais, transformando nosso soft power literalmente em fumaça e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima”, prossegue. “Este governo funciona como uma máquina de produzir notícias vergonhosas para o país, especialmente na área ambiental. Bolsonaro é o maior sabotador da imagem do Brasil”, acrescentou.
Ao anunciar os dados, o vice-presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, disse que “os esforços que estão sendo empreendidos começam a render frutos”. Na opinião dele, como as expectativas para este ano eram maiores, o índice registrado faz parte de um “início de uma tendência decrescente”. Mais de 30% do desmatamento, segundo Mourão, ocorrem ilegalmente em áreas públicas.