Por Tiago Pereira.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta terça-feira (10) que o “evento adverso grave” ocorrido com um dos voluntários que participam dos testes da Coronavac “não tem relação com a vacina”. Ele espera que os estudos da fase três sejam retomados “o mais breve possível”, já que não há, “nenhum motivo” que justifique a suspensão determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“O efeito adverso grave, observado em um voluntário, não tem relação com a vacina. Não podemos dar detalhes, porque isso envolve sigilo. Tem todo um aspecto ético que nos impede de dar as características do voluntário. O que afirmo a vocês é que esses dados estão todos em mãos da Anvisa”, declarou o diretor do instituto.
Além disso, Dimas Covas declarou que a Anvisa foi notificada ainda na última sexta-feira (6) desse episódio ocorrido no último dia 29 de outubro. Ele reclamou que o Instituto Butantan foi avisado apenas por e-mail da decisão da Anvisa de suspender os testes. “Outros eventos já ocorreram”, segundo ele, e foram resolvidos “de forma absolutamente normal”. Para o diretor do instituto, o caso atual também poderia ter sido solucionado “administrativamente”, sem a necessidade de interromper os estudos.
Por outro lado, a ação “injustificada” da Anvisa, segundo ele, causa insegurança nos voluntários que participam dos testes e na população. “Fomentaram esse descrédito gratuito a troco de quê? Não seria mais justo, portanto, ligar e falar que a reunião está marcada para esclarecermos isso?”, questionou.
As declarações de Dimas Covas foram endossadas pelo secretário de Saúde, Jean Carlo Gorinchteyn. “Reforço: não houve nenhuma relação da vacina com o evento adverso grave apresentado”, disse Gorinchteyn. Ele destacou que o governo paulista “não trata, nem nunca tratou a vacina de forma política”.
Choque com Bolsonaro
Mais explícito, o coordenador-executivo do comitê do Centro de Contingência do Coronavírus, João Gabbardo, também ressaltou que “não existe absolutamente nenhuma relação da causa da morte desse paciente com a suposta vacina”. E disse que nem sequer é sabido ainda se a pessoa tomou o imunizante ou placebo. Mas reafirmou que “não existe relação de causa e efeito. Não existe nexo causal neste caso”.
Além de “injusta”, Gabbardo destacou que a decisão da Anvisa de suspender os estudos da Coronavac ocorreu “coincidentemente” no mesmo dia em que o governo anunciou para 20 de novembro a chegada do primeiro lote do imunizante.
Ele disse, ademais, que “choca” que algumas pessoas apostem contra a vacina. Em alusão ao seu ex-chefe, o presidente Jair Bolsonaro, Gabbardo afirmou que é “muito triste” ver “algumas lideranças muito importantes” utilizando um fator “absolutamente desconectado da aplicação da vacina” como “motivo para festejar”.
Após a decisão da Anvisa, Bolsonaro compartilhou, no Facebook, a notícia com o comentário “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. Ele havia sido perguntado se o governo brasileiro compraria a Coronavac, caso fossem comprovadas sua eficácia e segurança. Sem qualquer prova, a publicação dizia que a vacina desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan causaria “morte, invalidez, anomalia”. “Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la” é outra citação que aparece no comentário.