Por Francisco Alano.*
Na terça-feira 12 de setembro, um grupo de representantes de centrais sindicais (CTB, CSB, UGT, NCST e Força Sindical) e o presidente da FIESP – aquela do pato amarelo, que financiou o golpe e a retirada dos direitos do povo – uniram-se para entregar ao governo corrupto e golpista de Michel Temer um conjunto de demandas em torno de uma nova política econômica para o Brasil. Organizando um teatro de extremo mau gosto no Palácio do Planalto, levaram ao governo a necessidade da adoção de uma política que vise a geração de empregos. As propostas foram descartadas imediatamente e publicamente pelo Ministro da Fazenda, o banqueiro Henrique Meirelles, que transformou, com requintes de crueldade, o teatro dos oportunistas de plantão em um velório constrangedor.
O evento tratou da divulgação de um plano dos sindicalistas e empresários para a retomada do crescimento e da geração de empregos. Como principais medidas, a retomada das obras públicas paralisadas e a ampliação do crédito para as empresas via BNDES, o que, na ideia do grupo, ampliaria os investimentos e a geração de empregos. Na sequência da apresentação do “plano de salvamento dos empregos”, a equipe econômica do governo, capitaneada por Meirelles, se limitou a elogiar a união entre trabalhadores, empresários e governo, para que no início de 2018 o país volte a crescer. Nenhum comentário sobre as medidas apresentadas, apenas o silencio de quem, na prática, vem fazendo justamente o contrário do que o grupo de sindicalistas e empresários propôs.
Meirelles enviou recentemente um projeto ao Congresso para justamente aumentar os juros do BNDES, substituindo a TJLP (juro subsidiado pelo Tesouro Nacional, mais barato) pela TLP (juro de mercado, mais caro). O governo golpista de Temer, junto com a maioria corrupta que compõe o Congresso Nacional, aprovou ainda no fim de 2016 o congelamento do gasto público por 20 anos, inviabilizando qualquer projeto de retomada das obras públicas. Na prática, o governo de Temer mostrou e continua mostrando que não há espaço algum para diálogo ou negociação, está empurrando “goela abaixo” do povo brasileiro o projeto do grande capital.
O grande capital que pouco se importa com os investimentos e a geração de empregos. Lucraram no período que o Brasil gerava 2 milhões de empregos ao ano e investia mais de 20% do PIB. Continuam lucrando durante a recessão, onde temos 13 milhões de trabalhadores desempregados e os investimentos paralisados. Para os grandes monopólios, pouco importa que o povo esteja na miséria. Ganham muito nos juros da dívida pública, que já consome quase a metade do orçamento do Estado brasileiro. Querem mais é que os pequenos e médios empresários quebrem, absorvendo seus mercados e ampliando ainda mais o seu poder. Temer é representante orgânico destes interesses, que se consolidam na hegemonia do setor financeiro na economia nacional – que abrange desde os poderosos bancos até os monopólios produtivos financeirizados, que têm seu lucro ancorado na valorização financeira.
Não bastasse todo o roteiro do golpe contra os trabalhadores e o povo brasileiro, que teve como capítulo mais recente a destruição dos direitos trabalhistas, o grupo de dirigentes de centrais sindicais, que certamente não representam o sentimento de indignação que está presente em suas bases, organizam mais um evento em parceria com os golpistas da FIESP para mendigar perante o governo. Continuam reforçando a ilusão da conciliação de classe em um contexto onde o que vigora é justamente o oposto, uma guerra deflagrada pela elite contra o povo. Ao fazer isso, deseducam os trabalhadores, que permanecem catatônicos, sem saber em quem acreditar e por onde seguir. Jogam mais um balde de água fria nas possibilidades de reação da população contra o golpe que segue e que, ao contrário do que imaginam os ingênuos, só irá se aprofundar com o novo processo massivo de privatizações que vem por aí, a nova investida do governo contra as aposentadorias e a implementação das novas leis trabalhistas na prática, que irão aumentar ainda mais a miséria do nosso povo.
Não é possível acreditar que dirigentes sindicais experientes ainda acreditem que o governo Temer pode ceder em algo. Parece muito mais que o evento foi organizado para dar suporte político ao governo em troca de outros objetivos inconfessáveis, daqueles que não se pode falar em público. Vendem a classe trabalhadora ao simplesmente não tocarem no tema da reforma trabalhista, aceitando passivamente a destruição da vida do povo. A história, no entanto, mostra que o destino dos traidores do povo nunca foi glorioso em conjunturas de guerra de classe como a atual, sendo que a estes foi reservada a morte política no desenrolar dos acontecimentos. O evento, ao escancarar a aliança entre alguns sindicalistas, empresários e o governo mais impopular da história do país, pode ainda não parecer, mas, a história tratará de mostrar que foi um grande velório de traidores dos trabalhadores.
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* Presidente da FECESC – Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de Santa Catarina