O uso de crianças para justificar o genocídio do povo palestino

Por Por Jair de Souza.

No vídeo deste enlace (https://www.instagram.com/reel/Cz6TOXcLW2a/), temos uma belíssima canção. Muito linda de verdade e, ainda por cima, interpretada por um coro de crianças igualmente lindas.

De fato, tudo encantador e maravilhoso, a não ser por um pequenino detalhe: em sua canção, as crianças tecem loas às ações do exército israelense em seu massacre do povo palestino na Faixa de Gaza. E não apenas expressam sua admiração pelo morticínio que está sendo realizado, mas conclamam aos soldados que sigam até o final com sua valiosa tarefa, ou seja, que exterminem a todos os palestinos que ainda permaneçam por ali. Assim, logo, logo, no próximo ano, elas e os seus poderão ocupar todo aquele espaço que está infestado por seres desprezíveis e, a partir daí, reconstruir tudo do jeito que deve ser.

Concordam que é tudo muito, muito emocionante e contagiante? Eu me lembro de ter sabido de coisas semelhantes em algum outro período da história mais ou menos recente em alguma outra região. Ah, sim, já me lembrei. Foi na Alemanha nazista nas décadas 1930-1940. Só que ali, o povo desprezível que merecia ser eliminado como se fossem ratos não era o de agora. Naquele tempo, os que precisavam ser exterminados para desinfetar o ambiente eram os judeus. Muitas coincidências de procedimentos, só variando mesmo em relação aos alvos das ações.

Agora, saindo do estupor, como é possível que tenhamos crianças inocentes participando de um coro musical no qual um outro povo é desumanizado e seu genocídio é desejado?

Para quem já se dispôs a dedicar algum tempo a analisar como está estruturado o sistema de educação escolar no Estado de Israel, a linda interpretação dessas crianças do coro vai se mostrar em plena sintonia com aquilo que é transmitido às crianças israelenses sobre os palestinos desde a tenra idade em que começam a frequentar seus estabelecimentos escolares. O importante papel desempenhado pelos livros didáticos israelenses é, em grande medida, responsável pelo fato de que precisamente crianças como as que vemos neste vídeo cantam e desejam a morte dos palestinos com muita naturalidade, alegria e beleza.

Em vista disto, considero imprescindível que voltemos a ver o documentário de Nurit Peled-Elhanan sobre o papel dos livros escolares de Israel. Como fica ali bem exposto, a desumanização dos palestinos é a mensagem que permeia a maior parte do material didático voltado para a formação intelectual básica das crianças de Israel. Portanto, na mente de tais crianças, cantar e aspirar pela eliminação do povo palestino se torna algo semelhante a que aspirássemos a eliminar as baratas e percevejos que vez por outra infestam nossos ambientes.

Em poucas palavras, é o mesmo método que os nazistas aplicavam para que o povo alemão aceitasse com resignação, e até mesmo com satisfação, o genocídio do Holocausto contra os judeus. Mas, se o Holocausto de agora não é menos cruel, o povo ao qual ele é dirigido já não é o mesmo.

Em resumo, o sionismo parece cultivar boa parte da perversidade humana desenvolvida pelo nazismo.

Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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