Por Emir Sader.
Parecia que a Colômbia tinha virado a pagina terrível da sua história de 50 anos de violência, de guerras civis, de terrorismo. Mas de repente o uribismo volta a projetar o fantasma de todo esse cenário como um passado que não passa. Caso triunfe Oscar Zuluaga no segundo turno do dia 15 de junho, já anunciou que no mesmo dia de sua posse, 7 de agosto, suspenderá as negociações de paz com as Farc, com o que se pode supor que, de imediato, se restabelecerá uma espiral de enfrentamentos militares, com a guerrilha buscando demonstrar o que se está perdendo sem as negociações de paz e com as FFAA buscando demonstrar que a violência seria a única forma de enfrentar as guerrilhas. Seria um retorno terrível a um passado que se acreditava superado pelas negociações políticas para terminar de vez com esse passado que marcou a tantas gerações de colombianos e colocou em choque o governo desse país com os seus vizinhos.
A imprensa diz que Juan Manuel Santos não havia conseguido demonstrar de forma convincente o valor da paz, enquanto que Uribe retomou suas posições com todo o tom da guerra fria. Na própria noite do primeiro turno, Zuluaga disse textualmente: “Não podemos permitir que as Farc governem o país desde Havana.” Um discurso típico da guerra fria, de manipulação dos fantasmas do comunismo para aparecer como “defensor da democracia e da liberdade”, âncora em um novo processo de militarização do país.
É um processo levado a seus extremos de radicalização, mas que expressas as posturas das direitas latino-americanas, superadas por governos que diminuíram a miséria e a pobreza, promovem processos de integração regional, fortalecem o Estado, consolidando sistemas políticas que vinham de longos processo de enfraquecimento. No caso da Colômbia, se avançou na superação politica e pacifica dos processos de enfrentamento militar, coloca agora em risco pelas campanhas que se valem do medo para buscar o retorno a um passado de terror.
As condições são distintas em Colômbia e nos outros países da América Latina, mas o método da direita é similar. Em lugar de assimilar os inquestionáveis avanços nos países com governos pós-neoliberais, propondo suas formas de dar-lhes continuidade, as direitas do continente acenar com retorno a passados superados e derrotados nesses países.
Há um uribismo na direita latino-americana, um desejo de volta a um passado em vias de ser superado, uma vontade de vingança contra os que lhes tiraram os governos das mãos e contra a massa do povo beneficiária das políticas desses governos. Há um sentimento de ódio que querem restaurar, com o medo do terror como formas de bloquear a capacidade do povo por seus direitos.
Esse é o projeto que tem direita latino-americana: a restauração conservadora, antipolular, de submissão externa e de submissão interna às elites tradicionais. É o uribismo.
Fonte: Carta Maior.