O sobrevivente Mohammed: “Estávamos em 15 naquele bote. Os outros estão todos mortos e tivemos que jogá-los ao mar”

Migrante encontrado morto no mar | Foto: Forças Armadas de Malta

Ele se chama Mohammed Adam Oga, e ele é um milagre. Sua incrível e dramática história nos conta como hoje se morre no Mediterrâneo sem nenhum dispositivo de socorro.

A reportagem é de Alessandra Ziniti, publicada por La Repubblica, 17-08-2019.

Mohammed é o único sobrevivente de um grupo de quinze pessoas que deixaram a Líbia e um a um morreram de desidratação em uma longa jornada de 11 dias e depois jogadas no mar. Ele é o homem que foi encontrado agachado sobre o corpo de um jovem de vinte anos no fundo do bote que se vê na foto divulgada pelas forças armadas maltesas que recuperaram o bote e milagrosamente conseguiram salvar Mohammed.

Entrevistado pelo Times of Malta no hospital Mater Dei de La VallettaMaltaMohammed, 38, descreve sua odisseia assim: “Estávamos em 15, incluindo uma mulher grávida. Não tínhamos nem água, nem comida, nem combustível. Partimos em 1º de agosto da praia da Líbia de Zaywa, Pagamos US$ 700. Os traficantes nos deram um GPS e nos disseram: vão para Malta. Primeiro acabou a gasolina, depois a água e depois a comida. Começamos a beber água do mar. Depois de cinco dias, as duas primeiras pessoas morreram e depois mais duas morriam por dia.

Mohammed relata como tentamos desesperadamente pedir ajuda, mas incrivelmente em 11 dias ninguém os socorreu. “A gente gritava ‘ajuda, ajuda’, ficava acenando para os barcos que passavam, via aviões e helicópteros passando por cima de nossas cabeças, mas ninguém nos socorreu. Estava terrivelmente quente e os corpos começaram a apodrecer. E não tivemos escolha senão jogá-los no mar”.

No final, naquele barco, ficaram apenas dois deles, Mohamed e Ismail, o garoto de vinte anos depois encontrado morto. “Ele – conta Mohamed – em certo momento me disse: ‘Agora é nossa vez, vamos morrer juntos’ e jogou no mar o celular e o GPS. Eu disse a ele: ‘Eu não quero morrer’.”

Mohamed não se lembra o momento em que o helicóptero maltês o resgatou e o levou para o hospital. Agora ele agradece a Deus e a Malta e diz: “Fugi há quinze anos do meu país, fazia parte da Frente de Libertação Oromo“, vivi na Eritreia e no Sudão, depois alguns amigos me propuseram encontrá-los na Alemanha e eu fui à Líbia. Se eu voltasse para a Etiópia, eles me prenderiam. Agora estou apenas feliz por estar vivo “.

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