O significado das eleições europeias. Por Mirko Casale.

Por Mirko Casale, em Ahí Les Va.

A União Europeia realizou as suas eleições para o Parlamento e, apesar do que poderia parecer, não houve virada para a direita, nem muito menos para a esquerda. Senão que continuam indo diretinho aonde iam.

Apesar de todos os alertas de Bruxelas sobre o que está em jogo para o bloco neste momento da história, e até com algum mandatário por aí alertando sobre um possível Apocalipse Europeu, um de cada dois cidadãos preferiu não votar. Um número de participação impróprio para um território que supostamente é um jardim bem cuidado e ordenado, mas que já se tornou comum em todas as eleições.

Os dois pesos pesados da União Europeia, França e Alemanha, testemunharam um duro castigo contra seus governantes. A aliança defendida por Emmanuel Macron nem sequer alcançou 15% dos votos. E, se levarmos em conta a abstenção, apenas 7 em cada 100 franceses optaram pela lista macronista.

Não restou outro consolo ao presidente francês que o fato de que, ao menos, sua aliança ficou em segundo lugar. Algo que o chanceler alemão, Olaf Scholtz, não pode dizer. Já que sua opção partidária foi a terceira mais votada. Isso de mais votada vai entre aspas cruéis.

Com menos de 14% dos votos, e sendo maioria em apenas um dos 16 estados. O menor e menos povoado, para piorar a situação. No resto da União Europeia, houve resultados variados. Com governos derrotados, como na Espanha, ou vencedores, como na Itália, Hungria ou Grécia.

Obviamente, as eleições europeias, em princípio, não são referendos nacionais. Todo mundo sabe que eles têm muito de termômetro da situação política de cada país. Que o diga Macron, que, em função do resultado, decidiu dissolver a Assembleia Nacional francesa e convocar novas eleições legislativas.

A nível de grupo e alianças políticas no Parlamento, na realidade, não houve grandes mudanças. Os democratas-cristãos melhoraram ligeiramente seus resultados com respeito a 2019. E os dos sociais-democratas os pioraram muito mais.

Os grandes derrotados foram a aliança dos verdes e dos liberais que perderam cada uma 30% dos assentos que tinham há 5 anos. E os mais beneficiados, o grupo de conservadores e reformistas, que valha o oximoro, que aumentou seus representantes em quase 20%.

Embora tenham ocupado muitas manchetes, a verdade é que o grupo de formações situadas mais à direita do Parlamento não avançou, e sim retrocedeu, deixando pelo caminho um de cada 5 assentos dos que tinha em 2019.

O que ocorre é que a ampla vitória de seus representantes na França e o segundo lugar na Alemanha devido ao peso dessas nações na União Europeia, desatou um lógico frenesi midiático e político.

Por sua vez, o chamado Grupo de Esquerda perdeu mais de 10% de seus assentos, e se assegura, com o perdão pelo verbo nesse contexto, em último lugar em assentos entre os grupos inscritos no Parlamento Europeu.

Seja como for, a nível global, o novo hemiciclo será fundamentalmente continuísta. Sem grandes mudanças nos grupos principais, poucas surpresas são esperadas nos anos vindouros. Basta mencionar nesse sentido que, assentos na mão, tudo indica que Úrsula von der Leyen voltará a estar à frente da Comissão Europeia.

Numas eleições imensas, em territórios com realidades tão diferentes, com quase 30 países envolvidos e cerca de 180 milhões de votos depositados, é difícil encontrar nexos irrefutáveis em comum e tendências claras.

Em alguns lugares, houve um voto de ruptura, de castigo. Mas, em outros, o castigo foi mais, digamos, tradicional, seguindo tendências bipartidárias. Enquanto que, em alguns países, houve um firme continuísmo.

Alguns países deram cabida a parlamentares abertamente antipolítica, surgidos das redes sociais e articulados em torno das mesmas. Como na Espanha ou em Chipre.

Mas no meio de tanta incerteza, o navio europeu continua navegando por onde vinha e para onde ia. Que ninguém espere mudanças profundas dentro de um organismo concebido precisamente para evitar mudanças profundas, nem agora nem nunca.

As maiores economias do grupo continuarão ditando a política interna do bloco, Enquanto que a externa já vem decidida antecipadamente de Washington. Por mais que em Bruxelas digam, e alguns até acreditem, que não.

O fato é que a política europeia está cada vez mais como um grande barco em que esse grupo rema para um lado, aquela aliança para outro, e há até aqueles que creem estar remando com tudo numa direção, quando, em realidade, estão remando em outra.

Mas todos estão convencidos de que se pararem de remar o barco afundará. Quando, a verdade é que, combinando todas essas pazadas na água, O único que fazem é dar voltas em círculos em torno de um redemoinho geopolítico global que ameaça tragar a todos e que, praticamente, nenhum dos remadores parece ser capaz de ver.

Tradução ao português e legendas:
JAIR DE SOUZA

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