Por Tali Feld Gleiser e Raul Fitipaldi.
Um alerta inicial se faz necessário. Como muitos leitores sabem, os assinantes deste artigo formamos parte da Direção do Portal Desacato.info e somos cofundadores da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura – CpCC, no entanto, estas linhas são pessoais e em nada interferem nas opiniões do Portal e da CpCC que se expressam semanalmente através do seu Editorial. Feita esta ressalva ética iniciamos nosso comentário.
Faz um quarto de século que, como jornalistas e comunicadores, juntos apoiamos a causa dos Trabalhadores de qualquer parte do Mundo, e em especial da América Latina e do Caribe. Muitas pátrias, todas filhas da Pátria Grande, têm sido e são nossos lares de nascimento, formação e desenvolvimento humano, informativo e militante: Chile, Uruguai, Argentina, República Dominicana e nosso lindo Brasil.
Devemos nossa posição à Pátria Grande. Não podemos nos omitir. Brasil é o país estratégica e economicamente mais importante da nossa Região vermelha, negra, branca, amarela e mestiça. O filho grande da Pacha Mama. Aquele que foi induzido a pensar, pelas oligarquias e as classes médias apátridas, que não forma parte da grande nação que sonharam Bolívar, Artigas, Martí, San Martín, Manuel Rodríguez, Caamaño, El Che, Fidel e o Comandante Hugo Chávez. Mas Brasil é o filho maior e mais querido de todos, e faz parte territorial, cultural e histórica indivisível.
Desde o impeachment a Fernando Collor, o Povo brasileiro vem lutando bravamente contra a corrupção, o fascismo imposto estendido desde 1964 com seus acólitos econômico-financeiros, contra as garras do Império ianque, a educação euro-centrista e ‘americanizada’, a entrega das empresas estratégicas como a Vale do Rio Doce, o desrespeito aos aposentados, a exclusão das minorias e dos estudantes pobres.
Foi esse Brasil que gatilhou, a partir da queda de Collor e suas amizades da Casa da Dinda, um processo de autoestima que como fogo crepitante tomou conta da terra de Bolívar e Zumbi. Foram mudando governos desde a vitória do Comandante Chávez em 1998 até diversas reeleições de candidatos do campo progressista, popular ou, como no caso do Brasil, de um governo moderado, desenvolvimentista, que se bem, está aliado ao capital, não pode ser comparado com os apátridas governos anteriores. A Nova Época sugere que se impeça a ressurreição do Século XX com seu lastro de ditaduras, guerras nas estrelas, receitas dos Chicago Boys, Armínios Fraga e o fim da história de Fukuyama.
Fomos militantes do PT e dele nos afastamos quando se aliou ao PMDB e ao dono da Coteminas, José Alencar (PL). Há, portanto, mais de uma década que deixamos a sigla e nos tornamos críticos constantes de tudo aquilo que o PT deixou de fazer em favor do Povo brasileiro ou fez, inclusive, contra ele.
O PT nunca se propôs ser um partido socialista, embora tenha socialistas ainda hoje em seus quadros. Menos ainda pretendeu ser revolucionário desde sua criação. Mas, o PT sim foi uma construção vitoriosa da Classe Trabalhadora. Lamentavelmente foi branqueando sua bandeira e desluzindo sua estrela em nome da governabilidade, a conciliação inviável de classes, o desenvolvimentismo e a rara construção de uma classe média imediatista, supérflua e desnecessária à verdadeira distribuição da riqueza.
A covardia do PT, a inação do governo, isso tudo com relação a temas cruciais para a sociedade mais pobre, como a Legalização do Aborto, a Reforma Agrária, a Demarcação e Proteção das Terras Indígenas, a Reestatização das Empresas Estratégicas que foram rifadas aos interesses estrangeiros, uma Lei de Meios que acabe com o monopólio da comunicação, a pusilanimidade no caso Pinheirinhos, a truculência repressiva contra os Movimentos Sociais, faz com que tenhamos cobranças e divergências irreconciliáveis com o governo de Dilma Rousseff e seu partido.
Dito isto, para que não pairem dúvidas, e apesar disso, nossa posição é clara: não há a menor possibilidade de regredir às cavernas políticas dos governos atrelados ao Fundo Monetário Internacional, a todo tipo de tráficos, ao crescimento infinito das dívidas interna e externa, à desvalorizações da moeda, a miserabilização absoluta das classes desfavorecidas. Governos dos fundamentalismos contra o corpo da mulher, contra as minorias étnicas e raciais, aliados a Washington como correia de transmissão da Bolsa de Valores de Nova Iorque e com as forças armadas a serviço do Departamento de Estado ianque em supostas guerras antiterroristas e antitráfico.
Tudo o que temos a cobrar do governo Dilma e seu partido devemos cobrá-lo no lugar onde o Povo o faz melhor, na rua. Sabemos também, que ao final de contas, é na rua, como nos ensinou Hugo Chávez, que vamos ter a batalha definitiva contra a oligarquia que nos amaldiçoa desde as colônias. No entanto, mesmo percebendo que uma eleição na precária democracia representativa é um ato tático e quase administrativo; entendendo que é uma batalha secundária, lembramos que por vezes a história nos ensina que a derrota numa batalha secundária pode animar o inimigo de classe, fortalecê-lo, e como uma lavareda impiedosa incursionar em todos os países vizinhos, com uma carga de intervenções imperiais, derrota de governos progressistas e até, de golpes de estado, como já aconteceu em países mais frágeis como Honduras e Paraguai.
Por isso, de forma contundente, sem por isso aprovar a gestão da presidenta Dilma nem do seu partido à frente do Brasil, convocamos à Classe Trabalhadora e aos Estudantes do Brasil para que todos juntos varramos da Terra gloriosa da Pacha Mama esta nova tentativa da oligarquia mais podre e apátrida representada pela caricatura de político chamada Aécio Neves. Derrotemos de vez as posições retrógradas de tantas organizações que têm se servido da Pátria, desta e da Pátria Grande, dos latino-americanos e caribenhos, para promiscuí-las, torturá-las, espoliá-las, destruí-las, e entregar seus restos aos interesses das elites poderosas e os setores amorfos da classe média.
Pedimos ao Povo Brasileiro que feche o passo à oligarquia, as elites e os interesses economicamente genocidas representados pela candidatura Aécio Neves.
Neste momento, votar 13 não é um aval ao PT nem a Dilma Rousseff; nem é votar no menos pior, é simplesmente rejeitar para sempre a possibilidade sequer, de que a direita conservadora destrua à sociedade brasileira como a toda a Pátria Grande que amamos e precisa se libertar dos algozes de um Outro Mundo Possível e Urgente.
Há um lugar em Miami para Aécio Neves, não em Brasília. Brasil é de propriedade da Classe Trabalhadora brasileira.
Aécio jamais!
Viva o Brasil!
Viva a Pátria Grande!
Florianópolis, primavera de 2014.