Os eleitores gregos deram o seu veredicto contraditório. Enquanto 55% votaram por partidos que se posicionam explicitamente contra os termos e condições do “salvamento”, um governo a favor do “salvamento” está prestes a ser constituído — tal é a natureza do sistema eleitoral da Grécia (o qual concede um prémio ao maior partido com um bónus de 50 deputados adicional numa câmara com 300 cadeiras). O partido Nova Democracia dirigirá o governo apesar de ser absolutamente claro que pelo menos um em cada três eleitores que o apoiaram pensa muito pouco do partido e do seu líder mas sentem que não tinham opção senão votar por eles simplesmente porque a alternativa, um governo Syriza, podia trazer sobre a nação a ira combinada de Berlim, Frankfurt e Bruxelas. Isto é um princípio pouco auspicioso para um novo governo que enfrenta uma cordilheira de montanhas de desafios como se pode imaginar.
Então, o que se segue? Deixando de lado as peripécias destes próximos dias (que serão necessário antes de o degenerado partido socialista, PASOK, encontrar a “narrativa” que permitirá explicar a si próprio seu apoio ao governo dirigido pela Nova Democracia), a principal “característica” a aguardar é a próxima reunião do Conselho da UE, em 28 e 29 de Junho, onde sem dúvida um Salvamento Grego Mk3 será modelado. Pois apesar dos protestos alemães (de que a Grécia deve ater-se aos termos e condições do Salvamento Mk2), a realidade ultrapassou e efectivamente anulou o Salvamento Mk2. Dito simplesmente, todas as hipóteses subjacentes (primariamente em relação à recessão da Grécia e das projecções de receitas fiscais relacionadas) foram violadas pelos factos no terreno. O Salvamento Mk3 é uma inevitabilidade, uma vez que uma saída da Grécia (Grexit) seria equivalente a um desmantelamento instantâneo da Eurozona.
O que está para além de qualquer dúvida é que a Europa premiará a Nova Democracia com um afrouxamento dos termos e condições do Mk2. Este afrouxamento será apregoado na Grécia e internacionalmente como um triunfo. Mas, ai de nós, a semi vida daquelas celebrações serão ainda mais curtas do que aquelas que se seguiram ao Salvamento Mk2 e infinitesimais em comparação com a duração do alvoroço que se seguiu ao Salvamento Mk1.
O que será a essência do Salvamento Mk3? Um Salvamento Mk2 leve, naturalmente. Será dado à Grécia um prazo adicional de três a cinco anos para fazer com que o seu défice orçamental fique abaixo da marca mágica dos 3%. Ao governo Samaras, o qual está obrigado pelas regras do Salvamento Mk2 a cortar despesa pública dentro de um mês em mais 11,5 mil milhões, provavelmente será permitido escapar com um castigo mais pequeno (de, digamos, 5 mil milhões). A Grécia provavelmente será inclinada em outros 50 mil milhões e alguns novos anúncios acerca de financiamento estrutural de projectos de investimento serão acrescentados ao composto. Na minha estimativa, um tal “afrouxamento” será o pior resultado possível para a Grécia e uma calamidade também para a Europa!
Deixe-me explicar porque permaneço convencido de que um afrouxamento dos termos e condições do salvamento da Grécia será um resultado terrível para toda a gente. A economia grega está realmente arruinada. Os circuitos de crédito estão tão danificados que mesmo firmas eficientes, lucrativas, foram cortadas fora não só dos mercados de capital como também dos mercados internacionais (pois os seus fornecedores já não aceitam mais garantias de bancos gregos sem os quais firmas gregas não podem importar matérias-primas). Estes circuitos de crédito permanecerão rompidos mesmo sob novos termos e condições, como descrevi acima. Nem a extensão dos prazos de reembolso dos novos empréstimos ao estado insolvente (o qual toda a gente sabe que irá incumprir outra vez – desta vez para com credores oficiais) nem os novos empréstimos mudarão isto. Além disso, os novos cortes nos gastos, mesmo que sejam menores do que estava previsto no Mk2, darão às força da recessão um outro impulso. Para abreviar uma longa história, não há dúvida de que tal afrouxamento simplesmente prolongará, sem impedir, a morte agonizante da economia social grega enquanto, ao mesmo tempo, esgotará o minguante stock de paciência com a lógica de salvamentos na Alemanha, na Holanda, na Finlândia e na Áustria. Para dizer isto de modo diferente, quando em Dezembro tornar-se claro, mais uma vez, que outro, mais frouxo, salvamento grego fracassou, tal percepção aumentará as pressões e tensões na Europa, acelerando mais uma vez as forças centrífugas que dilaceram a Eurozona.
Assim, se o afrouxamento do salvamento grego não irá funcionar, o que o fará? O que o governo grego deveria negociar para obter? Já respondi aqui. A ideia central da minha sugestão é que a Grécia não necessita de mais dinheiro em si mesmo. Que lançar mais dinheiro bom após as montanhas de dinheiro mau que afundaram no poço da Austeridade Ponzi é inútil. O que necessitamos é de uma lógica diferente. Uma nova prescrição, portanto oposta às diferentes doses do mesmo veneno. A Grécia, Espanha, Irlanda, Itália, o conjunto da Europa requer, de modo a travar o euro descarrilamento, de três coisas: (a) recapitalização directa do seus bancos aflitos a partir do EFSF (com regulação do banco central a partir do BCE-EBA), (b) uma mudança da submissão da dívida da Periferia à Maastricht na contabilidade do BCE (com uma emissão paralela de títulos BCE), e (c) um programa de recuperação conduzido por investimentos a ser financiando conjuntamente pelo BEI e o BCE (o que se opõe aos mal administrados fundos estruturais de Bruxelas). Estes três passos (reflectindo nossa Modesta Proposta) demonstrar-se-ão não mais caras do que a actual cascata de salvamentos pouco inteligentes. A diferença é que eles apresentarão uma excelente probabilidade de reverter a crise, ao contrário dos salvamentos que estão a promove-la no fim.
Mas pode um governo grego negociar tudo isto em nome da Periferia? Naturalmente que não. Mas ele pode fazer um arranque enérgico ao perguntar o seguinte: Que ao invés de novos empréstimos, como parte do Salvamento Mk3, a Europa retire da contabilidade do estado grego o dinheiro que lhe foi dado para transferir para bancos gregos e europeianizasse a banca. Isto faz perfeito sentido e atrairia mesmo o BCE, o FMI, Paris e Washington; todas as pessoas economicamente esclarecidas. Além disso, no momento em que a Grécia pedisse isto, a Espanha somaria a sua vez a uma sugestão tão terrivelmente razoável. E a seguir a Itália. Possivelmente Dublim também. Uma nova agenda estará a elaboração por toda a Europa. A mutualização da dívida seguir-se-á naturalmente. E assim por diante.
Naturalmente, começar a rolar a bola na direcção certa exige um governo em Atenas que seja capaz de olhar nossos parceiros alemães nos olhos e não piscar durante uns poucos minutos. Tragicamente, os sujeitos da Nova Democracia, e seus apaniguados do PASOK, ganharam numa promessa ao piscar desde o princípio. A Europa pode ter alcançado os seus desejos neste fim-de-semana. Em breve, contudo, será recordada, mais uma vez, de que o deus mais vingativo é aquele que concede tais desejos.
O original encontra-se em yanisvaroufakis.eu/2012/06/18/greek-election-result-an-assessment/
Fonte: http://resistir.info/ .