O rei está nu e o sindicalismo morto

reiPor Elaine Tavares.

Eis que, de repente, por conta da ação da Polícia Federal, a empresa mais criticada do estado de Santa Catarina, a RBS, está nua diante dos olhos da sociedade, pega num musculoso esquema de corrupção. Como é um meio de comunicação de caráter oligopólico, a RBS tem dominado durante décadas tudo aquilo que o catarinense vê, lê e escuta. E, justamente por esse domínio dos meios, acaba sendo a empresa que define o salário e as condições de trabalho dos jornalistas. Sempre foi leonina, arrochando e superexplorando, demitindo os trabalhadores mais velhos sem dó nem piedade. Por conta disso, ao longo dos anos tem sofrido sistematicamente a crítica dos sindicatos, movimentos populares e políticos, que fazem discursos explosivos sobre o quanto essa empresa esconde e manipula a informação, bem como explora os trabalhadores.

A batalha contra a RBS sempre foi difícil. Afinal, sem uma unidade real no campo popular e sindical fica ainda mais difícil combater uma empresa que se apossou de todos os meios de comunicação mais fortes do Estado, comprando jornais regionais e reduzindo-os a locais. Ainda assim, aqui e ali, sistematicamente pipocaram críticas ao monopólio da informação e a forma como a empresa direciona o tratamento dos trabalhadores no mercado de trabalho. Ela dá a linha, define, impõe.

Pois agora a RBS está desnuda, pega com a boca na botija, praticando o crime da corrupção, coisa que seus porta-vozes condenam com veemência em todas as suas mídias. E, diante dessa nudez, o que fazem os sindicatos, os movimentos populares, os políticos de esquerda? Até agora, concretamente, nada.

Outro dia um colega jornalista divulgou em algumas listas que eu fico por aqui, confortavelmente sentada atrás do computador, fazendo críticas aos sindicatos, mas que não tenho atuação sindical. Tudo o que fiz foi sorrir. Posso estar sentada atrás da máquina (o que é uma meia verdade) mas, pelo menos, uso dessa minha singela aptidão, que é escrever, para denunciar o que penso ser importante para a opinião pública. Afinal, como dizia Orwell, nada pode ser mais poderoso que uma opinião pública bem formada.

Escrevo, essa é a minha contribuição. Penso, analiso e escrevo. Penso que cada setor da sociedade deve cumprir seu destino. Os sindicatos precisam fazer a luta para melhorar a vida dos trabalhadores, os movimentos sociais para melhorar a vida na cidade e assim por diante. Cada um fazendo um pouco, na união, constroem o edifício da mudança. E, nesse processo, a crítica à mídia tem um papel fundamental. Desvelar as entranhas do processo de invenção das notícias, mostrar porquê os trabalhadores aparecem nos jornais como os “baderneiros”, enquanto os empresários que roubam a cidade são saudados como “grandes homens”, essa é a tarefa.

Ontem, no Rio de Janeiro e em São Paulo, movimentos sociais se reuniram em frente a Rede Globo. Muita gente. Protestaram contra o domínio do pensamento único – da classe dominante – que é o pão comido da emissora. Saíram de suas casas e foram gritar em frente ao prédio da platinada. Pode parecer pueril, mas não é. É ação legítima de uma gente que já abriu os olhos e é capaz de sair de sua zona de conforto para derrubar o ídolo de pés de barro. Tanto bate que um dia cai.

No caso de Santa Catarina, a filial da Globo foi pega nas malhas da corrupção, dando calote em dívidas e surrupiando o Estado. Mas, enquanto isso fervilha nas redes sociais, na vida real o lago está parado. Nem os sindicatos, nem os movimentos, nem os políticos, nem mesmo os jornalistas arriscam ações. Uma nota aqui e ali, coisa tímida. O rei está nu e não há nenhum garotinho a gritar. O silêncio e a inação significam o quê? É diante dessa inércia que me ponho a pensar.

De certa forma, tudo isso denota uma verdade inconveniente: o sindicalismo, domesticado pelos anos de aproximação com o poder governamental, perdeu a mão. Parece não saber como atuar diante da vida real que se expressa – hoje com muito mais virulência – nas famigeradas redes sociais. Há um mundo novo se configurando, e há os que insistem entoar a canção da luta com velhas liras. Como bem diz o companheiro Danilo Carneiro, do Tortura Nunca Mais, é preciso estudar. Compreender melhor esse mundo imagético, cibernético, feicibuquiano, e, a partir daí inventar novas canções em novas liras. Inventar, inventar, inventar, diria Simón Rodríguez, gritando para um mundo deserto de imaginação.

Parece que assim estamos. Depois de tanta lamúria contra a dominação midiática da RBS a temos fragilizada e nua sob nossos pés. E o que fazemos? Nada! Não espero notas comportadas divulgadas nos sítios e redes sociais. Espero ação. E, do meu jeito, já estou agindo… Preciso de parceiros!

A comunicação é um campo estratégico na vida política. Quem a domina está em vantagem. Hoje, em Santa Catarina, enquanto os sofridos professores vivem mais uma greve, o oligopólio segue firme inventando verdades, mentindo, escondendo. A classe dominante tem seu Sancho Pança, aparentemente invencível. Mas, como aconteceu com Al Capone, que foi pego por uma coisa à toa, eis que o império comunicacional – Globo e RBS – está sob investigação, com claras evidências de culpa. O rei está nu. Vamos gritar. Jornalistas, sindicalistas, militantes sociais… Já não é mais hora de chorar. É tempo de avançar no rumo da soberania comunicacional. Uma comunicação do povo, para o povo, com o povo.

Ah, essas utopias!… E a louca esperança de que os políticos, o sindicalismo e os movimentos sociais encontrem o caminho da luta renhida. Pa’lante, diria Chávez, Pa’lante!!!

Foto: www.vanitatis.elconfidencial.com

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