O livro de Mario Benedetti fala sobre exílio, mas também sobre o “desexílio”, a readaptação dos que retornam ao lar
“Quando
com as tuas mágicas mãos de fada
e as mãos do povo,
quando sobre a terra
o fogo e o amor
tocarem os teus bailarinos
pés de nácar
quando tu,
Primavera,
entrares
em todas
as casas dos homens,
amar-te-ei sem pecado (…)”
Pablo Neruda”
Mario Benedetti, no ano de 1982, faz alusão a este poema de Pablo Neruda em sua obra: Primavera num espelho partido. A liberdade, que pode ser traduzida de diversas formas, aqui se materializa através da primavera. O livro de Mario Benedetti fala sobre exílio, mas também sobre o “desexílio”, palavra que o mesmo inventou para caracterizar a volta, a readaptação dos que retornam ao lar, ou não. Entre as trocas de cartas de Santiago, um preso político uruguaio, com sua companheira Graciela, exilada na Argentina, seu pai e sua filha, nós leitores adentramos nas lembranças mais profundas de militantes e suas famílias, caminhamos pelas “calles” do Uruguai, Argentina e um pouco em Cuba, locais onde o escritor se exilou durante a ditadura em seu país.
Porém não se faz necessário romantizar quem são esses militantes, limpando nossas lentes a respeito dos “heróis”, o autor descreve brilhantemente o dia a dia do grupo revolucionário. Benedetti é um dos romancistas mais prestigiados da América Latina atual, mesmo período de Juan Carlos Onetti. Mario é muito conhecido pelos seus poemas. Um livro curto, porém avassalador, que merece ser lido em tempos de barbárie, para se fazer lembrar que após o inverno vem a primavera, mas para isso precisamos nos preparar para sua chegada.
O espelho quebrado é a história, com suas rupturas sempre árduas para o povo. Mario Benedetti tece sobre esse período com a sensibilidade de quem sentiu o “Viento del exilio” e a delicadeza de quem constrói diariamente “Yesterday y mañana”.
*Louise Xavier é militante do Levante Popular da Juventude