O que se sabe sobre a nova cepa da covid-19 presente em seis estados brasileiros

Ainda há pouco sequenciamento do vírus realizado no Brasil, o que dificulta compreender abrangência da variante

Na foto: paciente levado de Manaus para Belém, no Pará. O homem chegou com suporte de oxigenação e foi encaminhado ao Hospital de Campanha, no Hangar Centro de Convenções, na capital paraense (Foto: Bruno Cecim/Agência Pará)
Por Caroline Oliveira.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a nova variante da covid-19, conhecida como P.1, já foi identificada em 91% do sequenciamento de 250 genomas do vírus no estado de Amazonas, sendo 177 de Manaus e 73 de outros municípios, até o dia 13 de janeiro de 2021.

Com isso, os dados mostram que a nova variante é a mais prevalente hoje no estado.

Pouco se sabe, no entanto, sobre a nova cepa. Ainda não é conhecido, por exemplo, o quão a nova variante é responsável pelo quadro sanitário de Manaus que se agravou expressivamente na segunda quinzena de janeiro, quando 31 pacientes morreram por falta de oxigênio, entre os dias 14 e 15, de acordo com dados do Ministério Público de Contas do Amazonas.

Muitas mutações em pouco tempo

O que se sabe até o momento é que a variante apresenta uma expressiva quantidade de mutações acumuladas no código genético em um período curto de tempo.

Felipe Naveca, virologista e pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), explica que as mutações virais são normais e até mesmo que a Sars-CoV-2 evolui mais lentamente do que outros vírus.

No entanto, “essa variante descoberta no Japão chama muita atenção, assim como as variantes inglesa e africana, porque acumularam muitas mutações em pouco tempo, acima do que a gente estava vendo até o momento”.

A principal diferença é uma mutação na proteína pai do vírus, conhecida como proteína spike, que faz a interação inicial com a célula humana. “Isso chama bastante a atenção”, ressalta.

 Nesse sentido, há suspeitas de que a nova variante seja transmitida com mais facilidade, mas não há nenhum dado que comprove a ligação com doenças mais graves.

Mais sequenciamentos

Diferente de outros países, o Brasil não realiza na mesma quantidade o sequenciamento de vírus encontrados em pacientes, o que impossibilita saber qual vírus está circulando predominantemente nos territórios.

Diante do Reino Unido, que sequencia até 5% dos vírus encontrados em pacientes, o índice brasileiro é de apenas 0,024% dos casos confirmados no país.

Foi em Tóquio, no Japão, que a nova cepa foi identificada, no dia 10 de janeiro, em quatro pacientes que chegaram da capital amazonense, apontando Manaus como o local de origem dessas mutações.

Segundo Naveca, para mapear a abrangência da nova variante, é necessário “aprofundar o sequenciamento de dezembro e janeiro para ver se essa variante já estava em grande quantidade no estado do Amazonas e aumentar bastante o sequenciamento nesse período para identificar com certeza essa variante e verificar outras que possam surgir”.

Propagação acelerada

A nova cepa já circula, oficialmente, em seis estados brasileiros: Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Roraima, Pará e Sergipe.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em um relatório publicado no fim de janeiro, apontou para a necessidade de mais estudos sobre essa mutação do vírus, demonstrando preocupação com a propagação acelerada no Brasil.

“O número de novos casos semanais nas últimas duas semanas é relatado em níveis mais elevados em comparação com o de setembro a novembro de 2020, e novas mortes semanais aumentaram desde o início de novembro de 2020″, relata a organização em seu informe epidemiológico mais recente.

Nas palavras do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em entrevista à TV Cultura, a variante do vírus descoberta em Manaus pode provocar uma mega epidemia até março.

“O mundo inteiro está fechando os voos para o Brasil e o Brasil está, não só aberto normalmente, como está retirando pacientes de Manaus e mandando para Goiás, mandando para a Bahia, mandando para outros lugares sem fazer os bloqueios de biossegurança”, disse.

Média móvel superior a mil

Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de mortes causadas pela covid-19– a soma de todos os óbitos dos últimos sete dias dividida por sete – chegou a 1.062 no Brasil nesta segunda-feira (1º).

Com isso, o país completa 12 dias em patamares superiores a mil, o que só havia sido observado em julho, quando os registros se mantiveram acima dessa marca por mais de três semanas.

Somente nesta segunda-feira, foram confirmados 24.591 novos infectados pela covid-19, totalizando mais de 9,2 milhões de pessoas que já foram contaminadas.

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