Por Alexa Liautaud e David Gilbert.
Enquanto Angelina Lazo fugia aterrorizada de sua escola, tentando acalmar colegas que também estavam correndo do tiroteio no Sul da Flórida na quarta-feira, ela percebeu uma coisa.
Ela conhecia o suspeito de ser o atirador.
Nikolas de Jesus Cruz, suposto responsável pela morte de pelo menos 17 pessoas no Colégio Marjory Stoneman Douglas, no atentado mais mortal numa escola norte-americana desde Sandy Hook, estava na sua classe de biologia do segundo ano.
“Eu disse para os meus amigos: ‘É ele, ele é o cara’”, disse Lazo. “Ele é uma pessoa muito característica.”
Enquanto alguns professores descreveram Cruz como um estudante com um comportamento não muito chamativo, vários de seus colegas que falaram com a VICE News e outros meios de comunicação pintaram um retrato muito mais sombrio.
“Meus amigos brincavam que ele parecia o estereótipo de atirador de escola, e infelizmente acabou sendo mesmo”, disse Lazo.
Cruz foi levado da delegacia de Broward na quinta para a cadeia do condado em Fort Lauderdale, onde recebeu 17 acusações de assassinato premeditado. Aqui vai tudo que sabemos sobre o suspeito:
FAMÍLIA
Cruz e seu irmão biológico, Zachary, eram adotados, mas seus pais adotivos morreram.
Roger e Lynda Cruz, originalmente de Long Island, Nova York, adotaram os irmãos depois que se mudaram para Parkland. Roger morreu anos atrás de ataque cardíaco, e Lynda morreu em 1º de novembro do ano passado de pneumonia, segundo o jornal local Sun Sentinel.
Os garotos ficaram sob os cuidados de um amigo da família depois da morte da mãe.
Segundo os vizinhos, Lynda estava com problemas nos últimos anos para controlar os filhos e frequentemente ligava para a polícia por causa deles.
“Acho que ela queria assustá-los um pouco”, disse Helen Pasciolla, que morava no quarteirão deles. “Acho que Nikolas tinha problemas de comportamento, mas nunca achei que ele era violento.”
A família se mudou recentemente e colocou sua casa à venda, porque não podiam mais pagar, um ex-vizinho disse.
EXPULSÃO
O xerife do condado Broward, Scott Israle, disse a repórteres que Cruz tinha sido expulso da escola por “razões disciplinares”.
Apesar de Israel dizer que não sabia detalhes sobre a suspensão, há vários relatos dos motivos para a expulsão de Cruz.
A AP informou que Cruz foi expulso ano passado depois de uma briga com o novo namorado da ex. Segundo Victoria Olvera, uma estudante de 17 anos, o suspeito era abusivo com a ex-namorada.
Mas Amanda Samaroo, mãe de uma aluna, disse que Cruz foi suspenso por trazer facas para a escola. “Amigos dela disseram que ele era conhecido por ter problemas mentais e matava animais”, disse Samaroo.
Um colega de classe disse ao Miami Herald que Cruz foi expulso por levar balas em sua mochila.
Segundo um estudante anônimo que falou com a WFOR-TV, Cruz foi expulso da área da escola mais de uma vez. “Ele sempre estava com armas”, disse o estudante. “E ele foi expulso de lá várias vezes por esse tipo de coisa.”
SINAIS DE ALERTA
Apesar de nunca ter sido preso, aparentemente havia sinais de que Cruz era capaz de realizar um ato assim.
Entre os mais óbvios estão suas postagens nas redes sociais, particularmente duas contas no Instagram, as duas atualmente tiradas do ar.
O xerife Israel descreveu o uso das redes sociais de Cruz como “muito, muito perturbador”.
As fotos incluíam um homem segurando armas e munição usada em fuzis semiautomáticos AR-15. Outra foto mostra várias armas, incluindo um fuzil com escopo, numa cama. Outra parecia mostrar um sapo morto.
Uma foto mostrava uma espingarda Maverick 88, com uma legenda onde Cruz perguntava como comprar uma “para caçar”.
Outra foto mostrava o rapaz segurando facas entre os dedos como garras. Outra mostrava ele com um revólver.
Cruz postou ameaças nos comentários de vídeos no YouTube com o próprio nome, incluindo: “Quero atirar em pessoas com a minha AR-15”, “Vou morreu lutando matando um monte de gente” e “Vou matar a polícia um dia se eles forem atrás de pessoas boas”.
Vários estudantes disseram que Cruz já era visto como um atirador de escola em potencial. “Muita gente dizia que seria ele”, um estudante anônimo disse para a estação local WFOR-TV. “Diziam que ele seria o cara que entraria atirando na escola. Todo mundo tinha previsto isso.”
ARMAS
“Ele só falava sobre armas, facas e caçar”, disse o ex-colega de classe Joshua Charo para o Miami Herald. “Não posso dizer que fiquei chocado. Das experiências passadas, ele parecia o tipo de garoto que faria uma coisa assim.”
Chad Williams, 18 anos, disse a Reuters que Cruz era “louco por armas” e que sempre disparava o alarme de incêndio da escola antes de ser expulso.
Cruz comprou o fuzil AR-15 usado no ataque ano passado e passou pela verificação de antecedentes para fazer a compra, segundo investigadores federais que falaram com a CNN.
A família com quem ele estava ficando desde que a mãe morreu disse que Cruz já a tinha antes de se mudar para a casa deles. “A família fazia ele guardar a arma num armário da casa, mas ele tinha a chave”, disse Jim Lewis, o advogado da família.
A polícia disse que Cruz participou de um programa de treinamento para reservas júnior do Exército dos EUA. Nem o exército norte-americano nem oficiais do programa de treinamento responderam os pedidos da VICE News de comentários.
VIDA ESCOLAR
Vários relatos do comportamento e ações de Cruz na escola Marjory Stoneman Douglas pintam o retrato de um adolescente isolado, que tinha poucos amigos e raramente interagia com os outros estudantes.
“Ele certamente não era aceito socialmente na nossa escola”, disse Ocean Parodie, 17 anos, ao Daily Beast. “Os alunos o viam como alguém diferente das pessoas normais da nossa escola.”
Um professor da Stoneman disse que os administradores começaram a se preocupar com o comportamento de Cruz ano passado, e alertaram o corpo docente. “Recebemos e-mails sobre ele da administração”, disse Jim Gard, professor de matemática, ao New York Times, acrescentando que não se lembrava das questões específicas.
Mas o professor também disse que vários alunos falaram sobre como Cruz tinha ficado obcecado por uma garota da escola “ao ponto de stalkeá-la”.
Gard também falou com o Miami Herald, dizendo ao jornal que o corpo docente foi avisado ano passado que Cruz “estava proibido de entrar no campus com uma mochila. Houve problemas com ele ano passado quando ele ameaçou estudantes, e acho que pediram que ele se retirasse da escola”.
Cruz raramente falava com seus colegas, preferindo ficar em silêncio, mas contou a um ex-colega, com quem fez um trabalho, que tinha sido expulso de duas escolas particulares, repetiu dois anos e queria entrar para o exército.
“Ele estava sempre sozinho e não tentava se relacionar com ninguém”, Brandon Minoff disse a CNN. “Pelo que sei, ele não tinha amigos.”
A AP acabou de postar no Twitter que o líder de um grupo supremacista branco confirma que ele fazia parte de sua organização.