A globalização é a globalização do poder das corporações, que traz a globalização da pobreza.
Por Mikel Itulain.
Se dermos atenção a um meio como Wikipedia, que apesar de sua aparente auréola de ser elaborada popularmente e de estar aberta à opinião das pessoas da rua é em realidade outro meio pelo qual o poder econômico expressa seu ideário e interesses, notaremos que define a globalização como:
A globalização é um processo econômico, tecnológico, social e cultural a escala planetária que consiste na crescente comunicação e interdependência entre os diferentes países do mundo unificando seus mercados, sociedades e culturas, através de uma série de transformações sociais, econômicas e políticas que lhes dão um caráter global. Com frequência, a globalização é identificada como um processo dinâmico produzido principalmente pelas sociedades que vivem sob o capitalismo democrático, ou a democracia liberal, e que abriram suas portas a uma revolução informática, pregando um nível considerável de liberalização e democratização em sua cultura política, em seu ordenamento jurídico e econômico nacional e em suas relações internacionais.
Portanto, se prestarmos atenção ao que este meio diz, ficamos com a sensação de que a globalização é um novo movimento no qual a liberdade e a democracia se estenderam pelo mundo, facilitando o intercâmbio entre culturas e países. No entanto, isto se choca frontalmente com os fatos que vêm ocorrendo nas últimas décadas: invasões contínuas de países com a extensão das guerras, um novo auge não na independência e democracia real dos países, senão que na submissão a potências exteriores com a chegada de uma nova era de colonialismo.[1] A consequência direta é o aumento na diferença entre países ricos e países pobres, mas não só isto, senão que, especialmente, também um aumento na diferença entre as classes ricas e as classes pobres nos próprios países ocidentais; e o que também é digno de menção, aqui, nos Estados Unidos e na Europa, a pobreza é cada vez maior, enquanto que os meios para gerar riqueza são maiores que nunca.[2] [3] Estes são os fatos reais amargos, porém é preciso escondê-los
A última palavra que a propaganda tirou da manga para a construção de impérios é a globalização, uma palavra de significado vago com conotações agradáveis de unificação. Entretanto, refere-se à aquisição dos recursos dos outros, a qualquer custo, e ao emprego ilimitado de mão de obra em condições de escravidão, que produz os bens supérfluos que são vendidos a esses outros escravos [refere-se à população consumista ocidental]. Escravos convencidos pela persuasão e pela influência.*
Certamente, esta população consumista, que é majoritária, está completamente endividada por seguir as consignas da publicidade que invade cada esfera de sua sociedade: nas ruas, bares, meios de comunicação, parlamentos, organizações políticas, ONGs, esportes…
Ver como muitas destas políticas de canhão [referência à ameaça de ataques militares, principalmente pela marinha] impuseram concessões que soam como as da “liberalização econômica” de hoje.
1- O Sião concedeu a extraterritorialidade aos súditos britânicos;
2- Os britânicos podiam comerciar livremente em todos os portos marítimos e residir permanentemente em Bangkok.
3- Os britânicos podiam comprar e alugar propriedades em Bangkok.
4- Os súditos britânicos podiam viajar livremente no interior com passes concedidos pelo cônsul.
5- Os impostos de importação e exportação foram fixados em 3%, exceto o ópio e os lingotes de ouro, que ficaram isentos de impostos.
Os comerciantes britânicos tinham permissão para comprar e vender diretamente com os siameses particulares.
Agora, comparemos isto com as imposições realizadas sobre uma nação recentemente submetida mediante a violência, o Iraque:
The Economist enumerava alegremente a “liberalização econômica” neocolonial do Iraque em um artigo intitulado: “Vamos todos à venda do pátio. Se tudo correr bem, o Iraque será um sonho capitalista.”
1- 100% da propriedade dos ativos iraquianos.
2- Repatriação total de lucros.
3- Condições legais iguais às das empresas locais.
4- Permissão aos bancos estrangeiros para operar ou comprar em bancos locais.
5- Um máximo de 15% para impostos sobre a renda e sobre sociedades.
6- Tarifas universais reduzidas a 5%.
Estão vendo que não há tanta diferença? Antes, os países submetidos eram chantageados em todo lado do mundo e hoje a mesma coisa é feita. Não havia condições de igualdade porque a Tailândia não podia naquele tempo impor essas condições ao Reino Unido, nem o Iraque pode fazê-lo com os Estados Unidos hoje.
Portanto, vamos deixar de falar de “livre comércio”, “globalização”, “liberalização” e de outras falsas palavras, e falemos do que realmente ocorre e acontece no mundo de imposições comerciais, de imposições militares, de exploração, de roubo e de escravidão. Pois hoje em dia ocorre isto, como acontecia no passado, e a escravidão ou semi-escravidão está tão ou mais estendida que nos séculos passados; al dispor em abundância daquilo que habitualmente se conhecia como escravidão e da outra escravidão de hoje em dia, na qual os seres humanos trabalham longas jornadas muito mal remuneradas apenas para pagar dívidas e, assim, não terminando de sair desse círculo que os destroi, oprime e espreme.7 8
A verdadeira guerra contra o terror começará quando os cidadãos estadunidenses se negarem a pagar impostos para financiar a ocupação ilegal da Palestina por parte de Israel. Esses mesmos impostos poderiam ser usados para ajudar os estadunidenses desempregados, àqueles que trabalham sem dispor de seguridade social, ou aos sem-teto. Mas, logicamente, se viéssemos a mencionar isto nos Estados Unidos, seríamos tachados de “anti-americanos”, “traidores”, ou alguns daqueles que “odeiam a liberdade”. De modo que todos mantêm silêncio, porque têm medo de expressar o que sentem.*
Notas:
[1] Tony Cartalucci. Iraq: invasion ends-neo colonial rule begins. Land Destroyer, 29.12.2011.
2 Se agranda la brecha entre ricos y pobres en todos los países. El Plural, 30.11.2012.
3 Michel Chossudovsky. Economic depression and the New World Order. Journal of International Affairs (Columbia University), Vol. 52, no. 1 (Fall 1998) 26 January 2002
* Propaganda. Documental de Corea del Norte sobre occidente. Enlace.
4 Michel Chossudovsky. Economic depression and the New World Order. Journal of International Affairs (Columbia University), Vol. 52, no. 1 (Fall 1998) 26 January 2002
5 Tony Cartalucci. Egypt today, Thailand tomorrow. Land Destroyer. Enlace
6 Tony Cartalucci. Egypt today, Thailand tomorrow. Land Destroyer
7 Khaled A Beydoun. The colour of slavery in Saudi Arabia. African Globe, 8.11.2013
8 T. Alexander Guzman. The debt matrix: Consumption and modern-day slavery. Global Research, 1.12.2013
Tradução: Jair de Souza.
Fonte:
http://miguel-esposiblelapaz.