Por Jair de Souza, para Desacato.info.
Quando o risco do fascismo parece estar batendo em nossas portas, muita gente boa entra em pânico. E, como é sabido, o pânico nunca foi um bom conselheiro para ajudar a solucionar problemas graves.
Com o jogo pesado do conjunto do aparelho explorador que se formou em torno do golpe de 2016 (incluindo boa parte de todos, ou quase todos, os seguimentos de poder do Estado e do “mercado”: mídia, Judiciário, Ministério Público, PF, militares, igrejas neopentecostais, etc), que tomou a decisão de impedir por quaisquer meios que se façam necessários a volta de Lula, ou do PT, ao comando político do país, o pudor e o disfarce democrático deixaram de ser preocupações de primeira grandeza. Agora, tudo está subordinado à tarefa primordial de aniquilar Lula e o PT de modo definitivo. E, neste jogo, os comandantes do movimento não aceitam que sejam feitas concessões, por pequenas que sejam.Pois é, não é fácil aceitar o que está ocorrendo. Mas, por outro lado, alguém com conhecimento das questões que envolvem as lutas de classes poderia esperar que fosse diferente na hora da real definição do jogo? Não posso acreditar que existam pessoas conscientes que não entendam que a realidade é, e sempre foi, assim. Só para refrescar a memória, o Chile era tido como o protótipo da democracia na América Latina, os militares chilenos eram alabados como o símbolo do profissionalismo e do respeito e acato à Constituição e às leis. Tudo isto até que o povo decidiu eleger o líder socialista Salvador Allende. A partir de então, os militares e a elite econômica do Chile passaram a simbolizar todo o oposto.
Por que queremos derrotar o fascismo? Embora as questões relativas a homofobia, misoginia, costumes sociais, etc., sejam importantes no debate do conjunto da sociedade, o que está em jogo agora não tem como pontos centrais estas questões. Nós sabemos disto. E os fascistas também sabem muito bem!
E por que eles se apegam quase que exclusivamente a tratar destes pontos? Simplesmente, porque eles sabem muito bem explorar os preconceitos enraizados na mente de nossa população. E preconceitos podem facilmente ser atiçados com poucas palavras, seja por twitter, whatsapp, Facebook, ou meios parecidos. Agora, conscientização não se consegue impor em poucas palavras, tão somente com eslogans. O processo de conscientização exige muito mais trabalho, pois se trata de retirar uma crença infundada que foi sedimentada na mente das pessoas através de décadas, ou séculos, de martelação constante. Ou seja, nesta luta para nos contrapormos a tão fortes preconceitos numa campanha eleitoral encurtada propositadamente, a chance de vitória da razão é quase que inexistente. E o que deveríamos fazer, então?
Diferentemente daquilo que ouvi de um jornalista de bom caráter, simpático à causa popular, o que está faltando não é um Haddad que se demonstre mais vigoroso em suas palavras, que fale forte como o faz Ciro Gomes. Em minha opinião, o que falta mesmo é que o PT e as forças realmente democráticas martelem aquelas questões que estão muito presentes no subconsciente de quase todos nossos trabalhadores: os direitos trabalhistas conquistados a duras penas através de séculos de lutas da classe trabalhadora. O PT deveria aproveitar os últimos dias de campanha na televisão não para falar grosso como Bolsonaro e os fascistas que o sustentam, e sim para perguntar a eles e a todo nosso povo por que eles não tratam de questões como aumento ou diminuição de impostos para ricos e pobres; a eliminação ou manutenção dos direitos trabalhistas; a destruição ou o revigoramento da Previdência Social; a entrega do patrimônio nacional ao grande capital financeiro estrangeiro, ou seu emprego em benefício de toda a nação; a continuação do plano de destruição da Petrobrás, ou sua retomada como uma empresa chave para que alcancemos nossa soberania e dignidade.
Estas coisas, sim, deveriam ser marteladas nos momentos que restam da campanha eleitoral. E penso isto porque aí está o que realmente importa. Tanto para nós como para eles. A gente quer colocar as riquezas do país a serviço de nosso povo, já eles querem que o patrimônio nacional sirva para ajudá-los a manter seus privilégios e impedir as maiorias de conquistar um nível de vida mais digno. É por isto que eles fogem do debate sobre estas questões.
E os trabalhadores devem saber que a luta para defender seus interesses não pode prescindir de sua participação e firme engajamento. Um povo que não luta por seus direitos não está em condições de conquistá-los. Nenhum partido vai trazer justiça e dignidade para o povo sem que o próprio povo assuma seu papel na luta. Mas, um partido que almeje conduzir o povo à vitória deve colocar com clareza aquilo que é de fundamental importância.