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Por Jair de Souza.
O que está em jogo nas próximas eleições presidenciais no Brasil vai muito além da simples escolha de um novo gestor (ou gestora) para o país. Está por definir-se o papel que os conglomerados midiáticos vão desempenhar a partir de então.
A reestruturação política mundial com base no neoliberalismo econômico atribuiu aos grandes meios de comunicação corporativos a tarefa que anteriormente era função primordial dos partidos políticos burgueses. Deste modo, em boa parte do planeta capitalista, tanto nas periferias como nos centros hegemônicos, a mídia corporativa passou a exercer na prática a representação dos interesses dos grupos capitalistas predominantes, assim como a coordenar o trabalho de defesa de seus interesses. Em várias oportunidades, os partidos políticos burgueses tradicionais que sobreviveram se transformaram em mero apêndice dos grandes grupos comunicacionais.
Nesta nova fase, o envolvimento dos cidadãos em atividades político-partidárias foi desencorajado. A atuação política passou a ser pintada através da mídia como algo nefasto, inerentemente corrupto e desprovido de ética. Os meios de comunicação de massas começaram a arvorar-se como os verdadeiros conhecedores dos interesses da sociedade, os únicos dotados de ética e moral para zelar pelos interesses da cidadania. Do posto honorífico de “quarto poder”, a mídia assumiu de fato o papel de “primeiro poder”. Ela era capaz de eleger e destituir presidentes; indicar e remover magistrados; acusar, julgar e condenar aqueles que considerasse que deveriam ser acusados, julgados e condenados. Em outras palavras, o poder midiático se sobrepôs a todos os outros poderes e instituições sociais.
Tudo parecia ir muito bem, até que um belo dia surgiram os questionadores, tanto do neoliberalismo econômico como do papel que a mídia desempenhava neste regime. É preciso admitir que tal questionamento só ganhou força e amplitude a partir da chegada de Hugo Chávez ao governo da Venezuela. Foi a partir daí que o barco do neoliberalismo, e com ele o da mídia corporativa que o representa, começou a fazer água.
Mas, retornando à situação do Brasil, a mídia corporativa, que tinha atuado em uníssono na sustentação ao governo de FHC, seguiu agindo de modo orquestrado em oposição a Lula em seu primeiro mandato. Na campanha eleitoral para o pleito de 2006, a mídia corporativa jogou pesado para substituir Lula por um nome de sua confiança (na ocasião, Geraldo Alckmin). Embora tivesse conseguido levar para o segundo turno uma eleição que estava quase perdida a poucas semanas do dia da votação, a politização do confronto que se deu na segunda fase significou uma derrota muito amarga para a mídia corporativa. Se imaginassem que este poderia ser o desfecho do adiamento da definição do processo, as máfias midiáticas teriam preferido perder logo no primeiro turno. Ficou claro para a maioria da população que os autoproclamados representantes da opinião pública não representavam a opinião do público. Uma aura de descrédito começou a soprar sobre os meios de comunicação corporativos.
O segundo mandato de Lula se caracterizou por uma intensa e sistemática campanha de oposição, tergiversação e calúnias travada pela mídia corporativa . Apesar de tudo isso, Lula está chegando ao final de seu governo com cerca de 80% de aprovação. Ou seja, a mídia corporativa martelou ano após ano, mês após mês, dia após dia, hora após hora, tudo de negativo que ela queria que fosse visto no governo Lula e, ainda assim, a esmagadora maioria do povo parece estar entendendo o contrário. Nada pode ser prova mais cabal da completa falta de sintonia entre mídia e população do que isto.
E aí chegou a campanha eleitoral para 2010. A mídia corporativa, novamente de modo coordenado, decidiu eleger um presidente que estivesse sob sua tutela. O nome que Lula propôs para concorrer a sua sucessão (Dilma) não deveria de forma alguma ser eleito. O problema deveria ser tratado quase como de vida ou morte. Tudo que tivesse que ser feito para impedir a vitória de Dilma seria (e está sendo) feito. Se fosse preciso manipular resultados de pesquisas para apontar uma preferência do público pelo candidato da mídia e assim influenciar os indecisos, as pesquisas seriam devidamente manipuladas; se fosse preciso voltar ao passado e trazer à tona a luta da candidata de Lula contra a ditadura e apresentá-la como se ela tivesse sido uma terrorista, como terrorista Dilma seria apresentada; se fosse preciso inventar falsas violações por parte da candidata de Lula de direitos civis de gente achegada ao candidato da mídia, tais violações seriam inventadas. E tudo mais que já foi feito, que está sendo feito e que ainda será feito até o dia das eleições para tentar impedir que Dilma se sagre vencedora.
Por incrível que possa parecer, depois de todo este trabalho, os órgãos da mídia corporativa se vêem obrigados a reconhecer que seu candidato não emplacou. Que a mulher que Lula propôs para sucedê-lo continua muito à frente na preferência do eleitorado. Diante deste panorama, podemos esperar de tudo nos dias que restam até 03 de outubro. Está muito claro que, se a mídia corporativa for novamente derrotada, será muito difícil que recupere seu poder tradicional e sua capacidade de atuar como legítimo representante dos interesses do capitalismo como um todo. Por outro lado, o simples fato de que a mídia corporativa consiga evitar a vitória de Dilma no primeiro turno já lhe dará uma sobrevida muito importante. Se isto ocorrer, terão demonstrado à nova presidenta que a máfia midiática ainda tem força e que não pode ser marginalizada do poder. Em outras palavras, a mídia corporativa teria seu poder de barganha fortalecido no caso de que conseguisse impedir uma vitória imediata de Dilma. No caso de uma vitória de seu candidato no segundo turno, então, seria a glória. Mas, acredito que esta hipótese é sonho abstrato demais até para nossa máfia midiatica.
No entanto, caso Dilma seja eleita já no primeiro turno, o grande derrotado não será José Serra (um mero peão dos interesses midiáticos) e sim aqueles que realmente impulsionam, ditam e controlam todo o processo político opositor. Não será fácil para a mídia corporativa recuperar-se de tal derrota. Não digo que seja impossível, mas será muito difícil. E se as forças populares souberem tirar proveito adequado desta derrota acachapante da mídia corporativa, é possível que as forças do capital hegemônico a descartem de vez como sua representante política. Tratarão de encontrar outros instrumentos e, possivelmente, os encontrarão. Mas isto vai levar um tempinho.
A esquerda revolucionária (de dentro e de fora do PT) deveria entender a importância que terá para o avanço da consciência do povo uma derrota das máfias midiáticas neste momento. Se os setores de esquerda revolucionários não se engajarem no processo de derrota do principal partido do grande capital na atualidade (o Partido Midiático), estarão facilitando as coisas para os reformistas (e até mesmo para os reacionários) que fazem parte da ampla frente política orientada por Lula. Hoje, a esmagadora maioria do povo trabalhador está com Lula porque sente que vem conquistando melhorias importantes para sua vida. Se a esquerda revolucionária se jogar contra este processo será vista como inimiga pelo povo (como já ocorreu no passado, no governo de Vargas) e só facilitará as coisas para os que desejam que o processo não vá além das pequenas reformas.
Derrotar as máfia midiáticas pode abrir campo para que as forças de esquerda revolucionária tenham melhores condições de exercer influência ideológica sobre grandes contingentes de trabalhadores. Para isto é necessário também estar juntos dos trabalhadores e não longe deles e falando sozinho.
¿Qué está en juego en las próximas elecciones en Brasil?
Por Jair de Souza.
Lo que está en juego ahora en las elecciones presidenciales en Brasil va mucho más allá de una sencilla escogencia de un nuevo gestor (o gestora) del país. Está por definirse el rol que los conglomerados comunicacionales van a desempeñar a partir de entonces.
El reordenamiento mundial con base en el neoliberalismo económico atribuyó a los grandes medios de comunicación corporativos la tarea que antes era función primordial de los partidos políticos burgueses. Así que, en buena parte del planeta capitalista, tanto en las periferias como en los centros hegemónicos, los medios corporativos pasaron a ejercer en la práctica la representación de los intereses de los grupos capitalistas predominantes, así como a coordinar el trabajo de defensa de esos intereses. En varias oportunidades, los partidos políticos burgueses tradicionales que lograron sobrevivir se han transformado en mero apéndice de los grande grupos comunicacionales.
En esta nueva etapa, el envolvimiento de los ciudadanos en las actividades político-partidarias ha sido desencorajado. La actuación política pasó a ser pintada a través de los medios como algo nefasto, meramente corrupto y falto de ética. Los medios de comunicación de masas pasaron a arborecerse como los verdaderos conocedores de los intereses de la sociedad, los únicos dotados de ética y moral para celar por los intereses de la ciudadanía. Del puesto honorífico de “cuarto poder”, los medios asumieron de hecho el papel de “primer poder”. Se tornaron capaces de elegir y destituir presidentes; indicar y remover magistrados; acusar, juzgar y condenar a los que considerasen que deberían ser acusados, juzgados y condenados. En otras palabras, el poder mediático se sobrepuso a todos los demás poderes e instituciones sociales.
Todo parecía andar muy bien, hasta que un bello día surgieron los cuestionadores, tanto del neoliberalismo económico como del rol que los medios desempeñaban en ese régimen. Hay que admitir que ese cuestionamiento ganó fuerza y amplitud solo después de la llegada de Hugo Chávez al gobierno de Venezuela. Fue a partir de ahí que el buque del neoliberalismo, y de los medios que lo representan, comenzó a naufragar.
Pero, volviendo a la situación de Brasil, los medios corporativos, que habían actuado de común acuerdo para el sostenimiento del gobierno de FHC, siguieron operando de modo orquestado en oposición a Lula en su primer mandato. En la campaña electoral del 2006, los medios corporativos se empeñaron a fondo para reemplazar a Lula por alguien de su confianza (en ese momento, Geraldo Alckmin). Aunque lograran llevar para una segunda vuelta (balotaje) una elección que ya se daba por perdida a pocas semanas de su realización, la politización del confronto que se dio en la segunda fase significó una derrota muy amarga para los medios corporativos. Si hubieran imaginado que tal cosa pudiera pasar, a lo mejor preferirían haber perdido en la primera fase. La mayoría de la población pudo ver con claridad que los autoproclamados representantes de la opinión pública no representaban la opinión del público. Una aura de descrédito empezó a soplar por sobre los medios de comunicación corporativos.
El segundo mandato de Lula se ha caracterizado por una intensa y sistemática campaña de oposición, tergiversación y calumnias por parte de los medios corporativos. A pesar de todo eso, Lula está llegando al final de su gobierno con cerca del 80% de aprobación. O sea, los medios corporativos repitieron año a año, mes a mes, día a día, hora a hora, todo lo negativo que querían atribuirle al gobierno de Lula, pero aun así la aplastante mayoría del pueblo parece opinar lo contrario. Nada puede ser prueba más cabal de la completa falta de sintonía entre los medios y la población que esto.
Y entonces llegó la campaña para las elecciones del 2010. Nuevamente de modo orquestado, los medios corporativos decidieron elegir un presidente que se mantuviera bajo su tutela. El nombre propuesto por Lula para sucederlo (Dilma) no debería de modo alguno ser elegido. El problema debería ser tratado como un caso de vida o muerte. Todo lo que tuviera que ser hecho para impedir la victoria de Dilma sería (y está siendo) hecho. Si fuera necesario manipular resultados de encuestas para que estas indicaran una preferencia del público por el candidato de los medios y con eso influenciar a los indecisos, las encuestas serían apropiadamente manipuladas; si fuera preciso volver al pasado y traer a flote la lucha de la candidata de Lula contra la dictadura y presentarla como si hubiera sido una terrorista, como terrorista Dilma sería presentada; si hubiera que inventar falsas violaciones de derechos civiles de líderes opositores por parte de la candidata de Lula, tales violaciones serían inventadas. Y todo más que ha sido hecho, que se está haciendo y lo que aún se hará hasta el día de los comicios para intentar impedir que Dilma sea victoriosa.
Por increíble que pueda parecer, después de todo ese trabajo, los órganos de los medios corporativos están obligados a reconocer que su candidato no ha encontrado su cauce. Que la mujer que Lula propuso para sucederlo continúa muy por delante de él en la preferencia del electorado. Frente a este panorama, podemos esperar de todo para los días que faltan hasta el 03 de octubre. Está muy claro que, si los medios corporativos son nuevamente derrotados, será muy difícil que recuperen su poder tradicional y su capacidad de actuar como legítimos representantes de los intereses del capitalismo en su conjunto. Por otro lado, si los medios corporativos logran al menos evitar la victoria de Dilma en la primera vuelta, eso ya les dará una sobrevida muy importante. Si eso pasa, tendrán demostrado a la nueva presidenta que los medios corporativos todavía disponen de fuerza y que no pueden ser marginados del poder. En otras palabras, los medios corporativos tendrían su poder de negociación revitalizado en el caso de que impidieran una victoria inmediata de Dilma. Ya en el caso de una victoria de su candidato en la segunda vuelta, eso entonces sería la gloria. Pero, pienso que tal hipótesis es un sueño por demás abstracto mismo para nuestra mafia midiática.
Sin embargo, si Dilma logra vencer ya en la primera vuelta, el gran perdedor no será José Serra (un simple peón de los intereses mediáticos) sino los que realmente impulsan, dictan y controlan todo el proceso político opositor. No les será fácil a los medios corporativos recomponerse de tal derrota. No estoy diciendo que les sea imposible, sino que les será muy difícil. Si las fuerzas populares saben sacar provecho adecuado de la resonante derrota de los medios corporativos, es posible que las fuerzas del capital hegemónico los descarten de una vez de la condición de sus representantes políticos. Tratarán de encontrar otros instrumentos y, probablemente, los encontrarán. Pero eso va a llevar un cierto tiempo.
La izquierda revolucionaria (la de dentro del PT y la de fuera) debería entender la importancia que tiene para el avance de la conciencia popular una derrota de las mafias mediáticas en este momento. Si los sectores de izquierda revolucionaria no participan en el proceso de derrota del principal partido del gran capital en la actualidad (el Partido Mediático), estarán facilitándoles las cosas a los sectores reformistas (y hasta mismo a los reaccionarios) que forman parte del amplio frente político comandado por Lula. Hoy la inmensa mayoría de pueblo trabajador está con Lula porque siente que ha venido conquistando importantes mejorías en sus condiciones de vida. Si la izquierda revolucionaria se juega en contra de este proceso será vista como enemiga del pueblo (como ya ha ocurrido en el pasado, durante el gobierno de Vargas) y solo le facilitará la tarea para los que desean que el proceso no siga más allá de pequeñas reformas.
Derrotar a la mafia mediática puede abrir campo para que las fuerzas de izquierda revolucionaria tengan mejores condiciones de ejercer influencia ideológica sobre grandes contingentes de trabajadores. Para eso es preciso también estar juntos de los trabajadores y no apartado de ellos y hablando tan solo para sí mismo.