O que está em jogo nas eleições? Parte 1

    Por Brigadas Populares/Florianópolis. 

    Nossos sonhos não cabem nas urnas

    EZLN – México

    São inúmeros os problemas enfrentados cotidianamente pelo povo de Florianópolis. Saúde, segurança, saneamento e transporte estão entre os mais lembrados e sentidos pela população segundo recentes pesquisas eleitorais.

    Estas pesquisas são utilizadas pelos partidos para formatar o discurso dos candidatos, afinal, para que todos virem “santinhos” é fundamental que os candidatos apareçam preocupados com os problemas da população.

    Mas será que é realmente para resolver estes nossos problemas que estes candidatos se apresentam? Será que alguém é contra as melhorias na saúde, no saneamento, na segurança e no transporte? É claro que não.

    Mas então o que realmente move a candidatura deste ou daquele? Afinal, o que de fundamental está por trás de tantas candidaturas para prefeitura de Florianópolis? O que de fato está em disputa nestas eleições?

    Florianópolis, onde a terra vale ouro!

    Desde a década de 1970 que a elite desta cidade percebeu que a melhor forma de lucrar em nossa cidade seria divulgando aquilo que tem de mais valor: as suas belezas naturais. Para isso começou uma forte campanha de divulgação da “ilha da magia” para atrair turistas e migrantes dispostos a pagar muito pela utilização de nossos espaços, de nossas localidades.

    O capital imobiliário e empreiteiro começou a agir produzindo novas localidades. Os espaços dessa ilha viraram uma grande matéria-prima para ambos. O objetivo era produzir um espaço mais agradável, mais “belo”, com mais infra-estrutura para a construção dos empreendimentos turísticos luxuosos acessíveis apenas para turistas ricos e de mansões para milionários em busca de tranqüilas casas de veraneio.

    O norte é expressão mais acabada deste projeto para quem a ilha é como uma linha de produção: os espaços naturais são a matéria-prima, o povo são os trabalhadores e as orlas com os hotéis, as mansões, as luxuosas “baladas” são a mercadoria final. Consequência deste projeto de cidade é hoje termos na ilha o terceiro metro quadrado mais caro do país. Jurerê internacional está atrás somente de Leblon e Ipanema no ranking da especulação imobiliária. Mais do que consequência este é o objetivo dos setores que lucram com isto. E quem são eles? As grandes construtoras, incorporadoras e empreiteiras em conjunto com as grandes imobiliárias.

    A preponderância destes setores na economia florianopolitana é evidente. Juntos o capital empreiteiro e imobiliário representam um quinto do PIB municipal (19%). Sendo que destes, as atividades “imobiliárias e aluguéis” representam 14%. É a maior parcela individual de nosso PIB, seguida de “comércio e serviços de manutenção” e “setor público” ambos com 12%. Ou seja, um prefeito ou uma câmara de vereadores pode ajudar (ou atrapalhar) o maior negócio de Florianópolis, que em 2009 movimentou R$1,5 bilhões!

    Isto explica o interesse destas empresas nas eleições. Explica acima de tudo sua generosidade para com os candidatos. Nas eleições para prefeitura de 2008 as empresas deste setor doaram R$1,3 milhões nas cidades da grande Florianópolis (Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu). Sendo que os prefeitos de Florianópolis, sozinhos, foram agraciados com 70% desse valor.

    As construtoras Koerich, Zita, Endeal, Encalso, Angra, Santa Rita, Engevix, Geotesc, Kilar, Formacco, Hantei, Dame, OK, Prosul, se mostraram extremamente generosas com os candidatos de Florianópolis e São José. Também foram extremamente democráticas: Dário e Djalma Berger, Espiridião Amin, César Souza Jr., Nildão, Ângela Albino, Fernando Elias e Círio Vandresen, todos foram contemplados, deixando claro que seus interesses estariam protegidos com qualquer um destes.

    Produzir uma cidade de luxo que sirva somente aos ricos é o projeto dominante na nossa ilha. E como em toda a fábrica os verdadeiros produtores, aqueles que efetivamente constroem estas mercadorias, são impedidos de se utilizar dela. Por isso, diariamente temos os nossos direitos mais básicos afetados. Desde o direito a uma moradia digna para todos até o acesso a cultura, passando pela segurança pública, pelo transporte público, pelo trabalho, pela educação, saneamento básico, lazer. Atacam nosso meio ambiente, o turismo popular e democrático, as formas artesanais de pesca e maricultura. Passam por cima das leis, compram juízes, órgãos municipais e ambientais, tudo para que seu projeto seja efetivado. Nada resiste ao apetite voraz da especulação imobiliária.

    Esta hegemonia do capital empreiteiro e imobiliário da nossa cidade em conjunto com seus dirigentes políticos só será derrotada pelo povo organizado na luta pelos seus interesses. Os movimentos sociais e comunitários dos trabalhadores é que poderão efetivamente construir uma nova maioria política nesta cidade e impor um projeto democrático e popular.

    No entanto, estamos hoje muito longe dessa possibilidade. A desorganização e desmobilização são evidentes. O oportunismo político através da lógica do apadrinhamento consegue hoje dirigir, inclusive, muitas periferias, sindicatos e movimentos culturais da nossa cidade.

    Nestas eleições estamos limitados por nossa própria fragilidade. Quem ganha com isso tudo, principalmente a especulação imobiliária, está tranquilo. Nenhuma das 3 candidaturas a prefeitura com efetivas chances de vitória representam um risco. O centro do poder econômico e político da nossa cidade não está em perigo nestas eleições. Trata-se de uma disputa já ganha, de uma farsa, de um verniz de “democracia” necessário para legitimar o próximo prefeito ou prefeita. Por isso a campanha está tão patética, tão monótona, tão deprimente. Por isso a frase mexicana nunca foi tão verdadeira: nossos sonhos não cabem nas urnas.

    Nossa atual situação eleitoral é expressão fiel dessa nossa fragilidade. Assim como o atual prefeito e a atual Câmara de Vereadores também o são. Não existe cabeça sã sem corpo forte. Enquanto não houver uma forte reorganização popular não mudaremos o quadro político-eleitoral de nossa cidade. O momento é de organização, organização e organização.

    Exemplos como o Fórum das Cidades, o movimento Ponta do Coral 100% Pública, o movimento pelo saneamento básico, a mobilização de comunidades empobrecidas e em áreas de risco na luta por moradia digna são exemplos do quanto e como a luta e organização popular podem avançar em Florianópolis. É para esta tarefa que estamos completamente lançados.

    Todo poder ao povo!

    Pátria livre: venceremos!

    Visite: http://brigadaspopularessc.blogspot.com.br

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