Longe de enveredar por explicações complexas, Argo é, dessa margem do rio em que baseio minhas suposições, um filme que produz sensações de rompimento com a forma de contar histórias tradicionais do cinema hollywoodiano. É, pois, dessa perspectiva que me atrevo a dizer algumas palavras sobre a sua premiação como melhor filme em 2013.
Argo é marcado por constituir sua narrativa a partir do verossímil. Sobretudo na primeira parte do filme, em que enredo e personagens articulam-se dentro de uma perspectiva passível de reconhecer-se como real, semeando ilusões através do discurso, baseado em elementos que vão da autocrítica ao medo da execução sumária.
“Em princípio, parece colocar em xeque o mito do herói americano. Seis diplomatas, despidos do heroísmo tradicional, reconhecem o medo como parte do processo de luta pela sobrevivência. Fogem da sede da sua embaixada, que ora está tomada pelos manifestantes que derrubaram o poder político instaurado com apoio americano”. (O que assisti em Argo)
Talvez os critérios para a escolha de Argo como melhor filme tenham a ver, puramente, com os elementos da linguagem cinematográfica. Mas, não acredito. Como ferramenta ideológica, Argo apura a produção de sentidos sobre o isso e o aquilo, aprofunda-se na verossimilhança e na humanização dos heróis de guerra, e suplanta caricaturas ao implantar outros elementos na luta pelo convencimento. Busca o politicamente correto, mas salvaguardando o status quo. Argo amansa e interfere no padrão de construção do estereótipo, de forma a aprimorar as facetas de um dos pilares da indústria cultural: construir discursos e reproduzir ideias – as que lhes interessam