Ninguém pode se considerar mais seguro. Os eventos de calor extremo que estão acontecendo no Canadá são prova disso. Ninguém jamais imaginaria, naquelas regiões, que se pudesse chegar a quase 50 graus. Ninguém teria pensado que precisara fazer alguma coisa para evitar as centenas de mortes, os danos às linhas de transmissão de energia e às estradas, os incêndios que começam a se espalhar.
A reportagem é de Mariella Bussolati, publicada por La Repubblica, 03-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Já está claro para todos que teremos que nos preparar para o aumento das temperaturas, mas os recordes da Colúmbia Britânica infelizmente mostram que temos muito pouco tempo para evitar que o planeta fique quente demais para hospedar o ser humano. Embora possamos viver até mesmo acima dos 50 graus se o clima for seco, quando a umidade também aumenta, não conseguimos mais expelir a água para nos resfriar. Com 100% de umidade, temos dificuldades mesmo a 35 graus, mas essa condição está se tornando cada vez mais frequente.
A bolha de calor canadense se formou porque o ar quente acima do mar encontra o ar terrestre e depois não consegue subir porque a alta pressão atmosférica o empurra para baixo. O calor, portanto, tem um efeito de acumulação. Além disso, o Oceano Pacífico é comparável a uma piscina cujo aquecimento foi ligado. A temperatura sobe rapidamente perto dos pontos de deságue, que estão em direção à costa ocidental. Este processo cria convecção que faz com que mais ar quente se acumule. Quando os ventos predominantes movem o ar para o leste, a corrente de ar é desviada e forma uma armadilha que força o calor para o sul.
No continente europeu, ao contrário, tudo depende do degelo do Ártico e da diminuição da cobertura de neve nas montanhas europeias. As ondas chegam quando a pressão atmosférica transporta as massas de ar quente do norte da África.
As ondas de calor sempre estiveram presentes, mas as mudanças climáticas estão tornando-as mais extremas e mais disseminadas: o mundo inteiro está em risco, da Sibéria à Austrália. Em Jacobabad, Paquistão, no final de junho, foram alcançados 52 graus. 20 crianças em uma escola perderam a consciência e foram levadas para o hospital. Felizmente elas sobreviveram. Em Bangladesh, 68.000 hectares de arroz foram destruídos em abril e 300 agricultores sofreram perdas econômicas significativas. Anomalias com relação às médias sazonais também foram registradas na China e na Europa, não apenas no verão, mas também no inverno.
David King, criador do Climate Crisis Advisory Group, alerta que os cientistas vêm tentando entender a gravidade da situação há décadas. Eles não foram ouvidos. Não há mais tempo. E agora, ele diz, “Nenhum lugar é seguro … quem teria previsto uma temperatura de 48/49 ° C na Colúmbia Britânica?”.
Na realidade, os modelos climáticos deveriam ser constantemente atualizados. O aquecimento do Ártico está mudando todas as previsões anteriores e tanto a gravidade do que está acontecendo quanto os limites estabelecidos por Paris precisam ser repensados. No entanto, apenas 13 países até o momento de colocaram à obra e estão atualizando seus empenhos.
As ondas de calor canadenses devem, portanto, ser consideradas a campainha do final do recreio, especialmente em vista da cúpula da COP26 em Glasgow, que será realizada em novembro.