O cenário é o Irã de 1979. E Argo o apresenta como espaço/tempo para a construção de sentidos sobre a História. O recorte, a deposição do xá, apoiado pelos norte-americanos. O recurso, a flexão que dá verossimilhança ao relato histórico. Em outras palavras, toma-se a ‘imparcialidade’ como concepção para relatar a história de um agente americano que resgata diplomatas de uma cena de guerra no Irã.
Em princípio, parece colocar em xeque o mito do herói americano. Seis diplomatas, despidos do heroísmo tradicional, reconhecem o medo como parte do processo de luta pela sobrevivência. Fogem da sede da sua embaixada, que ora está tomada pelos manifestantes que derrubaram o poder político instaurado com apoio americano. Em voz e expressão, agentes da CIA fazem a autocrítica.
Constituído o primeiro impacto da mea culpa estadunidense, segue o ritmo tradicional. Autoridades desenvolvem um plano de resgate dos seis fugitivos. Além deles, uma massa de reféns americanos só serão devolvidos ao seu país com a extradição do xá, deposto pelo povo e salvaguardado pelo governo de Carter.
O argumento principal, a operação Argo, desenvolvida por um agente da CIA e dois comparsas do cinema hollywodiano. Travestido de cineasta que procura uma locação perfeita para seu filme de ação, Tony Mendez (Ben Affleck) busca resgatar o grupo do solo iraniano.
Argos apresenta o de sempre: o mito do herói e o sentido ocidental de civilização. O bom iraniano aparece no campo de refugiados, na personagem de Sahar. Empregada do consulado canadense e representação do Irã cordial, não comunga com os ‘revolucionários e seus métodos’, tampouco delata aos seus pares o engodo do embaixador canadense ao abrigar os fugitivos diplomatas da embaixada americana.
Embora a linguagem seja mais criteriosa, apresentando a realidade da operação menos pelos recursos técnicos e mais pela interpretação, Argos não é um filme que apresente novas concepções. No princípio, e de leve, sugere a aflição iraniana e reconhece, em tom abstrato, o erro americano. Mas, em seguida, lança uma saraivada de elementos prontos: herói-bom moço; América civilizada x oriente brutalizado; toda a humanidade nos diplomatas, nenhuma aos fanáticos. No limite, faz um reflexão da história intervencionista americana, sugerindo que se aprenda e com os erros passados para tomar decisões políticas presentes.
Gosto de filmes históricos, mas é necessário preparo para os discursos hegemônicos. Eles são deveras convincentes. Como em Argos. Como em todos os outros, em que as exceções são sempre especiarias da indústria cultural.
Imagem tomada de: www.guardian.co.uk
Outra fonte sobre o filme.
http://blogconvergencia.org/blogconvergencia/?p=870