Por José Álvaro de Lima Cardoso.
Se o candidato fascista Jair Bolsonaro se eleger, os golpistas terão conseguido, através de um processo fraldado, institucionalizar, e praticamente “fechar”, o golpe de Estado de 2016. Corremos o risco, ademais, do processo eleger Bolsonaro com folga, o que será acachapante para as forças democráticas. Seria de fato desmoralizante eleger um fascista, antipovo e anti-Brasil, e ainda com boa margem de vantagem. A tendência é a arrogância e a agressividade da extrema direita, tomar definitivamente as ruas contra negros, pobres, LGBTs, e trabalhadores em geral.
Mas a situação não é grave apenas porque o candidato fascista pode obter uma vitória eleitoral. Isso, claro, é um sintoma da gravidade da situação. O problema essencial é o de que os golpistas, ganhando com Bolsonaro, irão dar continuidade à sua política de política de guerra contra o povo. Esta é a questão central. Se o candidato do fascismo se eleger, irá colocar em prática um programa de governo que fará a política econômica de Temer, nestes dois anos, parecer brincadeira de criança. Isso são os próprios membros da equipe do candidato que dizem. Por exemplo, o economista Paulo Guedes, virtual ministro da Fazenda de Bolsonaro, já antecipou que o programa que irão implantar é o mesmo do Temer, só que muito acelerado.
O candidato já antecipou que quem irá tomar as decisões econômicas no seu governo será o chamado “mercado”. Ao mercado já sinalizou que irá entregar o encaminhamento da reforma da previdência uma das primeiras medidas a serem encaminhadas. Considerando a relação de Bolsonaro com o capital e com os militares, fica fácil prever que tipo de reforma da previdência seria levada à cabo. Paulo Guedes já falou que, se depender dele, privatizaria todas as estatais, sem exceção. Segundo Bolsonaro, o grande problema da previdência no Brasil é o funcionalismo público que teria uma “fábrica de marajás”.
Como é ainda candidato, e alguns incautos acreditam que ele seja “nacionalista” está dizendo que é contra a privatização do “miolo” da Eletrobrás e da Petrobras. Ou seja, no caso da energia elétrica, pretende privatizar a distribuição e não a geração de energia. De qualquer forma este é um discurso de candidato. Considerando a falta de programa e o desconhecimento de economia, este candidato irá comer na mão dos “especialistas” do setor e aí tudo pode acontecer. Quanto à Petrobrás, vem falando em privatizar o refino do petróleo. Sobre o Pré-sal, repete, como papagaio amestrado, a fala do seu dono, o Império americano: “Nós não temos recursos para explorar o pré-sal. Arrebentaram com a Petrobras. Daqui a 20 anos, 30 anos a energia será outra. O refino dá para privatizar. Mas tem que ver o modelo. Para exploração, temos tecnologia mas não temos recurso.” Segundo o candidato da extrema direita mais de 50 estatais no Brasil dão prejuízo e a ideia é partir imediatamente para privatizar ou até mesmo extinguir tais empresas.
Lendo atentamente o que o candidato e sua equipe repetem sobre os temas econômicos e sociais, não precisa ter bola de cristal para saber que irão acelerar o programa de guerra contra o povo que Temer vinha cumprindo:
a) entrega das riquezas naturais (petróleo, água, minerais essenciais, terras férteis, etc.). É grande a voracidade neocolonial do império;
b) privatização radical entrega das estatais a preço de banana. Se tiverem correlação de forças para tal, irão entregar também a Petrobrás;
c) enfraquecimento e diminuição do Estado (o Estado republicano, evidentemente);
d) liquidação dos direitos sindicais e das políticas sociais;
e) destruição do conceito de nação e de soberania (querem que o Brasil vire um protetorado dos EUA).
Como desgraça pouca é bobagem, num eventual governo Bolsonaro o Brasil estará automaticamente alinhado à política externa dos EUA, que empurra o Brasil para uma agenda militarista e hostil aos vizinhos latino-americanos. Como se sabe, as hostilidades do governo estadunidense contra a Venezuela vêm numa escalada total. Aparentemente o desejo do império norte-americano é utilizar países da América do Sul, incluindo o Brasil, em uma investida contra a Venezuela. Não se consegue implantar uma agenda contra a população sem intimidação e violência, e sem a adoção de métodos fascistas. É o que estamos assistindo em todo em país, mesmo antes do segundo turno das eleições. Com a possibilidade de eleição de Bolsonaro, as instituições serão definitivamente ameaçadas, os sindicatos estarão em grande perigo, os movimentos sociais estarão ameaçados. Irão acabar com a fresta de democracia que ainda resta no país e as liberdades democráticas serão definitivamente abolidas.
O certo é que não iremos derrotar o fascismo com medidas “meia boca”, via redes sociais, alianças com a direita e ações judiciais. A extrema direita vem agredindo pessoas frágeis, idosos, pessoas em menor número e em situação de fragilidade, etc. Uma vitória do Bolsonaro deixará a direita ainda mais assanhada e, não temos dúvida, iremos para uma ditadura. Os trabalhadores são a única força que pode resistir a um ataque dessa magnitude contra a democracia e o país. Só que eles têm que ser mobilizados e organizados.
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[avatar user=”Jose Alvaro Cardoso” size=”thumbnail” align=”left” link=”file” target=”_blank” /]José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.