Por Sebastião Costa.*
Um olhar mais apurado no organograma do PODER REAL e vai-se enxergar no topo, a Casa Grande. A ela conectado, o braço econômico, mais forte, mais robusto. Ao lado, o braço midiático com o imenso poder de tanger boiadas, e no vértice dessas duas vertentes, o ‘obediente’ poder político. Ainda inserido no contexto desse organograma, o braço judiciário interligado diretamente à varanda da Casa Grande.
Todo e qualquer brasileiro, de qualquer perfil ideológico, uma vez alçado ao patamar do poder político deve seguir fielmente as diretrizes pré-estabelecidas daquele organograma.
Aquele presidente da linha progressista teve toda liberdade de transferir 35 milhões de pobres e miseráveis para a classe média; pôde construir 1 milhão e quinhentas mil casas populares e teve a ousadia de botar anel no dedo dos pobres, implantando 14 universidades públicas e 173 Campus universitários. Só não podia mexer nos cofres da Casa Grande. Ele pôde também nomear o ministro do Trabalho, da Previdência, da Educação, só nunca teve a mais remota autoridade para emplacar o ministro da Fazenda, sem a devida aquiescência da galera que reside na cobertura da pirâmide.
O povão que habita a base da pirâmide, se assaltar à mão armada ou furtar à mão desarmada vai sempre encarar a cara feia da lei. Sendo que lá no topo, a rapaziada deita e rola à luz do dia ou na calada da noite. É que o judiciário, como já se viu, está inserido no organograma do PODER REAL e deve observar as normas estabelecidas.
Aliás, esse mesmo judiciário, a depender da figura política envolvida costuma seguir as trilhas indicadas pelo braço midiático.
De um lado, uma burguesia de mentalidade troglodita com insensibilidade social passeando pelas nuvens e lá no lado esquerdo da rua muita gente bem intencionada, mas fragmentada pelo pedigree conflituoso e sem rumo nem prumo no que se refere a um projeto unificado, enxergando a imensa necessidade de conscientização dos segmentos sociais mais vulneráveis, eternamente marginalizados por políticas econômicas em plena sintonia com os interesses daquela burguesia.
Não se pode deixar de admirar no entanto, a competência extraordinária dessa elite. O poder político, por exemplo, por onde transitam os projetos para manter seus privilégios, é território quase exclusivo da burguesia nacional.
Dos quarenta presidentes do país, a contar desde a Proclamação da República, apenas quatro conseguiram subir os degraus do poder sem rezar integralmente no catecismo ideológico da Casa Grande: Getúlio, foi ‘suicidado’, Jango, golpeado, Dilma, derrubada e Lula foi remetido ao calabouço da República de Curitiba.
Muitas palmas para a competência de dois braços do organograma: o midiático e o judiciário.
No dia 29 de março de 1549, aportou na Baía de Todos os Santos o pau-mandado do império português, Tomé de Souza, primeiro Governador-Geral do Brasil. Há de se admirar que nesses 472 anos de vida administrativa nunca, jamais a moçada que compõe a oligarquia dominante se desapeou do Poder Real.
Indispensável registrar, que esse Poder Real adquiriu muito mais musculatura com a força do capital financeiro internacional, que chegou no início dos anos 90 montado no neoliberalismo da Dama de Ferro inglesa e do caubói norte-americano.
A considerar as fragilidades gritantes das forças progressistas e a insuperável competência da Casa Grande, luneta nenhuma consegue visualizar no horizonte do Brasil qualquer alteração mais consistente na estrutura desse organograma.
Enquanto isso, a cara feia da fome, da pobreza, da miséria segue assombrando milhões de brasileiros que habitam os grotões de nossa Pátria Amada Brasil.
*Médico e Fundador do Coletivo Amigos da Democracia.
Edição: Heloisa de Sousa