O Pau que der em Ney, dá em Omar. Por José Ribamar Bessa Freire

Imagem: Conjunto de capturas

“Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente.
[…] estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (Apocalipse 3:14)

 – Em verdade, em verdade vos digo, eu, Taquiprati, ouvi uma grande voz, como de trombeta, que dizia: “o que vês, escreve-o”.  O que vejo é aquilo que minha boca vai agora desengolir: o senador Omar Abdel Aziz (PSD/AM vixe vixe), indicado para presidir a CPI do Genocídio, não é governista, nem oposicionista e muito menos independente. Não é frio, nem quente, nem morno. Muito pelo contrário (Taquiprati 4:18).

Por José Ribamar Bessa Freire em Taquiprati.

Esta seria a resposta que um amazonense daria à competente e charmosa jornalista da Globo News Natuza Nery, que andou especulando sobre o posicionamento de Omar. Digo que ele não fede, nem cheira, embora haja quem aposte que cheira. A posição dele é sempre pro-Omar, quer se dar bem. Vai tentar sabotar a CPI se Bolsonaro lhe oferecer alguma vantagem suculenta. Quando engrossa a voz, afirmando que é a favor da ciência, deve ser para se cacifar.  Sua ficha suja o fragiliza diante de um governo que busca usar a Polícia Federal em benefício próprio.

Foi sempre assim desde 1991-1992, quando o então vereador boicotou a CPI dos ressarcimentos médicos na Câmara Municipal de Manaus, até 2021, quando, já senador, bancou o ex-deputado Pauderney Avelino para secretário municipal de Educação de Manaus. Entre um fato e outro, muita água correu debaixo da ponte sobre o igarapé de Manaus, incluindo a Operação Vertex que investiga prática de crimes de corrupção passiva, lavagem de capitais e organização criminosa, quando a Polícia Federal, em 2019, cumprindo mandado de busca e apreensão na casa do senador, prendeu, além de sua esposa, seus três irmãos.

Com os bens bloqueados e o passaporte retido por decisão judicial, Omar Aziz é refém do governo Bolsonaro, que com um simples piparote pode desmoralizá-lo ainda mais e tornar sua vida um inferno. Não tem autoridade moral para presidir a CPI, como mostra sua trajetória na vida pública iniciada na Câmara Municipal de Manaus. Já começou declarando sábado (17) à Folha SP que “a CPI não pode começar com acusações prévias a Bolsonaro”.

O quibe cru

A CPI dos ressarcimentos médicos da Câmara foi criada para apurar o rombo escandaloso nos cofres públicos feito sob a alegação de que se tratava de reembolsar as despesas de saúde dos vereadores e de seus familiares: mulher, filho, sogra, primos, sobrinhos, cunhados e xerimbabos. Em nove meses, de janeiro a setembro de 1991, a Câmara pagou Cr$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de cruzeiros) a 15 edis para que eles e 156 dependentes seus “pudessem se curar” de uma “terrível epidemia”. Só permaneceram sadios cinco vereadores: Francisco Praciano, Serafim Correa, Vanessa Graziotin, João Pedro e Jefferson Peres.

Todos os demais foram acometidos por doenças. O vereador Omar Aziz viveu todo aquele tempo atacado por fortes sintomas de empachamento epigástrico, com eructação excessiva e flatulência sonora, causadas talvez pela grande quantidade de quibe cru que devorava diariamente.  O primeiro cheque que recebeu foi no valor na época de CR$ 1.942.000,00, num escândalo que foi combatido pelos cinco vereadores citados, um deles, Francisco Praciano, vítima de um atentado. Quinze tiros atingiram sua residência.

A coluna Taquiprati denunciava, a cada semana, esses fatos. Omar Aziz ameaçou, da Tribuna da Câmara Municipal, que iria dar umas porradas nesse locutor que vos fala, agindo como um truculento bolsonarista “avant la lettre”. Eu até brinquei, escrevendo que não responderia às agressões, porque não era covarde para bater em doente que se enfermou tantas vezes no espaço de nove meses. E se ele me acertasse, eu exigiria ressarcimento médico. Pela tabela da Câmara.

Depois de vereador, a trajetória do engenheiro Omar Abdel Aziz foi marcada por lambanças como deputado estadual, vice prefeito, vice-governador, governador e senador. Se seus cálculos políticos o levarem a conduzir a CPI do Genocídio de forma séria, ele pode se redimir com o eleitorado e – quem sabe? – ressuscitar aquele jovem que um dia foi filiado ao PCdoB e atuou no movimento estudantil. Terá de buscar outros aliados. Será? Perguntemos ao Pauderney.

Pau Mandado

Dizem que o atual secretário municipal de Educação, Pauderney Avelino, é da cota de Omar Aziz, que o indicou para o cargo. Segundo matéria assinada por Simone Lima neste Diário, o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Mário de Mello, admitiu uma representação da Secretaria Geral de Controle Externo, que aponta irregularidade em suspensão de contrato da Semed para implantação de um regime especial de aulas não presenciais no sistema de ensino, como medida de prevenção à disseminação do coronavirus.

Pau – como é chamado na intimidade – é um velho conhecido do TCE, que em março de 2016 já o condenou a devolver R$ 4,6 milhões aos cofres da Prefeitura de Manaus. Uma auditoria do Tribunal de Contas verificou que entre janeiro e dezembro de 2013, quando ele era secretário de Educação do município, houve sobre preço nos contratos de alugueis de prédios usados como escolas. O TCE o condenou a pagar uma multa de R$ 23.000,00.

Ex-deputado federal, derrotado na última eleição, Pau usa o cargo para tentar retornar a uma cadeira no Parlamento. Ele tenta também emplacar nomes para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), onde já foi alvo de representação por ter entregue terras para obter retorno de votos, ao ser citado por abuso de poder econômico e condutas proibidas por lei. O INCRA hoje está na mira da Polícia Federal, com a Operação Constantino deflagrada em meados de março para apurar queimas em terras da União e grilagem com a participação de servidores do órgão.

Com sua trajetória, além de ter aliados como Pau, Omar Aziz tem muitas “negociações políticas” a fazer com o governo federal. Vai usar a presidência da CPI para ser beneficiado com a impunidade como seu colega Flávio Rachadinha?  O Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto?

 

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