O Partido Comunista Marxista-Leninista e a luta contra o golpe imperialista

Bessinha 2

 

Partido Comunista Marxista-Leninista (Brasil).

Matéria publicada no Jornal Inverta, em 13/02/2015.

Apesar do círculo de fogo que o imperialismo preparou nos últimos anos contra a América Latina, ensaiando inclusive o retorno dos golpes com as experiências de Honduras (2009) e do Paraguai (2012), o ano de 2014 representou um fracasso para seus planos. A esquerda venceu as eleições em El Salvador, no Brasil, na Bolívia e no Uruguai. Além disso, os candidatos favoritos do imperialismo perderam na Costa Rica, no Panamá e na Colômbia, o que permitiu inclusive que, nesta última nação irmã, fossem mantidas as condições para o avanço dos diálogos de paz realizados em Havana entre as FARC-EP e o governo de Santos, que buscam acabar com a guerra que há mais de 50 anos as oligarquias impõem àquele país.

A reeleição da presidenta Dilma Rousseff, apesar de toda a campanha de desestabilização, deixou bem claro os limites do poder do imperialismo e de seus capachos. É muito significativo o fato da candidatura do PT ter sido conduzida pelos trabalhadores à vitória, mesmo contra a vontade de praticamente todos os ricos de nosso país, que não esconderam sua preferência por Aécio Neves.

Porém, essa vitória não foi bem digerida pelas classes dominantes, e a mesma articulação que esteve por trás da tentativa de Golpe Eleitoral foi mantida e intensificada, agora sob a palavra de ordem do Impeachment.

Como havíamos afirmado no documento “Denúncia do Golpe Eleitoral contra a reeleição de Dilma Rousseff no Brasil”, o setor mais reacionário das oligarquias brasileiras, aliado ao imperialismo, busca retomar o governo através de um golpe, travando a guerra suja em três frentes: a guerra econômica, a guerra midiática e as infiltrações do imperialismo no Judiciário e na Polícia Federal (que sempre foi controlada pelos Estados Unidos, como admitiu, em 2004, Carlos Costa, chefe do FBI por 4 anos em nosso país). Neste momento, estes três movimentos coincidem com especial força em uma ação que tenta destruir a Petrobrás, a maior empresa do Brasil.

O cartel formado pelas empresas de petróleo dos países imperialistas (CHEVRON, ESSO, BP, SHELL, etc) nunca aceitou o regime de partilha criado em 2010 para regulamentar a produção no pré-sal, que mesmo sendo insuficiente do ponto de vista dos trabalhadores, pois não garante o monopólio estatal sobre a produção de petróleo (instituído em 1953), esse regime é um avanço em relação à lei de Petróleo do governo FHC, que abriu o mercado para as empresas estrangeiras.

O modelo de partilha foi bem sucedido, a empresa elevou sua produção batendo diversos recordes, finalizando 2014 com uma produção média de 2,17 milhões de barris de petróleo por dia, e a produção no pré-sal ultrapassou em dezembro os 700 mil barris diários. Em três anos, a exploração do pré-sal chegou ao mesmo volume de produção que a empresa levou mais de três décadas para atingir.

Para o desespero do imperialismo, a exploração do pré-sal pelo Brasil somou-se à constituição do Banco dos BRICS, com capitais suficientes para rivalizar com o FMI, e o anúncio de uma série de bilionários investimentos chineses na infraestrutura latino-americana. Tudo isso representa uma ameaça com a qual a hegemonia dos Estados Unidos não pode conviver e a burguesia daquele país sabe que a única chance de conter o avanço do mundo multipolar é sabotar essas iniciativas enquanto elas ainda estão na sua infância.

A tentativa de se destruir a Petrobrás e com isso afundar o governo Dilma no início do seu segundo mandato é a resposta do imperialismo à criação dos BRICS. Além disso, a escalada do conflito na Ucrânia, levando a OTAN às portas da Rússia, o fato de Obama ter recebido o Dalai Lama, ingerindo-se nos assuntos internos chineses, e a visita do presidente dos EUA à Índia são ações que, nestes primeiros meses de 2015, buscam impedir a consolidação deste bloco.

A Petrobrás está sendo cercada de forma semelhante ao que ocorre com a Gazprom, gigante petrolífera russa, que foi alvo de sanções econômicas aplicadas pelo governo dos EUA. No caso da empresa brasileira, a ação foi mais sutil, mas tudo caminha para que no futuro os EUA a sancionem também, alegando prejuízo dos investidores da Bolsa de Nova Iorque.

O que dizer do fato do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter embarcado no dia 6 de fevereiro aos Estados Unidos para solicitar cooperação da justiça daquele país nas investigações? Nosso país pedirá colaboração justamente ao principal interessado na destruição da Petrobrás.

Um dos principais alvos da NSA, agência de espionagem dos EUA, conforme documentos vazados por Edward Snowden, a Petrobrás teve seus computadores invadidos e todos os seus dados expostos. A NSA conta com centenas de milhares de analistas e com os mais sofisticados computadores do mundo, o que lhes deu capacidade de processar toda essa informação que incluía todas as comunicações entre funcionários e diretores, toda a contabilidade e todos os documentos técnicos da empresa. Alguém duvida que este seja um componente importante para entendermos a Operação Lava-jato?

Passando ao plano da guerra midiática, sempre cabe ressaltar que o principal aliado dos imperialistas e protagonista dos intentos fascistas é a mídia burguesa, que age impunemente no Brasil semeando o ódio, o preconceito e os antivalores do capitalismo. Essa mídia é controlada por poucas famílias, todas aliadas e saudosistas da ditadura militar, a começar pela família Marinho, que se tornou a mais rica do Brasil, tendo acumulado R$ 66,5 bilhões às custas do povo brasileiro.

Já a guerra econômica é operada principalmente através dos mercados financeiros e de instituições como as agências de classificação, que concedem notas para as empresas e assim determinam quais terão acesso ao crédito e quais não terão. A volatilidade no preço das ações da Petrobrás, que chegaram a cair e subir mais de 10% em apenas um dia, também deveria estar sendo investigada. Esse movimento, completamente alheio à produção da empresa, é uma das formas pela qual os grandes capitalistas centralizam ainda mais capital.

A tentativa de paralisar a Petrobrás, as empresas que gravitam em torno dela e as grandes empreiteiras, que desde a ditadura militar tocam as obras de infraestrutura, ameaçam a formação de capital fixo em nosso país, um presente para aqueles que querem manter a atual divisão internacional do trabalho no mundo. Já ocorreram dezenas de milhares de demissões por conta da paralisação de obras, e outras centenas de milhares de empregos estão em risco.

Em um nível mais aprofundado, o pano de fundo para os problemas econômicos vividos mundialmente é o agravamento da Crise do Capital, que têm sua origem nos países desenvolvidos, mas que é sentida principalmente nos países em desenvolvimento por conta dos mecanismos de centralização, como as taxas de juros, através dos quais a mais-valia explorada aqui é remetida em massa para os países centrais.

Isso explica as ações de seus mercenários, lesas-pátrias e toda uma gangue de malfeitores e bandidos que atuam em todo o mundo, mas se concentram especialmente nas regiões ricas em matérias-primas, com mão de obra abundante e com baixa aplicação de tecnologia na produção (pequena formação de capital fixo), como é o caso do Brasil.

Enquanto a riqueza não para de se concentrar no polo dos detentores do capital, no polo oposto nosso povo sofre com os efeitos da decomposição desta ordem social podre. Exemplos disso são a falência dos sistemas de educação e saúde, a crise do transporte público, além das balas perdidas que fulminam nossas crianças e adolescentes, criando uma comoção usada de forma calhorda pela mídia para justificar a pena de morte vigente, embora não legalizada em nosso país, sem nos esquecermos das drogas, que também servem para legitimar a matança, levando a população que não entra no mercado de trabalho a se acumular nos caixões e cemitérios.

Qual deve ser a resposta da classe operária diante desta situação? No plano tático devemos denunciar as manobras do imperialismo que buscam desestabilizar o governo da presidenta Dilma e trabalharmos pela união de todas as forças progressistas em nosso país no combate ao golpismo. Diante da virulência dos ataques imperialistas e da gravidade do momento atual, a posição da classe operária deve ter um componente defensivo, ou seja, defender tudo o que já foi conquistado e não permitir o retrocesso desejado por aqueles que foram recentemente derrotados no plano eleitoral. A própria presidenta se manifestou publicamente, assim como o ex-presidente Lula, na celebração dos 35 anos do PT, denunciando o Golpe pelo seu nome. Devemos escolher quais batalhas travaremos agora e não aceitarmos a pauta criada pela imprensa burguesa, principalmente pelas Organizações Globo.

No plano estratégico, a Crise do Capital traz à tona as condições objetivas em nosso território para que a classe operária supere o sistema do Capital, e a nós, comunistas revolucionários, cabe a tarefa de demonstrar aos trabalhadores proletários e seus aliados o esgotamento da social-democracia e que a única saída para a humanidade é a criação de um mundo sem patrões, a sociedade socialista, dirigida diretamente pelas organizações subjetivas da classe operária. Por isso o PCML deve avançar em seu trabalho de Refundação do Partido Comunista em todo o país e aprofundar seus esforços na organização dos Comitês de Luta pelo Socialismo.

Imagem do Bessinha, tomada de: www.conversaafiada.com.br

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