O nazismo no governo Bolsonaro e a escalada do racismo no Brasil

Silvio de Almeida (DIVULGAÇÃO/CHRISTIAN PARENTE)

Por Silvio Almeida, do Mídia 4P.

Teoricamente há uma distinção entre as ideologias de “supremacia branca” e de “superioridade branca”. Essa distinção, aliás, é essencial para distinguir a história das relações raciais no Brasil e países como a Alemanha, EUA e África do Sul.

No Brasil, a ideia de “superioridade branca” converteu-se no final do sec. XIX no assimilacionismo. Foi uma saída genial dos intelectuais da época porque dava conta do problema das elites do pós-abolição, que era lidar com a massa de negros livres.

Diante da impossibilidade de fazer como nos EUA e defender a “supremacia branca”, o Brasil – um país de negros, indígenas e mestiços – apostou na “superioridade branca”. Daí a aposta no branqueamento como forma de “civilizar” o país.

A ideia de superioridade branca teve diferentes versões que vão do “assimilacionismo” (mestiçagem para eliminar o negro) até o “mulatismo” (mestiçagem para ressaltar o “melhor” de cada raça). Cada uma dessas teorias está ligada ao contexto político do pais pós abolição.

O racismo brasileiro é um produto sofisticado, feito sob medida por pensadores do gabarito de Nina Rodrigues, Silvio Romero, Oliveira Vianna e em outra chave, Gilberto Freyre. Atenção: todos devem ser lidos para que se entenda o Brasil. Coloco esta questão porque, salvo engano, o que fez ontem o ex-secretário de cultura é a primeira manifestação de supremacia branca feita por um membro do governo brasileiro, rompendo uma mecânica histórica de reprodução do racismo.

O racismo brasileiro mudou de patamar.

É curioso porque esse governo que se opõe ao globalismo agora se globaliza alinhando-se ideologicamente aos supremacistas brancos dos EUA e da Europa. E antes que se fale que foi um “caso isolado”, basta pegar o histórico do próprio presidente. Isso tudo para dizer que considero um marco na história do Brasil o que aconteceu ontem. É preciso olhar para o cenário – nacional e internacional – e para todos os atores. As reações ao episódio nos dão o grau dos desafios que iremos enfrentar nos próximos anos.

A luta antirracista terá mais trabalho ainda.

Terá que lidar com os supremacistas no poder e, ao mesmo tempo, denunciar os que se fingem civilizados, mas se aproveitaram da superioridade branca para naturalizar a situação calamitosa do povo negro e indígena deste país. Qualquer tentativa de diminuir a gravidade do que disse o simulacro de nazista que ocupava a pasta da cultura é com ele compactuar. Qualquer tentativa de separar “cultura” de “economia” neste governo é aperto de mão com racistas.

O jogo está aberto.

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