O mito do antifascismo sionista

Por Roger Garaudy.

“Em 1941, Yitzhak Shamir cometeu um crime imperdoável, desde um ponto de vista moral: recomendar uma aliança com Hitler, com a Alemanha nazi contra Inglaterra.” (Bar Zohar, Ben Gurión, O Profeta armado, Paris, 1966, p. 99)

Quando começou a guerra contra Hitler, a quase totalidade das organizações judaicas colocaram-se ao lado dos aliados e incluso alguns dos seus dirigentes mais destacados, como Weizmann, tomaram partido pelos aliados, mas o grupo sionista alemão, que naquela época era bastante minoritário, adoptou uma atitude inversa e de 1933 a 1941 esteve vinculado a uma política de compromisso e de colaboração com Hitler.

As autoridades nazis ao princípio, ao mesmo tempo que perseguiam os judeus, expulsando-os, por exemplo, da função pública, dialogavam com os dirigentes sionistas alemães e estabeleciam acordos que os favoreciam, distinguindo-os dos judeus integristas, a quem perseguiam. A acusação de colusão com as autoridades hitlerianas não se dirigia à maioria dos judeus, alguns dos quais não esperaram pela guerra para lutar contra o fascismo. Fizeram-no nas Brigadas Internacionais na guerra civil espanhola entre 1936 e 1939 (1). Outros, no gueto de Varsóvia, criariam um Comité judaico de luta e morreram combatendo.

Esta acusação é aplicável à minoria fortemente organizada dos dirigentes sionistas, cuja única preocupação era a criação de um Estado judaico poderoso. Essa exclusiva preocupação de criar um Estado judaico poderoso e a sua visão racista do mundo, tornava-os muito mais anti-ingleses que anti-nazis. Após a guerra, Menahem Begin e Itzhak Shamir chegaram a ser dirigentes importantes no Estado Sionista de Israel.

Em 5 de setembro de 1939 (dois dias depois da declaração de guerra de Inglaterra e França contra Alemanha- Chaim Weizmannn, Presidente da Agência Judaica, escrevia a M. Chamberlain, Primeiro-Ministro do Rei de Inglaterra, uma carta em que lhe informava que ”nós, os judeus, estamos ao lado de Inglaterra e combateremos pela democracia”, esclarecendo que os representantes judeus estavam dispostos a assinar de imediato um acordo que permitiria a utilização de todas as suas forças humanas, técnicas, ajuda material e todas as suas capacidades. Reproduzida no Jewish Chronicle de 8 de setembro de 1939, esta carta constituía uma autêntica declaração de guerra do mundo judaico contra Alemanha. Exponha o problema do internamento de todos os judeus alemães em campos de concentração como súbditos de um povo em estado de guerra com Alemanha, tal como fizeram os americanos com os seus próprios súbditos de origem japonesa, que internaram enquanto durou a guerra contra Japão.

Os dirigentes sionistas deram provas, na época do fascismo hitleriano e mussoliniano, de um comportamento equívoco que ia desde a sabotagem à luta anti-fascista à tentativa de colaboração. O objetivo essencial dos sionistas não era o salvamento de vidas de judeus, mas sim a criação de um Estado judaico em Palestina. O primeiro dirigente do Estado de Israel, Ben Gurión, proclamava em 7 de dezembro de 1938, perante os dirigentes sionistas do Labour: “Se sobesse que era possível salvar toda as crianças de Alemanha trazendo-os a Inglaterra ou somente metade deles transportando-os a Eretz Israel, escolheria a segunda solução. Pois devemos ter em consideração não somente a vida dessas crianças, mas também a história do povo de Israel” (2). O salvamento dos judeus na Europa não figurava da lista de prioridades da classe dirigente. Era a fundação do Estado o primordial ante os seus olhos (3).

“Devemos ajudar a todos os que necessitem sem ter em consideração as características de cada um? Não deveríamos dar a esta ação um carácter nacional sionista e tentar salvar prioritariamente os que possam ser úteis à Terra de Israel e ao judaísmo? Sei que pode parecer cruel expor o assunto desta maneira, mas infelizmente devemos estabelecer claramente se somos capazes de salvar 10.000 pessoas entre as 50.000 que possam contribuir para a construção do país e para o renascimento nacional ou salvar um milhão de judeus que poderiam tornar-se para nós um fardo ou melhor dito um peso morto. Neste caso nos limitaríamos a salvar os 10.000 que pudessem ser salvos, apesar das acusações e dos chamamentos do milhão de abandonados à sua sorte” (4).

Este fanatismo inspira, por exemplo, a atitude da delegação sionista na Conferência de Evian, em julho de 1938, em que 31 nações se reuniram para discutir a absorção dos refugiados da Alemanha nazi. A delegação sionista exigiu, como única solução possível, a de admitir 200.000 judeus em Palestina. O Estado judaico era mais importante para eles que a vida dos judeus. O inimigo principal, para os dirigentes sionistas era a assimilação. Centravam nisto a preocupação fundamental de todos os racismos, incluindo o hitleriano: a pureza do sangue. É por isso que, em função desse anti-semitismo sistemático que os animava ao ponto de perseguir o propósito monstruoso de dar caça a todos os judeus da Alemanha e aos de toda a Europa quando chegasse o momento, os nazistas consideravam os sionistas como interlocutores válidos pois que também eles serviam esse propósito.

Deste pacto existem provas evidentes. A Federação Sionista Alemã dirigia ao Partido nazista, em 21 de junho de 1933, um memorando em que declarava:

“Na fundação do Novo Estado, que proclamou o principio da raça, desejamos adaptar a nossa comunidade às novas estruturas, o nosso reconhecimento da nacionalidade judaica permite-nos o estabelecimento de relações claras e sinceras com o povo alemão e com as suas realidades nacionais e raciais. Precisamente porque nós não queremos subestimar estes princípios fundamentais, é pelo que também nos pronunciamos contra os matrimónios mistos e a favor da manutenção da pureza do grupo judeu. Os judeus conscientes da sua identidade, em nome dos quais falamos, podem encontrar sítio na estrutura do Estado alemão, pois estão livres do ressentimento que os judeus assimilados experimentam; cremos na possibilidade de leais relações entre os judeus conscientes da sua comunidade e o Estado alemão”.

Para alcançar os seus objetivos práticos, o sionismo propõem a colaboração com um governo fundamentalmente hostil aos judeus. A realização do sionismo só está prejudicada pelo ressentimento dos judeus no exterior contra a orientação alemã atual. A propaganda para o boicote (dirigida contra a Alemanha) é, por definição, não sionista (5).

O memorando acrescentava: no caso de que os alemães aceitem esta cooperação, os sionistas se esforçariam em convencer os judeus do estrangeiro a renunciarem a participar no boicote contra a Alemanha (6).

Os dirigentes hitlerianos receberam favoravelmente a orientação dos representantes sionistas que, devido à preocupação exclusiva por construírem o seu Estado na Palestina, unificavam esforços para se desentenderem dos outros judeus. O principal teórico nazista, Alfred Rosenberg, escreve: o sionismo deve ser vigorosamente defendido para que um contingente anual de judeus alemães sejam transportados para Palestina (7).

Reinhardt Heydrich, que foi mais tarde o Protetor na Checoslováquia, escrevia em 1935, durante o tempo em que foi o chefe dos Serviços de Segurança das S.S. no Das Schwarze Korps, órgão oficial das S.S., num artigo sobre o inimigo visível, em que se estabeleciam distinções entre os judeus: “Nós devemos dividir os judeus em duas categorias: os sionistas e os partidários da assimilação. Os sionistas professam uma concepção estritamente racial e em relação à sua emigração para Palestina e à edificação do seu próprio Estado judaico, os nossos melhores votos e a nossa boa vontade oficial” (8).

O Betar alemão recebeu um novo nome: Herzlia. As atividades desse movimento na Alemanha tinham a aprovação da Gestapo; na realidade, Herzlia atuava com a proteção desta última. Um dia, um grupo das S.S. atacou um acampamento de verão da Betar. O chefe do movimento queixou-se à Gestapo e, alguns dias mais tarde, a polícia secreta comunicou-lhe que os S. S. em questão tinham sido castigados.

1. Mais de 30 % dos americanos da Brigada Abraham Lincoln eram judeus, a quem denunciava a imprensa sionista, porque combatiam em Espanha, em vez de irem para a Palestina. Na Brigada Dombrovski, de 5.000 polacos, 2.250 eram judeus. A estes judeus que lutaram com as forças anti-fascistas em todas as frentes do mundo, os dirigentes sionistas, num artigo assinado pelo seu representante em Londres, intitulado: “Devem participar os judeus nos movimentos antifascistas?” respondia: Não!… e fiavam o único objetivo: a construção da terra de Israel (Jewish Life, abril 1938, p.11).

2.Yvon Gelbner, Zionist policy and the fate of European Jewry», em Yad Vashem studies. Jerusalém. vol. XII, p. 199.

3. Tom Segev. Le Septième Million. Ed. Liana Levi, Paris 1933, p. 539.

4. Memorando do Comité de Salvação da Agência Judaica. 1943. Citado por Tom Segev. (op. cit).

5. Lucy Dawidowicz, A Holocaust reader, p. 155.

6. Lucy Dawidowicz, The war against Jews (1933-1945) Ed. Penguin books, 1977, p. 23 1232.

7. A. Rosenberg: Die Spur des Juden im Wandel der Zeiten, Munich 1937, p. 153.

8. Hohne. Order of the Death’s Head, p. 333.

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