Por Priscila Lopes.
Começaram contando até três, e afundaram. Segundos ocos aqueles, com marteladas mudas e tiros nus; mas era água só, e a sede deles, os dois inchados feito peixes, olhando-se entre bolhas; vamos voltar? Voltaram. À superfície pareciam respirar um ar urgente e findo, como se voltassem à vida e fosse aquela a última chance. Um-dois-três, mergulharam. Arraias, areias, arranha-céus. Estrelas-do-mar, recifes, cavalos-marinhos. E os dois se olhavam sem ar, os dois a tatear o fundo do aceano do mar. Um-dois-três e já! Cabeças fora d’água, respirando feito filhotes que acabaram de nascer. Era o mundo de novo, um espaço aberto entre cores e sons. Tudo bem? Tudo bem, e pronto. Embaixo d’água novamente, a vida se revelava como um ultrassom; e os dois boiando, boiando, sendo simples. De repente, não se sabe o que que deu, ela tomou impulso com os pés-de-pato, ele deu umas braçadas ao norte, e eles se chocaram, snork contra snork, um-dois-três-e-já. Já eram.