Por Fernando Mascarenhas.
A
reabertura do Maracanã está agendada para amanhã (dia 27), num evento-teste aberto aos operários que trabalharam em sua reconstrução. Eles vão assistir uma pelada entre os amigos de Ronaldo e Bebeto, membros propagandeiros do
Comitê Organizador Local da Copa de 2014.
O novo Maracanã em pouco tem a ver com o estádio que povoa a memória afetiva de milhares de torcedores brasileiros, demolido segundo a lógica de uma nova concepção de esporte e futebol que, no caso das agora chamadas arenas, se explicita através das exigências e determinações para que possam sediar partidas do mundial, o
padrão FIFA.
Ocorre que tal padrão está diretamente associado às necessidades de produção e reprodução ampliada do grande negócio que se tornou a Copa. Vale o registro de que a
Copa no Brasil vai fazer a FIFA ter um lucro de R$10 bilhões, 36% a mais do que o faturamanto na África do Sul, em 2010, e 110% a mais do que na Alemanha, em 2006.
O objetivo é o superlucro e, para isso, operam a inovação estética, a criação destruidora e a Estado-dependência.
As arenas devem ser construídas com a cara da riqueza, ou seja, com a estética e a condição operacional e técnica para se fazer de uma partida de futebol um grande espetáculo midiático. Assemelham-se, em verdade, a grandes estúdios de TV, isto porque os direitos de imagem e transmissão do mundial constituem a maior fonte do lucro anunciado.
Ao pior estilo da criação destruidora, por dentro e por fora, teremos um outro Maracanã, refeito para lucrar… E quem lucra?
Sim, já sabemos que a FIFA vai se dar bem. Mas vale lembrar que a entidade não faz a Copa sem o apoio dos Estados nacionais, apoio que se traduz por garantias de financiamento, estrutura e segurança jurídica.
No caso brasileiro, só o custo para a construção e reconstrução das arenas, segundo dados do
Portal da Transparência, é de R$ 8 bilhões, sendo que mais de 90% deste valor é financiado pelo fundo público através do programa
BNDES PróCopa Arenas.
O Maracanã, particularmente, já custou R$ 869 milhões ao Estado do Rio de Janeiro, deste total, R$ 400 milhões obtidos a partir de empréstimo junto ao BNDES, R$ 200 milhões junto a
Corporação Andina de Fomento e o restante, pagos com recursos próprios do Estado e outro financiamento da Caixa Econômica Federal cujos valores ainda não foram divulgados.
Ganhou também o
Consórcio Maracanã Rio 2014, liderado pela gigante Odebrecht que, para além da construção do Maracanã, da
Arena Corinthians, da
Arena Fonte Nova e da
Arena Pernambuco, atuando nas áreas de engenharia, construção, imobiliária, energia, petróleo e gás, logística, defesa e concessões, possui vários outros contratos de obras públicas no Brasil e negócios em mais de 30 países.
E quem tende a ganhar a partir de agora é a
IMX, empresa de Eike Batista que, junto com a própria Odebrecht e a
Anschutz Entertainment Group, multinacional da área de entretenimento esportivo, formaram um outro consórcio, o
consórcio Maracanã SA, favorito para vencer a licitação de concessão do Maracanã.
Os valores que envolvem a concessão – leia-se, privatização – foram muito bem apuradas pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas e indicam um lucro de R$ 3 bilhões para o consórcio. Por sua vez, pela cessão, o Estado do Rio de Janeiro receberá 33 parcelas de R$ 7 milhões, o que não paga nem o juros dos empréstimos contraídos para sua reconstrução.
É um negócio e tanto para a IMX e cia.
A empresa do Grupo EBX foi criada em 2011 e já é dona de uma série de eventos no Brasil – a exemplo do UFC, Volvo Ocean Race, LPGA Brasil Cup, Mundial de futevôlei 4×4, Travessia dos fortes, Megaramp e Rio Open -, gerencia a carreira de atletas – como Torben e Lars Grael, a saltadora Maurren Maggi, o surfista Gabriel Medina e o craque Neymar, dentre outros – e é “irmã” e gestora dos contratos de patrocínio do RJX, time de vôlei atual campeão da superliga.
Com a concessão do Maracanã, a IMX dá um novo salto em direção a concentração e centralização de capital esportivo. Eike está rindo a toa…
“Vamos trazer para o Rio de Janeiro os eventos de esporte e aumentar a auto-estima carioca. Queremos promover a alegria para os outros e, com a Copa e as Olimpíadas, o momento foi propício. Vou me divertir com isso.”, disse.
O empresário já é tratado como o novo Rei do Maracanã. Foi-se o tempo que se conquistava este título na bola, talvez por isso Zico e Romário vão ficar de fora do evento-teste. A campanha O Maraca é nosso! mobilizou a sociedade, sensibilizou a opinião pública, pautou a necessidade de democratização do esporte e expôs as negociatas envolvendo sua privatização, mas, infelizmente, o Maracanã está mudando de mãos.
Pode até ser nostalgia, mas as imagens memoráveis do Maracanã mágico, público e popular de que fala Chico Buarque, infelizmente, não voltam mais, vão ser comercializadas no museu ao lado.
Revoltante!