O machismo em seu estado bruto. Por Katia Luane.

"Em um universo conhecidamente masculino, mas com crescente participação das mulheres, as falas de Abel Ferreira não poderiam ter sido piores"

Foto: Pixabay

Por Katia Luane.

Em um episódio pra lá de lamentável e inaceitável, o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, protagonizou, há pouco mais de uma semana, uma cena em que deu a mais absoluta demonstração de machismo e misoginia. Ao ser perguntado pela repórter Alinne Fanelli, da rádio BandNews, sobre a situação do jogador Mayke, que se machucou e saiu do jogo, o treinador respondeu de forma grosseira – e quase ameaçadora – que ele só deve satisfações a três mulheres: ‘minha mãe, minha mulher e a presidente Leila’.

Em um universo conhecidamente masculino, mas com crescente participação das mulheres, as falas de Abel Ferreira não poderiam ter sido piores. Principalmente em um momento em que as mulheres protagonizam várias iniciativas não apenas no mercado de trabalho mas – e sobretudo – nos esportes. Os jogos Olímpicos deste ano reverberaram essa nova realidade no Brasil.

Um detalhe interessante: pelo Censo realizado pelo IBGE em 2022, as mulheres nunca foram tantas no país. Representam 51,5% da população brasileira, sendo quase 6 milhões a mais que os homens. Pela primeira vez, esse grupo supera 100 milhões de pessoas.

Fico me perguntando qual teria sido a atitude do técnico do Palmeiras caso a pergunta que Alinne lhe fez tivesse partido de um jornalista homem. Ele teria dito ‘você não é minha mãe, não é minha mulher e muito menos presidenta do clube’? Provavelmente não.

A resposta de Abel Ferreira à repórter da rádio BandNews foi de caso pensado por se tratar de uma mulher. Ele quis desqualificar a profissional, mas, acima de tudo, teve o firme propósito, revestido de grosseria, de diminuir a mulher que ali estava cumprindo com sua obrigação profissional.

O treinador do Palmeiras caminhou na direção oposta à presidente do clube, Leila Pereira, a quem deve satisfação. No início do ano, Leila convocou uma coletiva de imprensa só com jornalistas mulheres.

A iniciativa, inédita no Brasil, atingiu como flecha o ego machista dos profissionais homens que fazem a cobertura jornalística de futebol. Reclamaram da exclusão, no que Leila Pereira reagiu: ‘não sejam histéricos. Não é isso que falam da gente quando a gente reclama? Quando a gente precisa ser ouvida?’ E completou: ‘Eu quero que eles (os homens) sintam em uma hora nessa entrevista coletiva o que sentimos desde que nascemos’. Exato!

Se o senhor Abel Ferreira ressaltou que só deve satisfação a apenas três mulheres, incluindo a presidente do Palmeiras, esperamos sinceramente que Leila Pereira cobre uma satisfação e uma retratação pública do seu treinador com relação ao extremo machismo e misoginia que demonstrou cultivar em seu caráter.

Senhor treinador do Palmeiras: mexeu com uma, mexeu com todas! Inclusive com as cerca de 4 milhões de mulheres que compõem a torcida feminina do Verdão!

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