Fecho os olhos e tento lembrar da primeira vez que percebi alguém de outro sexo diante de mim. Teria seis, sete anos, não sei. Sei que senti algo de diferente nele, de estranho. Não importa que ambos estivéssemos vestidos: estava na cara. Ele me provocou curiosidade instantânea… e uma certa raivinha. Um cabo-de-guerra invisível imediatamente se instalou entre nós. Havia uma coisa desafiadora naquela criança à minha frente, que, hoje, não posso dissociar do fato de ele ser um menino e eu, uma menina.
A guerra dos sexos tem um lado sexy. Desde crianças, meninos e meninas se provocam em um jogo de sedução que tem muito a ver com sermos de gêneros distintos. Quem nunca se apaixonou por aquele menino ou menina com quem vivia às turras na escola? Atrito provoca desgaste, mas também faísca. Fico pensando até que ponto a busca utópica da “relação ideal”, “harmônica”, entre homens e mulheres, nos interessa de fato. Tenho dúvidas.
Dizem que as reais diferenças entre homens e mulheres são apenas anatômicas e culturais. Concordo com o “apenas” em anatômicas, mas não em culturais. Me parece que o aspecto da “construção cultural” das diferenças entre os sexos é subestimado nas análises que leio sobre a questão dos gêneros. Principalmente o papel do entorno mais próximo nesta construção.
A forma como alguém é criado influencia em quase tudo em sua vida, e interfere profundamente nas escolhas sentimentais. No caso das relações heterossexuais, não só a forma como os homens são criados, mas a maneira como nós, mulheres, somos criadas. Que tipo de pai tivemos? Isso vai dizer muito sobre o tipo de homem que nos atrai. E a atração nem sempre é racional. Aliás, não é racional de forma alguma. Não se explicam racionalmente as afinidades de pele, de cheiro.
Para diluir essa “construção cultural” das diferenças entre os sexos, as feministas pretendem, então, intervir na forma como os homens são criados, na tentativa de gerar um “novo homem”. Ou seja, intervir na mentalidade das famílias e sobretudo na cabeça das próprias mulheres, porque somos nós que criamos os homens como eles são. “Reeducar” os homens, como querem as feministas, é uma tarefa hercúlea que esbarra numa dificuldade igualmente gigantesca: nós, que criamos os homens “assim”, em geral nos sentimos atraídas por homens “assim” porque nossos pais também eram “assim”. Assim como? Machões, ora.
É claro que seria maravilhoso que pais e mães educássemos nossos filhos homens da mesma maneira que criamos as meninas: ajudando nas tarefas de casa, por exemplo. É absurdo que ainda existam diferenças tão profundas neste sentido. Mas não acho fundamental que se diluam todas as diferenças culturais. No afã de propiciar uma criação igualitária, é preciso ter cautela para não transformar o “não-gênero” em outra espécie de repressão.
Sou contra acabar com os machões. Gosto deles porque são imperfeitos, sua imperfeição me fascina. O machão tem um charme que só os machões têm. É algo a se preservar, não a se extinguir. As mulheres devem fugir dos machistas como o diabo da cruz. Quanto aos machões… Bem… É inegável que eles têm uma pegada que agrada parcela considerável da população feminina, para horror das feministas. São machões porque foram criados desse jeito –mas, atenção, não são necessariamente machistas.
As diferenças entre o homem machão e o homem machista são sutis, mas a principal delas é que o machão é inofensivo. Toda aquela macheza e, no fundo, é uma moça. Manteiga derretida. O machão é encrenqueiro, nervosinho. O machista é violento. O machista quer submeter a mulher, subjugá-la. O machão, só se for de brincadeirinha… Obviamente, descobrir qual é qual envolve certo risco. Mas pode ficar tranquila: o machão só seria capaz de bater POR você, não EM você. Não tem a ver com a aparência do rapaz: ele pode ser magrinho e sensível, mas possuir um insuspeitado toque de machãozice.
Se você é uma das mulheres que gostam de machões, melhor não partir para o confronto; mais vale não levá-los tão a sério, saber rir das idiossincrasias deles –até porque nós também temos as nossas. Sabendo levá-los, os machões se mostram bons companheiros e ótimos pais. Carinhosos, atenciosos, amorosos. Talvez a macheza seja mesmo um disfarce, uma defesa, quem sabe um jogo de cena?
O machão é um cavalheiro incorrigível. Curte tratar uma mulher de maneira totalmente distinta da que trataria um amigo. É especialista em agradar o gênero feminino, sim, e as mulheres que gostam deles adoram. Cavalheirismo, para o machão, é sinônimo de gentileza. E nem adianta tentar argumentar contra. Só tome cuidado para não confundir o machão com o cafajeste. É fácil descobrir a diferença: o machão será gentil com você e suas amigas; o cafajeste será gentil com suas amigas, não com você.
O machão é meio folgado, verdade, mas não quer mandar em você. O desejo do machista passa por dominar a mulher; o do machão, por proteger. O machão morre de ciúmes, mas não a ponto de pretender acorrentar a parceira ao pé da mesa. “Você tem ciúme, mas gosta de me ver rebolar”: Rita Lee já sabia. Portanto, garotas, ao se deparar com um machão, cuidado para não tratá-lo como inimigo. Ele não é.
As feministas dirão que este “machão” de que falo é o machista sutil, benevolente. Eu direi que ninguém é perfeito.
Fonte: Socialista Morena.