Por Milton Ribeiro.
No dia 21 de julho de 1925 foi finalizado um dos casos mais rumorosos e filosóficos do judiciário norte-americano. Foi um julgamento que durou 11 dias e o primeiro a ser transmitido por rádio para o país inteiro. Também virou filme de sucesso — Inherit the Wind (O Vento Será sua Herança), de 1960. O chamado Julgamento do Macaco (“Monkey Trial”) foi a ação que o estado do Tennessee moveu contra o professor de biologia John Thomas Scopes, de 25 anos, acusado de ensinar a teoria da evolução em uma escola pública da minúscula cidade de Dayton.
A rua principal de Dayton em 1925 | Foto: Wikimedia Commons
Os meios de comunicação deram enorme cobertura ao caso e ganhá-lo tornou-se uma obsessão para ambas as partes. Durante o processo, o juiz John Raulston não permitiu que o advogado Clarence Darrow — militante da União Americana pelas Liberdades Civis e um dos mais famosos oradores dos EUA — chamasse cientistas “como testemunhas” em favor da teoria da evolução. Ao final, Scopes, que teve contra si outra celebridade, o advogado William Jennings Bryan, um democrata candidato por três vezes à presidência dos EUA, foi condenado a uma multa de 100 dólares. Bryan fez uma defesa apaixonada do criacionismo, mas mesmo assim foi punido por um enfarte e morreu seis dias após a decisão do tribunal.
O juiz Raulston utilizou-se de bom senso no julgamento de tão longínquo caso e, não obstante o fato do juri ter apontado o professor Scopes como “culpado”, impediu que o veredito fosse cumprido em razão de “erros técnicos” no processo. A pena dele fora o pagamento de 100 dólares, um montante que seria de aproximadamente R$ 2.700,00 em nossos dias.
O caso tinha contornos realmente curiosos, pois evidentemente não havia certeza de ambos os lados. Os criacionistas só concordavam que Scopes tinha de ser punido mesmo que estivessem se debatendo entre três teses distintas: alguns tinham certeza da criação recente do Universo e afirmavam que o mundo fora criado por Deus em seis dias com um de folga — Bryan pensava assim; outros achavam que tinha sido antes e falavam em Adão, Eva e na serpente; outros acreditavam num projeto à cargo de uma vaga inteligência pré-existente.
Darrow finalizou sua peroração dizendo que o réu não era culpado, mas que como o tribunal excluíra quaisquer testemunhos, desejando apenas ater-se à simples questão sobre se Scopes realmente ensinara que o homem descenderia de uma ordem animal tão inferior, ele jamais negaria que o fato ocorrera. Ele apenas esperava que o juri encontrasse um veredito que pudesse levá-los a uma tribunal ou instância superior.
Segundo o livro World’s Most Famous Court Trial, encerrou sua fala de forma enigmática: “Não consigo nem mesmo explicar-lhes que penso que os senhores deveriam retornar com o veredito de não culpado. Não vejo como poderiam decidir nos próximos minutos sobre a existência de Deus. Não lhes peço isso”.
O juri demorou apenas nove minutos para decidir e, em 21 de julho, ele foi considerado culpado e condenado a pagar a multa de 100 dólares.
O mais incrível é que Scopes (1900-1970) não depôs em seu julgamento e ele, em sua autobiografia, garantiu que não tinha absoluta certeza se havia ou não ensinado a respeito da evolução das espécies em suas aulas, mas “que era possível, claro”.
Fonte: http://sul21.com.br/