Comparar o golpe contra o presidente Fernando Lugo, no Paraguai, com o Impeachment do Collor no Brasil, é um grande equívoco. Este tipo de comparação só é explicável devido a desinformação ou a mais pura má-fé.
Estes tipos de comentário exóticos, de tenta igualar situações completamente diversas, não é uma novidade e com grande frequência vemos figurar em opiniões relacionadas aos temas mais diversos e inapropriados. O caso da deposição do Lugo não é diferente. Não faltaram aqueles que tentaram, em um malabarismo confuso e com bases frágeis, igualar a saída de Lugo com a de Collor. Mesmo entre indivíduos que, em tese, deveriam respeitar um maior rigor analítico, não faltaram aqueles que enveredassem para esta visão deturbada dos fatos, como um certo professor universitário que a imprensa do Rio Grande do Sul deu algum espaço.
Reescrever a história, ainda mais a partir de fatos tão recentes, chega a ser um exercício ridículo. Vamos aos fatos: Collor teve um amplo e democrático processo de defesa, que durou meses. Ao final deste processo, Collor não foi deposto, ele renunciou. Lugo não teve espaço algum para defesa, entre a abertura do processo de afastamento e sua deposição, correram menos de 48h.
As “acusações” que foram desferidas contra Lugo eram todas, de caráter eminentemente político, e portanto, de avaliação subjetiva e passível de interpretações diversas e questionáveis.
Uma delas, acusava Lugo de ter “ligações com movimentos sociais”, se isso é um crime, porque não inverter a lógica deles e passarmos a destituir todos os presidentes que tenham ligações com banqueiros, por exemplo? Além do mais, foi justamente esta ligação e trajetória de Lugo que o levou a presidência do Paraguai.
Collor, por sua vez, foi destituído por sua ligação com esquemas de corrupção, que foram amplamente divulgados, debatidos e investigados. Collor foi considerado culpado pela Polícia Federal, que encontrou vários indícios de corrupção e troca de favores. Não houve, durante todo o processo de Impeachment, um julgamento político do governo Collor que tenha pesado contra a sua permanência na presidência, pelo contrário, as políticas neoliberais, que começaram a ser postas em prática em seu governo foram aprofundadas durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso que o sucederam.
No Paraguai tivemos um golpe, com tintas de falsa legitimidade, no caso brasileiro, tivemos um amplo processo democrático que levou a interrupção de um governo. A única semelhança entre Collor e Lugo é o fato de ambos se chamarem Fernando, fora isso, um grande abismo separa a trajetória política e o processo de destituição dos dois.