O homem negro gay

gay

Por Djamila Ribeiro. 

No início do século XX, ao patologizar a homossexualidade, o discurso médico dizia que a única permissão que deveria se dar a indivíduos homossexuais era a do ocultamento. A ferocidade verbal que distinguia sujeitos de direitos, entre normais e anormais, marcou profundamente as formas de relacionamento dentro do próprio movimento LGBTI.

Ao se permitir o ocultamento, pode-se também aprofundar as mazelas históricas no que dizia respeito à falta de registro de como mulheres lésbicas foram levadas à margem desde a antiguidade, exceção feita à poeta Safo. Raros são os casos em que nos deparamos com registros sobre esse tema.

Homens gays foram chamados de sodomitas, bestas, anormais e invertidos durante toda a História em que se fala sobre a homofobia. Mulheres sequer foram nominadas. Negros eram propriedades. Deduz-se que todos esses qualificativos se referiam a homens brancos de padrões ocidentais. Portanto, faltam traços que possam também destacar de que forma outros sujeitos foram sendo levados da ocultação à invisibilidade. É o caso de homens negros gays.

Se o pluralismo é próprio da vida em sociedade, é preciso trazer à tona temas centrais que compõem essas várias ideias: a existência de homens e mulheres gays, negros e pobres. Escamotear isso é negar a diversidade (que muitas vezes oculta e invisibiliza) e asseverar a política da homogeneização ou padronização dos corpos e sujeitos.

O corpo negro é constantemente objetificado e personagem do imaginário como o viril, o forte, o másculo; prova disso é uma busca rápida pelo mundo virtual com as palavras gays + negros. Saindo do campo do fetiche, o que cabe é o ocultamento e a constante adjetivação com a justificativa “…não tenho nada contra, mas…”. Combater a homofobia é também combater o racismo e o sexismo, são lutas indissociáveis. Ser negro impõe barreira, ser negro e homo ou transexual é o fim. É uma sentença!

 Fonte: Carta Capital

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