Por Caroline Dall’ agnoll, de Caxias do Sul, para Desacato.info
“Brasileiros e brasileiras, não se preocupem, agora temos homens no poder. O país vai andar e, além disso, ganhamos uma primeira-dama.” Esse é o recado simbólico do impeachment.
Enquanto veículos de comunicação se detinham a escrever artigos sobre a jovem esposa de Michel Temer, o congresso nacional rearranjava-se com seus ministros homens.
Veja, O Globo, Rodrigo Costantino, gastaram folhas e folhas para convencer brasileiras e brasileiros que, lugar de mulher (Marcela Temer e, indiretamente, a própria Dilma) é no privado, de onde, aliás, nunca deveria ter saído. E Michel Temer? No público, é claro. Ou melhor, Michel e os 23 Homens. Assim, o governo vai pra frente. Afinal, os conservadores valorizam a tradição, não é mesmo?!
No dia 12 de maio, posse de Michel Temer como presidente da República Federativa do Brasil, o jornal O Globo repetiu a falácia do seu veículo companheiro (revista Veja). Também publicou um artigo sobre a então nova primeira-dama do Brasil. O machismo no texto não nega a que veio. Nem velado é. Declarado e reforçado por uma mulher, jornalista Maria Lima, começa afirmando que a jovem de 19 anos, ex-miss, queria dar um “up” na carreira. Qual foi a solução? Conhecer o deputado “charmosão”, Michel Temer. Casou-se, formou-se em Direito, virou “Bela, Recatada e do Lar”.
Não entendam mal, por favor. Aqui não se trata de pregar moralismo, até porque, a direita sabe bem como fazer isso. Mas afinal, o que está por trás disso tudo? Por que “Marcela Temer: Bela, Recatada e do lar” e “Marcela Temer: nova primeira-dama do Brasil” foram escritos? Os memes e reações na internet foram para atacar Marcela Temer? Não. A pergunta que se deve fazer é por que a mídia insiste em convencer, que lugar de mulher é “no lar”, e do homem, é na presidência do Brasil? Ligou as peças?
Agora temos um país sem corrupção. Um país que tem um homem no poder. Michel Temer agora tem, de um lado, a esposa “perfeita”, primeira-dama, Marcela Temer. Do outro, os 23 homens: os ministros. Aliás, 7 são investigados pela Justiça ou em tribunais de contas ou até já foram condenados.
Mas pra que saber dessa informação, não é mesmo? Agora estamos no rumo certo, a Dilma no privado, o Temer no público, quero dizer, no poder. A tradição está “sã e salva”.
Imagem: www.regionalmtnews.com
