Por Carlos Fernandes.
Existem coisas que são autoexplicativas. Um bom exemplo é o que está acontecendo com o dito governo liberal de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.
Convertido meio que a força pelo ministro, o antes nacionalista Bolsonaro esforça-se, em vão, para manter as aparências de quem realmente acredita que a tal mão invisível do mercado a tudo regula.
O problema, diria Garrincha, é que sempre esquecem de combinar o jogo com o adversário.
Não que tenha sido a primeira vez nesses pouco mais de três meses de governo, mas o episódio da intervenção descarada no aumento do preço do diesel mostrou que o mercado, por assim dizer, errou novamente a mão.
Acossado pela ameaça de uma greve iminente dos caminhoneiros, o aumento de 5,7% no preço do combustível seria o estopim de outra grande paralisação que provavelmente daria cabo de vez em uma economia que não para de decepcionar.
À beira do abismo, não restou outra alternativa ao presidente senão atropelar com caminhão e tudo o seu posto Ipiranga e com um único telefonema provar por A mais B que o mercado sem uma, digamos, “mãozinha do Estado”, estaria fadado às crises econômicas intrínsecas às próprias contradições do sistema capitalista.
Pelo menos por ora a intervenção estatal praticada na política de preços da Petrobrás impediu que o país entrasse novamente em completo estado de letargia com toda a sua produção mofando nos acostamentos das rodovias.
Mas, como deixou claro a coletiva de imprensa dada pelos ministros da Casa Civil e da Infraestrutura, por si só não basta.
Novamente contrariando todos os preceitos do liberalismo econômico, para que o mercado de transportes rodoviários se acomode, será preciso que o Estado, de novo ele, tome inúmeras outras medidas para apaziguar a categoria.
Nesse sentido, foi anunciado na manhã desta terça (16) a toques de trombeta, a destinação emergencial de R$ 2 bilhões para melhorias e duplicações de rodovias, aumento no crédito para caminhoneiros autônimos via BNDES e construções de locais de repouso para os motoristas.
E haja participação do Estado para regular o mercado. Mas a coisa não ficou só por aí.
Questionados sobre os altos preços de pedágios nas rodovias privatizadas, Onix Lorenzoni, sempre deixando claro que representa a nova política liberal no Brasil, afirmou literalmente que nesse ponto é fácil o governo intervir juntos às concessionárias e chegar a um acordo que agrade a todos.
O cinismo é uma arte sempre controversa.
Seja como for, Paulo Guedes e sua trupe se contorcem a cada evidência que a sua política econômica é completamente insuficiente para resolver os problemas gerados por um bando de irresponsáveis que fizeram de tudo para tomar o poder e agora simplesmente não fazem ideia de como domar o monstro que criaram.
Tragédias anunciadas à parte, se para alguma coisa tudo isso serviu, foi tão somente para mostrar que ninguém consegue provar melhor o fracasso do liberalismo econômico do que os próprios liberais.
Nesse particular, eles são inquestionavelmente competentes.
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