O genocídio prossegue na Palestina. Por José Álvaro Cardoso.

Hospital Al-Shifa – AP Foto/Mohammed Hajjar

Por José Álvaro Cardoso.

Passados mais de 10 meses do massacre na Palestina (completados em 07 de agosto) há o registro oficial de mais de 40 mil pessoas mortas, cerca de uma em cada 55 pessoas no território palestino. Mais de 92.401 ficaram feridas. A maioria dos mortos e feridos são de mulheres e crianças. É uma coisa incomum na história das guerras: mulheres e crianças são mortas mais do que homens e os feridos representam apenas o dobro dos mortos. Essa relação, geralmente é de 1 morto para 5 feridos, ou 1 para 6 feridos. Nesse genocídio podemos falar de 1 morto para 2 feridos, o que é um sintoma da agressividade dos sionistas.

A matança de inocentes civis não é um erro ou efeito colateral, na verdade não existem alvos militares, como os próprios números demonstram. O exército israelense destruiu quase todos os hospitais, especialmente no norte da Faixa de Gaza e, desde o começo, procuram matar pessoal da área médica. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o sistema de saúde na Faixa de Gaza entrou em colapso nesses dez meses. Falta equipamentos, instrumentos, suprimentos, pessoal e infraestrutura fundamental como eletricidade e água. Com os ataques a civis, incluindo as equipes de saúde, muitas instalações de saúde, quando não foram bombardeadas, foram forçadas a fechar ou parar de funcionar.

Utilizando dados do Ministério da Saúde de Gaza, dois relatórios divulgados em julho pelo Escritório do Alto Comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos mostraram que 500 funcionários ligados a serviços médicos em Gaza foram assassinados pelos israelenses desde 7 de outubro e outros 310 foram presos e levados para averiguação. Segundo os documentos divulgados pela ONU (instituição que pouco fez pelos palestinos nesses dez meses), há relatos de tortura e morte dos detidos, algo evidentemente negado por Israel, que preserva a mentira como eixo central de sua política de propaganda.

Os sionistas no início falavam em “ataque cirúrgico” na Faixa de Gaza. Mas com cinco ou seis meses de guerra já tinham destruído cerca de 70% das moradias, todas as universidades, a maioria das escolas, cerca de 1100 das 1200 mesquitas. As três igrejas foram atacadas. A infraestrutura praticamente toda foi arrasada, incluindo instalações de água, poços etc. Ou seja, tudo o que estava vivo ou que poderia ajudar as pessoas a sobreviverem, foi alvo de ataques e destruição.

Além dos mais de 40.000 falecidos, existe 10 mil desaparecidos, que, se estima, estão mortos sob os escombros dos bombardeios. Calcula-se 1,5 milhão de pessoas deslocadas e desabrigadas, muitas bombardeadas implacavelmente, inclusive em suas tendas, já na condição de refugiados.

Este crime de lesa humanidade tem sido justificado, não apenas pelo sionismo internacional, o que seria de se esperar, mas por todos os governos considerados “democráticos” dos países mais desenvolvidos do mundo. A ação toda é responsabilidade do imperialismo, encabeçado pelos EUA. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Israel é o país do mundo que mais recebeu, de forma cumulativa, dinheiro dos EUA. Segundo um relatório do Congresso americano, entre 1946 e 2023 o império enviou cerca de US$ 260 bilhões, ao país que já foi definido, por um político norte-americano como um porta aviões dos EUA no Oriente Médio. Mais da metade desse impressionante montante foi destinado com a rubrica “auxílio militar”.

O objetivo da operação como um todo é a limpeza étnica, o assassinato ou a expulsão de todos os palestinos da sua terra, é uma estratégia, desde o início (como está fartamente documentado, inclusive por historiadores judeus). Membros do governo de Israel têm sido explícitos nesses 10 meses6: os palestinos têm uma de duas opções, ir embora ou serem assassinados. Desde os acontecimentos conhecidos como Nakba (catástrofe ou desastre), em 1947 e 1948, tem sido assim.

Cerca de 75% dos habitantes de Gaza têm menos de 18 anos, isto é, são crianças ou adolescentes. Portanto, o ataque aos alvos civis, na prática é o ataque a crianças e jovens, esse não é um efeito colateral da guerra. O “problema demográfico” está na raiz do comportamento do movimento sionista, desde antes da fundação de Israel em 1948. Atualmente, no interior das fronteiras da Palestina histórica, do Rio Jordão ao Mar Vermelho, existem 7 milhões de judeus e mais de 7 milhões de palestinos. Além disso, há outros 7 milhões de palestinos no exterior, na chamada diáspora palestina. Nesse contexto, tudo indica que os sionistas elegeram mesmo as crianças como alvo dos ataques em Gaza.

Antes de 7 de outubro, mais de 80% da população vivia abaixo da linha da pobreza e a taxa de desemprego em geral é de 50% (entre os jovens essa taxa chega a 65%). Não existe estatística atualizada neste momento, mas obviamente, com o conflito esses indicadores todos escalaram. Israel sempre impediu qualquer possibilidade de progresso econômico e social na Palestina. Logrou isso através de muitas ações, como o confisco permanente de terras palestinas, água e outros recursos naturais.

Nas inúmeras invasões da Cisjordânia e Gaza, quando havia o cessar-fogo, os soldados israelenses, na saída, iam destruindo estabelecimentos, pequenas empresas perto das fronteiras, negócios muito pequenos e simples. Mas é preciso prestar atenção: não é uma simples crueldade fascista dos militares. Faz parte da estratégia geral de limpeza étnica. Os sionistas aprenderam muito, inicialmente, com os ingleses desde, pelo menos, a década de 1930.

Como ensinam os dirigentes palestinos, desde 2006 (18 anos), não houve nenhum dia em Gaza que tivesse tido eletricidade durante 24 horas seguidas. Sem energia elétrica não tem produção de riquezas, não tem como erguer nem mesmo uma economia modesta. O combustível também sempre foi controlado pelos israelenses, já antes do conflito. Agora não existe mesmo. Já antes da guerra, conexão com a internet, energia elétrica para as empresas, combustível para os estabelecimentos, tudo estava totalmente racionado. Faz parte da política de dominação, liquidar a economia do povo palestino. Para o invasor, não pode haver geração de riqueza e renda, porque a população poderia se reerguer.

Quem sustenta política e financeiramente esse genocídio sem fim tem nome e sobrenome: o Congresso dos Estados Unidos acabou de aprovar (em 13 de agosto), mais uma venda de armamentos para Israel, que alcança US$ 20 bilhões de dólares, incluindo aviões de combate F-15 e cerca de 33.000 projéteis para tanques, no mais recente pacote para seu aliado no Oriente Médio.

José Álvaro Cardoso é economista do DIEESE em Santa Catarina.
A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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