BRAVOS VALENTES
Vaqueiros do Brasil
Vaqueiros do Brasil, 4 vidas, 4 paisagens
Pouco se conhece no Brasil sobre uma de suas mais antigas profissões. No Brasil colônia do século XVI, em 1551, a partir de uma carta do governador Tomé de Souza, o gado vindo de navio de Cabo Verde, continente Africano, tinha a missão de ocupar os sertões, ir além dos litorais. E por conta disso, contratou-se vaqueiros, homens livres que seriam responsáveis por guiar o gado para os interiores do imenso Brasil. A história do trabalho do vaqueiro, aquele que conduz o gado pelos sertões adentro, se difere conforme cada região, o tempo de ocupação de cada território, mas se mistura à história do próprio Brasil e sua configuração territorial.
A ideia
O cineasta Ralf Tambke, em 2012, filmou “Vaqueiros Encantados” na Ilha do Marajó – Pará – a lida e cotidiano dos vaqueiros marajoaras, em um recorte que junta trabalho e religiosidade, a pajelança e o mundo da encantaria, especialmente sob a proteção do vaqueiro Boaventura, uma segurança para os homens que se arriscam na busca do gado búfalo e sua lida diária, que exige destreza, resistência e muita bravura. A partir dessa experiência e das tantas outras pelos sertões do Brasil, veio com força a ideia de registrar de forma próxima o trabalho diário dos vaqueiros brasileiros e suas particularidades que estão diretamente relacionadas ao lugar de onde são, quase como se misturassem àquele habitat onde se inserem e são parte. As múltiplas viagens que Ralf fez trabalhando junto à equipe da TVPublica Alemã (Bayerischer Rundfunk/ARTE) filmando a vida selvagem no Pantanal, levando-o a conhecer de perto a cultura pantaneira, foi outro empurrão que para que o diretor se sensibilizasse pelo tema.
Personagens e histórias
Depois de 3 anos de trabalho de pesquisa, o filme Bravos Valentes apresenta 4 personagens e, através deles, a ideia de conhecer diferentes territórios Brasileiros, nos seus múltiplos aspectos socioambientais e culturais. A equipe percorreu paisagens distintas, em diferentes estações, reforçando a relação dos personagens com os ciclos da terra, com o tempo e as transformações ao longo do ano. Convivendo com os personagens, Ralf registra seus dias, mostrando que o trabalho do vaqueiro está além do manejo do gado, revelando quase que uma simbiose, cada um como um elemento do lugar que ocupa, cada qual como parte daquela terra.
Em Moreilândia, semiárido pernambucano, Maria Eduarda Lopes da Silva é vaqueira e estudante do Instituto Federal do Crato. Com vinte e poucos anos, ela se orgulha de ter herdado do avô e dos pais o conhecimento do ofício, mesmo em um universo onde o gênero masculino é maioria. Com a indumentária tradicional de couro, uma proteção contra os espinhos, ela penetra a caatinga em busca do bezerro desgarrado, seja na seca ou no período chuvoso os galhos e espinhos são ameaçadores.
No Pantanal sul do Mato Grosso, Adelino Borges carrega na face os traços de seus ancestrais Guaicurus, os indígenas cavaleiros que ocupavam toda aquela região no passado. Diferente de Maria Eduarda, cuja família é a dona da terra, Adelino trabalha em uma fazenda, e com orgulho, bota em prática o que aprendeu, é mestre na doma racional do cavalo pantaneiro. No dia a dia cercado pela diversidade da fauna do Pantanal ele diz que “o pantaneiro só teme a Deus, não tem medo de nada, nem de onça”.
Do Pantanal para o arquipélago do Marajó, na foz do rio Amazonas, onde se concentra o maior rebanho de gado búfalo do país. Lá as vozes dos vaqueiros marajoaras são muitas, o trabalho é feito em equipe, grupos de vaqueiros levando as manadas de búfalos e cavalos marajoaras, resistentes tanto aos períodos em que ficam cobertos pelas águas, quanto aos períodos de lamaçais e ao tempo seco, de solo batido. Pedro Costa, vaqueiro de Cachoeira do Arari, falecido pouco após a filmagem, é uma das vozes da vaqueirice marajoara, assim como Nico (Emanuel Augusto Leal Filho), de Soure, ou Nenga (Carlos Augusto Cabral dos Santos), também do Arari. A religiosidade, a fé, as “mandingas”, caminham junto com a dureza do trabalho da lida com o gado nas extensas fazendas.
Já no Rio Grande do Sul, quase Uruguai, à beira do rio Camaquã, na região de Palmas, Bagé, o vento minuano e as baixas temperaturas caracterizam um inverno incomum na maior parte do país. Afonso Manuel Collares da Silva, 73 anos, carrega o orgulho gaúcho da arte de camperear, de laçar, de valorizar sua cultura, herança dos povos charrua. Naquele solo pedregoso, recortado por cânions, riachos e os campos naturais dos pampas, Afonso é a tradução da representação autêntica da valentia e elegância do gaúcho, sempre junto ao seu cavalo crioulo, aos cães ovelheiros e ao seu rebanho: bois, vacas e ovelhas.
A voz de José Paes de Lira
Bravos Valentes conta com a participação especial da voz de José Paes de Lira, que pontua a narrativa com poemas e fragmentos textuais de Guimarães Rosa, Luiz da Câmara Cascudo, Eurico Alves Boaventura, Washington Queiroz e tantos outros, tangenciando a trova, reverenciando a poesia popular, a força e o brilho do cancioneiro que Lirinha carrega em tudo, e sublinha em voz.
A música de Roberto Corrêa
O filme também é música, presente na composição e na interpretação de Roberto Corrêa, violeiro, compositor e especialmente pesquisador musical. Roberto traz a sonoridade de muitas violas, traduzindo o universo rural e sua regionalidade pela escolha dos instrumentos (viola-de-samba, viola de cantoria, viola caipira, viola de cocho, viola de gamba e violão) e pelo seu toque, que fala da singularidade musical brasileira, que abraça toda a pluralidade de influências sonoras ancestrais, e também forasteiras. Todo o trabalho e dedicação do compositor e intérprete à trilha sonora de Bravos Valentes faz com que a composição, as paisagens, os personagens, todo esse mundo que vem de longe e que muitas vezes é invisível ou minimizado para tantos brasileiros, se recorte grande, magistral.
A arte na xilogravura de Ciro Fernandes
O artista paraibano radicado no Rio de Janeiro, Ciro Fernandes, há anos cria sua arte com trabalhos em gravura, desenho, pintura, e também como luthier, fabricando artesanalmente instrumentos de corda. Sua arte de maior visibilidade está relacionada à xilogravura, trabalho que iniciou pela sua relação visceral com a literatura de cordel. Também ilustrou muitos livros clássicos da literatura brasileira. Ciro Fernandes transpôs Bravos Valentes em arte, criando especialmente para o filme uma xilogravura onde representa os 4 personagens.
Sinopse
Maria Eduarda, vaqueira do sertão pernambucano, Adelino, pantaneiro, Mato Grosso do Sul, Augusto Leal Filho (Nico) e Pedro Costa (em memória), vaqueiros marajoaras, Pará, e Afonso, campeiro dos Pampas Gaúchos. Entre eles, a relação com o lugar, com os bichos, com a liberdade e com a herança do ofício que se passou, por gerações. A história de um dos trabalhos mais antigos no Brasil, a partir do registro da braveza cotidiana da lida no campo.
Produção
Bravos Valentes é uma produção Plural Filmes em coprodução com Globo Filmes e GloboNews, e será exibido primeiramente em salas de cinema e depois na plataforma Globoplay e no canal GloboNews.
Plural Filmes
A Plural Filmes é uma produtora audiovisual de conteúdo independente, criada em 1994, e que ao longo de sua trajetória, privilegiou em projetos de longas, documentários, séries e curtas, a abordagem e registro da pluralidade cultural e da sociedade brasileira, seja em ficção ou não ficção. Entre as recentes realizações, destacamos a série de ficção Submersos” (13 episódios / Paramount Brasil), as duas temporadas da série documental “Visceral Brasil, As Veias Abertas da Música” (26 episódios / Canal Curta / TV Brasil), o longa doc em coprodução com Portugal, filmado no recôncavo baiano, “Sobre Sonhos e Liberdade”, as duas temporadas da série “Invenções da Alma – Arte Popular Brasileira” (26 episódios, canal Arte 1), a série de documentários sobre permacultura “Juntos” (13 episódios / Curta), o longa de ficção “Lua em Sagitário” (Coprodução com Argentina – Prêmio Ibermedia / Canal Brasil), o documentário (longa) “A Maravilha do Século” (CineBrasilTV), o documentário (longa) “Terra Cabocla” (edital FCC/SC / Canal Brasil), o longa doc “Maracana? – Templo das Emoc?o?es” (Coprodução com Alemanha). Muito em breve, a Plural Filmes lança o documentário (longa) “Bravos Valentes – Vaqueiros do Brasil” (Coprodução com Globo Filmes e GloboNews) – registro de um dos mais antigos ofícios brasileiros, a profissão de vaqueiro, filmado em Pernambuco, Ilha do Marajó (Pará), Pantanal Sul e Pampas Gaúchos, a série “Floresta, Onde a Terra Respira”, 13 episódios sobre populações que vivem nas e das florestas brasileiras (CineBrasilTV), o documentário (longa) “Lupicínio, Nervos de Aço” (Canal Curta) e o longa de ficção “A Alegria do Amor” (Downtown). Recentemente, fomos contemplados com o edital da FCC/SC para realização de um novo filme documentário, “A Luta da Erva”, que será narrado em língua Guarani e abordará a cultura ancestral da erva mate no sul do Brasil.
Ficha Técnica
Direção – Ralf Tambke
Pesquisa, roteiro e produção – Marcia Paraiso
Produção Executiva – Helio Levcovitz e Ralf Tambke
Narração – José Paes de Lira (Lirinha)
Trilha sonora original – Roberto Corrêa
Interpretação – Roberto Corrêa ( viola-de-samba (machete), viola de cantoria, viola caipira, viola de cocho e violão) e Cecília Aprigliano (viola de gamba baixo)
Direção de fotografia – Anderson Capuano e Ralf Tambke
Câmera – Pedro Marroig, Anderson Capuano e Ralf Tambke
Som direto – Gustavo Andrade
Montagem – Nara Hailer
Imagens aéreas – Silvio Marchetto
Edição de som – Leonardo Queyroi Machado (em memória) – Leandro Cordeiro
Mixagem de som – Leandro Cordeiro, Guy Wenger / Cool Tunes
Colorista – Paulo Carou
Finalização – Link digital
Arte – Ciro Fernandes (xilogravura) e Bady Cartier (design gráfico)
Produção – Plural Filmes
Coprodução – Globo Filmes e GloboNews
Distribuição TV Fechada e Streaming – Boulevard Filmes
Distribuição Cinemas – Plural Filmes
Assessoria de Imprensa – Linete Martins e Luiza Machado
Globo Filmes – GloboNews
A associação entre a GloboNews e a Globo Filmes tem entre seus principais objetivos formar plateias para o documentário e, em consequência, ampliar o consumo desses filmes nas salas de cinema. A parceria tem contribuído para um importante estímulo ao documentário no Brasil, onde o gênero ainda tem pouca visibilidade quando comparado aos demais países. A iniciativa visa o fortalecimento e a promoção dentro do mercado audiovisual brasileiro, através da coprodução e da exibição desses longas.
O projeto completa sete anos em 2021 e a parceria estimula a criação de longas-metragens que, após a exibição nas salas de cinema, vão ao ar na emissora. Ao longo desse período, os filmes foram vistos por mais de seis milhões de pessoas no canal por assinatura e o alcance médio das produções foi de 450 mil telespectadores por exibição.
Foram lançados filmes como Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, escolhido para representar o Brasil na busca por uma indicação ao Oscar 2021 na categoria Melhor Filme Internacional e premiado como melhor documentário sobre cinema da Venice Classics, mostra paralela do 76º Festival de Veneza em 2019, Cidades Fantasmas e Cine Marrocos, vencedores respectivamente do Festival É Tudo Verdade 2017 e 2019 Slam: Voz de Levante e Pitanga, premiados respectivamente nos Festivais do Rio e de Tiradentes em 2017, e A Corrida do Doping – até o momento, o filme mais visto na faixa da GloboNews.
Outros destaques foram o longa coletivo 5 x Chico – O Velho e Sua Gente, sobre comunidades banhadas pelo Rio São Francisco, selecionado para quatro festivais internacionais na França; Tim Lopes – Histórias de Arcanjo, sobre a trajetória do jornalista morto em 2002; Betinho – A Esperança Equilibrista, que narra a vida do sociólogo Herbert de Souza, Menino 23, que acompanha a investigação do historiador Sidney Aguilar a partir da descoberta de tijolos marcados com suásticas nazistas em uma fazenda no interior de São Paulo, ambos vencedores do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2016 e 2017, respectivamente; Setenta, de Emília Silveira, sobre a militância política nos anos 1970, que recebeu dois prêmios no 8º Festival Aruanda (Paraíba), incluindo o de Melhor Filme pelo júri popular; e o premiado Meu nome é Jacque, de Angela Zoé, que enfoca a diversidade sexual a partir da experiência da transexual Jacqueline Rocha Cortês, eleito o Melhor Longa Nacional pelo júri do Rio Festival de Gênero & Sexualidade no Cinema 2016.
Em 2021, são mais de 30 filmes em produção, envolvendo mais de 30 produtoras de diferentes regiões do país, ajudando a fomentar o mercado.
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