Quando se analisa um fenômeno político a última coisa que se faz é levar em conta aquilo que ele diz de si mesmo, senão poderia chegar-se ao absurdo abaixo da crítica, por exemplo, de afirmar que nazismo é de esquerda, afinal, o nazismo se dizia “nacional-socialista”. De outro lado, analisar o fascismo pelo que ele diz de si mesmo levaria ao engano de acreditar que o fascismo italiano, o nazismo alemão ou o integralismo brasileiro são totalmente diferentes entre si.
Deve-se, sim, verificar quais as classes e seus interesses que compõem tal fenômeno, ou seja, qual a direção do movimento. A partir dessa análise, conclui-se facilmente que fascismo, nazismo e integralismo podem se reduzir a características comuns entre si. Quais sejam: são movimentos de massas da pequena burguesia, sob comando do grande capital financeiro, contra a classe operária, embora arrastem setores amplos de trabalhadores. Diante do perigo da revolução proletária, a burguesia entrega parte de seu poder à pequena burguesia, para não perder todo o poder. Seu objetivo é destruir completamente a organização independente da classe operária, seja ela sindical ou político-partidária. Assim é que vemos os fascistas antes de chegarem ao poder destruir sindicatos, agredir seus membros e líderes, atacar sedes de partidos de esquerda, destruir suas gráficas etc. E, com o poder adquirido, recriar, quando muito, sindicatos totalmente atrelados e subordinados ao Estado.
Portanto, o fascismo é uma opção violenta, ou seja, de crise, contra o comunismo, em tempos em que a democracia e seus métodos de repressão militar “normais” não conseguem mais conter o domínio pacífico da classe operária.
Desse modo, quando, em 2013, a virulenta agressão policial, ao invés de debandar o movimento pelo passe-livre, aumentou “n” vezes seu número, foi preciso recorrer ao movimento de massas da pequena burguesia para sufocá-lo nas ruas. Assim, um movimento de esquerda, por reivindicações de interesse dos trabalhadores, foi sequestrado por pautas moralistas, como a de contra a corrupção, para fins eleitorais. Enquanto isso, por dentro das manifestações, fascistas atacavam com violência militantes de esquerda e suas bandeiras vermelhas. O fascismo sempre usou a campanha contra a corrupção, em todos os momentos de seu florescimento na história.
As eleições de 2014 mostraram que pelas vias eleitorais normais a direita e a extrema-direita não conseguirão mais se impor e colocar em prática os interesses imperialistas de privatizar todo o patrimônio público que resta ao país. Ou seja, um programa neoliberal radical. Radicalmente contra a classe operária, contra os direitos trabalhistas (a regulamentação da terceirização aponta nessa direção) e contra os direitos sociais: contra a educação pública, contra a saúde pública, e por ai afora. Programa este que para ser implementado deve destruir toda a organização operária, retirar todos os direitos políticos dos trabalhadores, afinal, estes de modo algum aceitarão de bom grado uma política de terra arrasada como esta.
Para se impor, é preciso, no entanto, de um golpe de estado, derrubar o PT pela força, criminalizá-lo. As manifestações de 15/3 e 12/4 são, nesse sentido, mobilizações de massas fascistas para criar as condições políticas para isto.
Alguns setores dizem que essas duas manifestações não são fascistas, mas liberais, pois a suposta maioria de seus membros ( dos Estudantes pela Liberdade, Movimento Brasil Livre, Vem para Rua, e afins) seriam pelo “Estado mínimo” e pró-imperialistas. Eles não seriam, portanto, fascistas aos moldes de Hitler e Mussolini, que teriam uma política estatizante e nacionalista, mas isso é um engodo.
Entretanto, as manifestações não deixam de ser a reunião de uma massa da pequena burguesia financiada pelo grande capital financeiro contra a classe operária. As ligações das organizações acima citadas com o capital financeiro já estão escancaradas. Se o interesse do imperialismo é impor o neoliberalismo; este, a despeito do que diz sua teoria, não poderá prescindir de um estado fascista para esmagar a luta dos trabalhadores. Assim, como já ocorreu no Chile, na década de 70, em que Pinochet garantia com suas botas a implementação da política neoliberal de um dos papas do neoliberalismo, Milton Friedman.
Logo, a frente única entre declarados fascistas, nazistas e integralistas, supostamente nacionalistas, e neoliberais se esclarece. Os primeiros farão o trabalho sujo, enquanto os segundos governarão. E sempre é assim, o fascismo é um aríete na mão do grande capital financeiro. Após chegarem ao poder, as massas fascistas são retiradas de cena. Exemplo disso foi a conhecida “noite das facas longas” em que Hitler executou dezenas de líderes da SA, conhecidos como os camisas pardas, organização paramilitar que garantiu a sua subida ao poder e ansiava em governar.
Fonte: O Homem Livre